- Blog do Noblat / Metrópoles
Em meio a uma pandemia que matou mais de
460 mil pessoas, infectando 16,5 milhões, Bolsonaro quer futebol para distrair
O anúncio que a Copa América, um torneio caça-níquel, será
realizada no Brasil, este ano, não foi “coisa para a internet”, como disse
o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, para justificar arroubos do
presidente Jair Bolsonaro e decisões que o mandatário toma e
volta atrás no momento seguinte.
De vez que a Argentina e a Colômbia
recusaram-se a sediar o evento, o presidente da Confederação Sul-Americana de
Futebol telefonou para o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, que
telefonou para Bolsonaro, que em 10 minutos comprou a ideia, acionou ministros
e deixou vazar a informação.
Não contava, porém, com o tamanho da onda negativa que se levantaria contra ele nas redes sociais, na mídia em geral e dentro do Congresso. Como realizar um evento desse porte em um país à espera do recrudescimento da pandemia que matou até agora mais de 462 mil pessoas, infectando 16,5 milhões?
Maio chegou ao fim como o terceiro mês mais mortal desde o aparecimento do vírus
em março do ano passado. Abril último foi o mês com o maior número de mortos
pela Covid-19 – 82.401. Menos de 22% da população foi vacinada com a primeira
dose, e com a segunda apenas 10,48%. É hora de promover um torneio?
Brasileiro não é bem-vindo à maioria dos
outros países porque somos vice-campeão mundial em número de mortos pelo vírus,
e estamos mal colocados no ranking dos países que mais vacinam. Por que
imaginar que estrangeiros viriam para cá em quantidade tal capaz de resultar em
uma injeção expressiva de receita?
Se dependesse de Bolsonaro, o distinto
público seria admitido nos estádios para que a festa fosse completa. Natural
que em torno dos estádios as multidões se formassem, provocando maior
circulação de dinheiro e alimentando a economia informal, a que mais precisa.
Tudo de bom, então, lhe seria creditado.
E de mal? Ora, dinheiro aplicado na veia
dos mais pobres é o mais eficiente antídoto contra os ataques que ele poderia
sofrer. Que ficasse com a oposição ao seu governo o ônus de ser contra a
alegria que o futebol proporciona aos brasileiros. Bolsonaro sairia no lucro. E
o lucro seria ainda maior se… Isso ele jamais diria.
É legítima a suspeita de que Bolsonaro
queira a Copa América para ajudar o avanço do vírus. O pilar que sustenta a
teoria da imunização do rebanho, defendida por ele como meio de frear
a pandemia, é justamente este: se 70% ou mais da população contrair a doença, a
contaminação começará a ceder sozinha.
Também é legítima a suspeita de que, com a
Copa, ele enxergue uma oportunidade de dar mais uma fustigada no Grupo Globo,
beneficiando diretamente a rede de emissoras de Silvio Santos, que faz parte do
Sistema Bolsonarista de Televisão (SBT) e detém com exclusividade os direitos
de transmissão dos jogos.
Fábio Faria, ministro das Comunicações, é
genro de Silvio. Quem poderia reclamar da compra pelo governo de cotas de
publicidade de um evento destinado a atrair grande audiência? Disso se
encarregariam as empresas estatais, ou se encarregarão se, de fato, o Brasil
sediar a Copa América.
O que estava certo, ou parecia certo,
sofreu forte abalo depois que o general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Casa
Civil, comentou nessa segunda (31/5) que a decisão final a respeito só sairá hoje. Governadores
disseram que não haverá jogos em seus Estados. Partidos entraram com ações no
Supremo Tribunal Federal.
As ações serão julgadas pelo ministro Ricardo
Lewandowski, o relator, ali, de tudo o que tem a ver com a pandemia. A última
palavra será dele, não de Bolsonaro. Se ele disser não, a Bolsonaro restará
cumprir a decisão, e repetir que seu direito a governar está sendo tolhido mais
uma vez pela justiça.
Chegou a vez dos senadores cobrarem seu
preço ao governo
Por trás da aprovação de projetos de
crédito suplementar, a esperança dos senadores em arrancar dinheiro do governo
para obras que os ajudem
O Senado, hoje, deve votar uma porção de
projetos de crédito suplementar. Nada que devesse provocar grandes emoções
entre os senadores, não fosse o fato de que…
De que haverá muito dinheiro em jogo, e
parte a ser destinado a reforçar o orçamento do Ministério do Desenvolvimento
Regional. Ali está depositada a esperança de senadores em se reeleger.
Arthur Lira (PP-AL), o presidente da
Câmara, é o pai do chamado orçamento secreto que beneficiou centenas de deputados
capazes de trocar votos por obras em seus redutos eleitorais.
Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do
Senado, não quer ser menos forte no seu pedaço do que Lira é no dele.
Condicionou a aprovação da venda da Eletrobras a mais grana para seus pares.
A Câmara já aprovou o projeto de
privatização da Eletrobras carregado de jabutis introduzidos no escurinho das
votações. Agora será a vez do Senado, e para isso… Nada sai de graça.
Pacheco conta com a ajuda dos senadores Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Congresso, e Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado, para que tudo corra bem.
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