quarta-feira, 14 de julho de 2021

Bernardo Mello Franco – Cafezinho no Supremo

O Globo

Jair Bolsonaro xingou um ministro do Supremo, espalhou mentiras sobre o voto eletrônico e ameaçou melar a eleição de 2022. Como prêmio pelo mau comportamento, foi convidado para um cafezinho com o presidente do tribunal.

No encontro a portas fechadas, o ministro Luiz Fux pediu ao capitão que seja mais gentil e pare de pregar o golpe dia sim, outro também. A iniciativa lembrou seu antecessor Dias Toffoli, que costumava reagir a ataques ao Supremo com conversas ao pé do ouvido e pizzas dominicais.

É improvável que o apelo de Fux produza efeito. Em entrevista após a reunião, o capitão chegou a ensaiar um figurino mais manso. Em seguida, voltou ao de sempre: repetiu um palavrão contra a CPI da Covid, chamou os senadores de “patetas” e acusou o ministro Luís Roberto Barroso, seu alvo da vez, de fazer “ativismo”.

Ele também disse que a população “não acredita nesse voto eletrônico que está aí” e insistiu na mentira de que as eleições de 2014 foram roubadas. Ao ouvir uma pergunta incômoda, irritou-se e ameaçou ir embora. Depois recitou o Pai Nosso diante dos repórteres.

Fux anunciou uma reunião entre os chefes dos três Poderes para “fixarmos balizas sólidas para a democracia brasileira”. Essas balizas já existem e estão fixadas na Constituição. Ela afirma que comete crime de responsabilidade, passível de impeachment, o presidente que atentar contra o livre exercício do Legislativo e do Judiciário.

Bolsonaro é investigado por suspeita de prevaricação em inquérito que corre no Supremo. Como podem vir a julgá-lo, os ministros não deveriam passar a mão em sua cabeça ou tratá-lo como um menino mimado. Entre as atribuições do presidente da Corte, não está a de atuar como conciliador-geral da República.

Deus acima de todos

Bolsonaro confirmou a indicação ao Supremo de André Mendonça, seu ministro “terrivelmente evangélico”. Se for aprovado pelo Senado, ele ficará no tribunal até 2047. Nos tuítes de agradecimento, o pastor citou Deus duas vezes. A Constituição, uma só.

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