- O Estado de S. Paulo
Este é um momento decisivo. Nunca foi tão
importante investir na formação da juventude
“Adolescente,
olha! A vida é bela! A vida é bela... e anda nua... Vestida apenas com o teu
desejo.” O alerta poético de Mario Quintana aos jovens sobre a importância do
desejo na construção da vida merece um olhar atualizado dos que tornam viável
um dos mais decisivos meios para a efetivação dos sonhos da juventude, a
educação.
Nesse sentido, é preciso que o País abra
espaço e avance de forma efetiva na seara da educação profissional e tecnológica,
uma estratégica oportunidade a mais que se deve somar às possibilidades de
construção do futuro de nossas atuais e próximas gerações de brasileiras e
brasileiros. A revolução que testemunhamos no paradigma produtivo oferta
novidades e oportunidades à formação profissional e, em consequência, ao mundo
do emprego e da renda. Mas essas possibilidades, que ecoam tanto no campo da
demanda por mão de obra atualizada quanto no universo desejante dos mais novos,
ainda não encontram suficiente acolhida no nosso sistema educacional.
Os dados sobre educação e juventude no Brasil são alarmantes: apenas 20% da população de 18 a 24 anos cursam o ensino superior. O restante, sem qualificação, ocupa postos precários ou engrossa as estatísticas de desemprego, que chega a 30% nessa faixa etária, o dobro da média geral. A pandemia agravou o quadro, levando 4 milhões a abandonar os estudos no ano passado. De acordo com o Datafolha, dos que estavam no ensino médio, 26% não têm intenção de voltar. A evasão mais que dobrou no período, passando de 4,8% a 10,8%.
É um enorme potencial desperdiçado, sem
falar no massacre de planos de vida sufocados ainda no nascedouro. Não é
possível pensar em projeto de País sem incluir a juventude, transformando seus
sonhos em oportunidades e sua força em emprego, renda e prosperidade. A hora de
agir é agora. Pelas previsões do Fórum Econômico Mundial, se começarmos a
investir hoje na formação e requalificação da força de trabalho, podemos gerar
um ganho de 7% no PIB até 2030.
A educação, política pública mais
abrangente para a juventude, precisa ter papel central em qualquer plano de
reconstrução nacional. Urge combater a evasão e conceber formações que façam
sentido para os projetos dos jovens. Segundo o Relatório de
Competitividade Global, uma das principais frentes para a retomada econômica
nos países é a atualização de currículos escolares e a expansão de investimento
em competências demandadas pelo futuro do trabalho. O Brasil larga atrás nessa
corrida: em comparação com 37 nações, ocupamos a penúltima posição, à frente
apenas da Grécia.
As mudanças tecnológicas exigem reinvenção
inadiável do nosso modelo educacional. A recém-aprovada reforma do ensino médio
é uma oportunidade que não pode ser desperdiçada. A educação profissional e
técnica tem papel central na preparação da juventude para o ingresso no mundo
do trabalho, seja em empregos formais ou iniciativas autônomas, cada vez mais
comuns no cenário da economia criativa.
Os Estados brasileiros precisam estar
atentos, pois 84% das matrículas do ensino médio estão em suas redes. À frente
do governo do Espírito Santo, conduzimos uma ampliação continuada da educação
técnica. Entre 2004 e 2007, por exemplo, aumentamos quase três vezes o total de
matrículas, incrementando a participação do ensino profissionalizante de 5%
para 15% no nível médio. Essa rápida expansão nos levou a superar a média
nacional e da maioria dos Estados do Sul e Sudeste. Mais que isso, trouxe
resultados concretos na distribuição de renda, com a apropriação dos benefícios
do crescimento econômico pelos egressos e suas famílias na forma de maior
empregabilidade e melhores salários.
Novas tecnologias, inteligência
artificial, big data, automação e indústria 4.0. Pensar a educação para o
novo tempo que já estamos vivendo exige esforço integrado. Governos devem
facilitar um sistema de colaboração entre as diversas redes de formação e
organizar o campo da educação técnica nos Estados com o fomento ao ensino médio
público, inclusivo por natureza. Além disso, é preciso firmar parcerias com
instituições brasileiras que tenham propostas testadas e bem-sucedidas – em que
o jovem ocupa o centro de suas preocupações – e se mobilizam para apoiar as
mudanças em curso, como têm feito o Itaú Educação e Trabalho e o Instituto
Natura.
Este é um momento decisivo. A partir deste
ano, os Estados terão mais dinheiro para implementar a educação profissional de
nível médio. A recente regulamentação do Fundeb, em especial o reconhecimento
da dupla matrícula (financiamento em dobro para instituições com estudantes
cursando o médio e o técnico), aporta novos recursos e fortalece a educação
profissionalizante nas redes públicas de ensino.
Em tempos de intensas e continuadas
transformações tecnológicas, com repercussão em todos os âmbitos da vida atual,
além da urgência na constituição de novas bases para uma retomada nacional,
nunca foi tão importante investir na formação da juventude. O Brasil precisa
ampliar e qualificar as condições para que nossos jovens possam vestir o futuro
com as cores e a beleza dos seus desejos e, assim, ajudar a construir um outro
País, inclusivo, sustentável e justo.
*Economista, presidente executivo da IBÁ, é membro do Conselho do Todos Pela Educação
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