- Metrópoles
Duas notícias vão agravar ainda mais essa
crise, uma em julho e outra em setembro.
Quase meio milhão de pessoas foram às ruas
no sábado, dia 29 de maio, e acrescentaram mais um ingrediente a uma crise que
vem crescendo faz tempo. Cabe lembrar que essas pessoas ainda não estão totalmente
vacinadas, ainda sentem medo de se aglomerar e ficam receosas de ir às ruas.
Mas mesmo assim foram protestar contra o presidente.
Bolsonaro vem, de pouco a pouco, perdendo o
controle de áreas do governo.
Primeiro, na Polícia Federal, houve a insurgência de um delegado, superintendente da PF no Amazonas, contra o ministro do Meio Ambiente.
Esse delegado foi afastado, mas depois, sem que o diretor-geral da Polícia Federal e que o procurador-geral da República, Augusto Aras, aliado de Bolsonaro, fossem avisados, a PF pediu a Alexandre de Moraes, que deu a ordem para uma operação de busca e apreensão contra Ricardo Salles.
A Polícia Federal, como diversos outros
órgãos do governo, é formada por grupos políticos.
Dentro, tem grupos pró-Bolsonaro, ligados
aos tucanos, aos petistas, a Michel Temer e vários outros.
Quando o presidente perde o controle de um
desses grupos, significa que essas pessoas estão sentindo uma troca de poder no
ar, têm uma perspectiva de que haverá mudança.
Isso significa que alguém da terceira via
vai ser eleito? Significa que o Lula irá derrotar o Bolsonaro? Não
necessariamente.
Contudo, hoje é muito concreta a
possibilidade da derrota do presidente no ano que vem.
E essas pessoas começam a se movimentar
tendo em vista a possibilidade de troca no poder em 2023.
A operação foi instrumentalizada? Não
necessariamente, de novo, mas é um indício de que o presidente tenha sido
atropelado.
No Congresso, o governo também não está
livre de problemas. No Senado, o presidente perdeu totalmente o controle da
CPI. Por enquanto, ainda resta algum apoio de Omar Aziz, mas que não é garantia
de nada para o governo.
É possível ver, em diferentes áreas,
pessoas se movimentando dentro do governo, pensando na possibilidade de uma
candidatura e se ficam ou não na base governista.
E duas notícias vão agravar ainda mais essa
crise.
A primeira é em julho. Daqui até lá o
presidente precisa indicar um substituto para Marco Aurélio Mello, que se
aposenta do Supremo.
Quando Bolsonaro fizer essa indicação, ele
vai perder seu maior trunfo junto ao Judiciário. É essa vaga que o presidente
abana, como uma cenourinha, para que ministros do STJ, desembargadores e a
estrutura do Judiciário como um todo, defendam seus interesses, poupem Flávio
Bolsonaro e dêem decisões favoráveis, na expectativa ou de serem indicados ou
de verem algum dos seus receberem a indicação ao Supremo.
Em setembro, haverá outra notícia ruim.
Bolsonaro precisa decidir se reconduz ou se indica outro Procurador Geral da
República, ou seja, se reconduz o Augusto Aras ou se indica outro PGR.
É nesse momento que o presidente pode
descobrir que Augusto Aras não necessariamente é seu aliado, mas, sim, é um
aliado de ocasião.
Se, uma vez reconduzido, Aras perceber que
vai haver uma troca de poder, que Bolsonaro não será presidente a partir de
2023, provavelmente irá começar a se desvencilhar da figura de Bolsonaro.
A meta de Augusto Aras é chegar ao STF.
Então, como só são possíveis dois mandatos na PGR, ele precisa ficar bem com o
próximo presidente, seja o Bolsonaro, seja outro qualquer.
O presidente vai precisar de sorte.
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