- Folha de S. Paulo
Parece-me precipitado contar com um
Bolsonaro exangue em 2022
Os protestos de sábado não disseram nada
que já não soubéssemos pelas pesquisas: hoje a maioria dos brasileiros desaprova o
governo de Jair Bolsonaro. Mas, como certas pessoas são incapazes de
entender um texto se ele não estiver acompanhado de um desenho, as
manifestações tiveram papel didático.
Dado, porém, que a epidemia não foi embora
e há sinais de que irá agravar-se nas próximas semanas, sugiro aos
organizadores que, para as próximas edições, adotem a greve geral como forma de
protesto. Ela tem longa tradição nas esquerdas e contribuiria para restringir a
circulação do vírus em vez de ampliá-la.
A grande questão diante das oposições é se vale a pena insistir no impeachment de Bolsonaro ou se é melhor enfrentá-lo nas urnas. Lula pode até dizer que defende o afastamento, mas sua chance de voltar ao Planalto é numa disputa contra Bolsonaro. Sem o fantasma do capitão reformado, a alta rejeição do líder petista volta a dar as cartas.
A ideia de deixar Bolsonaro sangrando e
expulsá-lo "manu electore" no ano que vem parece tentadora, mas não é
isenta de riscos. Os tucanos apostaram nessa estratégia contra Lula em 2005,
quando o petista estava enredado no mensalão, mas a economia o socorreu e ele
foi reeleito sem dificuldades em 2006.
Não dá para excluir um cenário semelhante em relação a Bolsonaro. Vivemos agora
o que deve ser o pior momento do atual governo. Acabamos de passar por uma
segunda onda de Covid-19 particularmente mortífera e temos uma CPI que põe
diariamente em evidência os descalabros do presidente.
A menos, porém, que o vírus nos reserve
mais surpresas letais, a situação deverá estar melhor a partir do segundo
semestre, devido ao avanço da vacinação e à imunidade dos recuperados. A
economia, apesar da inflação e do desemprego, vem surpreendendo positivamente.
Em suma, parece-me precipitado contar com
um Bolsonaro exangue em 2022.
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