O Globo
Jair
Bolsonaro xingou um ministro do Supremo, espalhou mentiras sobre o voto
eletrônico e ameaçou melar a eleição de 2022. Como prêmio pelo mau comportamento,
foi convidado para um cafezinho com o presidente do tribunal.
No
encontro a portas fechadas, o ministro Luiz Fux pediu ao capitão que seja mais
gentil e pare de pregar o golpe dia sim, outro também. A iniciativa lembrou seu
antecessor Dias Toffoli, que costumava reagir a ataques ao Supremo com
conversas ao pé do ouvido e pizzas dominicais.
É improvável que o apelo de Fux produza efeito. Em entrevista após a reunião, o capitão chegou a ensaiar um figurino mais manso. Em seguida, voltou ao de sempre: repetiu um palavrão contra a CPI da Covid, chamou os senadores de “patetas” e acusou o ministro Luís Roberto Barroso, seu alvo da vez, de fazer “ativismo”.
Ele
também disse que a população “não acredita nesse voto eletrônico que está aí” e
insistiu na mentira de que as eleições de 2014 foram roubadas. Ao ouvir uma
pergunta incômoda, irritou-se e ameaçou ir embora. Depois recitou o Pai Nosso
diante dos repórteres.
Fux
anunciou uma reunião entre os chefes dos três Poderes para “fixarmos balizas
sólidas para a democracia brasileira”. Essas balizas já existem e estão fixadas
na Constituição. Ela afirma que comete crime de responsabilidade, passível de
impeachment, o presidente que atentar contra o livre exercício do Legislativo e
do Judiciário.
Bolsonaro
é investigado por suspeita de prevaricação em inquérito que corre no Supremo.
Como podem vir a julgá-lo, os ministros não deveriam passar a mão em sua cabeça
ou tratá-lo como um menino mimado. Entre as atribuições do presidente da Corte,
não está a de atuar como conciliador-geral da República.
Deus acima de todos
Bolsonaro confirmou a indicação ao Supremo de André Mendonça, seu ministro “terrivelmente evangélico”. Se for aprovado pelo Senado, ele ficará no tribunal até 2047. Nos tuítes de agradecimento, o pastor citou Deus duas vezes. A Constituição, uma só.
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