terça-feira, 1 de junho de 2021

Alvaro Costa e Silva -Vacina e impeachment

- Folha de S. Paulo

Oposição nas ruas em meio à pandemia recupera território da extrema direita

Com a popularidade em queda e tendo pesadelos e alucinações com Lula, Bolsonaro queimou a largada para 2022. Na semana passada, deixou Brasília entregue ao gabinete paralelo que cuida do enfrentamento da Covid e agora da realização da Copa América para cumprir agenda oficial em São Gabriel da Cachoeira (AM). Inaugurou uma ponte de madeira de 18 metros de comprimento e 6 metros de largura, pinguela sobre um igarapé, numa estrada de terra pouco usada.

Em outro ato de campanha, promoveu aquele desfile de motos a favor do vírus na orla do Rio —algo tão macabro que teve efeito reverso. Bolsonaro conseguiu o que parecia improvável em meio à pandemia. Fazer com que a oposição, em resposta, saísse às ruas, território que até então era exclusivo da extrema direita com suas pautas antidemocráticas.

O outro lado decidiu mostrar a cara. Usando máscara e, impossível de outra maneira, aglomerando-se. Quem esteve nas manifestações deste sábado (29) gritou duas palavras de ordem: vacina e impeachment. Os discursos e cartazes se apoiavam no argumento de que vale a pena arriscar a vida para salvar a vida de outras pessoas.

Arriscar-se duplamente. No Recife, a Polícia Militar, agindo por conta própria, reprimiu os protestos com bombas de gás e balas de borracha —dois homens, atingidos por estas, perderam a visão de um olho. No Rio, a PM se comportou com delicadeza. O governador Cláudio Castro destinou enorme aparato para proteger Bolsonaro e quem estava ali para apoiá-lo —como o aloprado general Pazuello.

E, naturalmente, a CPI da Covid se transformou em palanque. Pegue-se o depoimento da capitã Cloroquina, digo, a médica Mayra Pinheiro, secretária de Gestão e Trabalho no Ministério da Saúde. Foi um festival de fraude e desinformação —peça digna dos melhores marqueteiros. Uma prévia daquilo que você irá ouvir no período eleitoral.

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