terça-feira, 1 de junho de 2021

Ricardo Noblat - A palavra final sobre a Copa América no Brasil será de Lewandowski

- Blog do Noblat / Metrópoles

Em meio a uma pandemia que matou mais de 460 mil pessoas, infectando 16,5 milhões, Bolsonaro quer futebol para distrair

anúncio que a Copa América, um torneio caça-níquel, será realizada no Brasil, este ano, não foi “coisa para a internet”, como disse o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, para justificar arroubos do presidente Jair Bolsonaro e decisões que o mandatário toma e volta atrás no momento seguinte.

De vez que a Argentina e a Colômbia recusaram-se a sediar o evento, o presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol telefonou para o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, que telefonou para Bolsonaro, que em 10 minutos comprou a ideia, acionou ministros e deixou vazar a informação.

Não contava, porém, com o tamanho da onda negativa que se levantaria contra ele nas redes sociais, na mídia em geral e dentro do Congresso. Como realizar um evento desse porte em um país à espera do recrudescimento da pandemia que matou até agora mais de 462 mil pessoas, infectando 16,5 milhões?

Maio chegou ao fim como o terceiro mês mais mortal desde o aparecimento do vírus em março do ano passado. Abril último foi o mês com o maior número de mortos pela Covid-19 – 82.401. Menos de 22% da população foi vacinada com a primeira dose, e com a segunda apenas 10,48%. É hora de promover um torneio?

Brasileiro não é bem-vindo à maioria dos outros países porque somos vice-campeão mundial em número de mortos pelo vírus, e estamos mal colocados no ranking dos países que mais vacinam. Por que imaginar que estrangeiros viriam para cá em quantidade tal capaz de resultar em uma injeção expressiva de receita?

Se dependesse de Bolsonaro, o distinto público seria admitido nos estádios para que a festa fosse completa. Natural que em torno dos estádios as multidões se formassem, provocando maior circulação de dinheiro e alimentando a economia informal, a que mais precisa. Tudo de bom, então, lhe seria creditado.

E de mal? Ora, dinheiro aplicado na veia dos mais pobres é o mais eficiente antídoto contra os ataques que ele poderia sofrer. Que ficasse com a oposição ao seu governo o ônus de ser contra a alegria que o futebol proporciona aos brasileiros. Bolsonaro sairia no lucro. E o lucro seria ainda maior se… Isso ele jamais diria.

É legítima a suspeita de que Bolsonaro queira a Copa América para ajudar o avanço do vírus. O pilar que sustenta a teoria da imunização do rebanho, defendida por ele como meio de frear a pandemia, é justamente este: se 70% ou mais da população contrair a doença, a contaminação começará a ceder sozinha.

Também é legítima a suspeita de que, com a Copa, ele enxergue uma oportunidade de dar mais uma fustigada no Grupo Globo, beneficiando diretamente a rede de emissoras de Silvio Santos, que faz parte do Sistema Bolsonarista de Televisão (SBT) e detém com exclusividade os direitos de transmissão dos jogos.

Fábio Faria, ministro das Comunicações, é genro de Silvio. Quem poderia reclamar da compra pelo governo de cotas de publicidade de um evento destinado a atrair grande audiência? Disso se encarregariam as empresas estatais, ou se encarregarão se, de fato, o Brasil sediar a Copa América.

O que estava certo, ou parecia certo, sofreu forte abalo depois que o general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Casa Civil, comentou nessa segunda (31/5) que a decisão final a respeito só sairá hoje. Governadores disseram que não haverá jogos em seus Estados. Partidos entraram com ações no Supremo Tribunal Federal.

As ações serão julgadas pelo ministro Ricardo Lewandowski, o relator, ali, de tudo o que tem a ver com a pandemia. A última palavra será dele, não de Bolsonaro. Se ele disser não, a Bolsonaro restará cumprir a decisão, e repetir que seu direito a governar está sendo tolhido mais uma vez pela justiça.

Chegou a vez dos senadores cobrarem seu preço ao governo

Por trás da aprovação de projetos de crédito suplementar, a esperança dos senadores em arrancar dinheiro do governo para obras que os ajudem

O Senado, hoje, deve votar uma porção de projetos de crédito suplementar. Nada que devesse provocar grandes emoções entre os senadores, não fosse o fato de que…

De que haverá muito dinheiro em jogo, e parte a ser destinado a reforçar o orçamento do Ministério do Desenvolvimento Regional. Ali está depositada a esperança de senadores em se reeleger.

Arthur Lira (PP-AL), o presidente da Câmara, é o pai do chamado orçamento secreto que beneficiou centenas de deputados capazes de trocar votos por obras em seus redutos eleitorais.

Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, não quer ser menos forte no seu pedaço do que Lira é no dele. Condicionou a aprovação da venda da Eletrobras a mais grana para seus pares.

A Câmara já aprovou o projeto de privatização da Eletrobras carregado de jabutis introduzidos no escurinho das votações. Agora será a vez do Senado, e para isso… Nada sai de graça.

Pacheco conta com a ajuda dos senadores Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Congresso, e Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado, para que tudo corra bem.

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