Folha de S. Paulo
Petista
abre mão de marcar posição firme em momento de erosão da democracia no Brasil
Lula
atravessou o Malecón e correu para escorregar numa casca de banana do outro
lado da avenida. Pela manhã, o ex-presidente afirmou que não entendia
o que havia "de tão especial" nos protestos
registrados em Cuba, os maiores em quase três décadas. O petista descreveu os
atos como "uma passeata" e tratou o episódio de maneira singela:
"As pessoas se manifestam".
Nem
o regime comandado por Miguel Díaz-Canel foi tão generoso na avaliação dos
protestos. O líder cubano percebeu que aquela não era só "uma passeata".
Ele chamou os manifestantes de "delinquentes", acionou a polícia,
pediu que apoiadores tomassem as ruas para neutralizar opositores e bloqueou o
acesso à internet em diferentes pontos do país.
O petista fez um esforço para ignorar a repressão oficial aos protestos e os elementos políticos que deram peso às manifestações. Lula destacou que as dificuldades enfrentadas pelo povo cubano têm o peso perverso do embargo americano à ilha, mas abriu mão de marcar uma posição firme num momento de erosão da democracia em diversos países, incluindo o Brasil.
O
ex-presidente sabe que "as pessoas" não "se
manifestam" normalmente em Cuba. A ditadura reprime atos e
monitora críticos do regime. Nos últimos dias, foram presas mais de 100 pessoas
que têm alguma relação com os protestos, segundo organizações de direitos
humanos. O próprio presidente do país disse que os manifestantes tiveram
"a resposta que mereciam".
Lula
apontou que não se viu "nenhum soldado em Cuba com o joelho em cima do
pescoço de um negro, matando ele" –como se a brutalidade policial que
assassinou George Floyd e outros americanos estabelecesse uma escala de
repressão.
Embora Cuba seja um item de expressão modesta na política externa brasileira, Lula mostra que o PT ainda trata a ilha como uma relíquia diplomática. A defesa do fim do embargo americano, peça-chave nessa agenda, poderia vir acompanhada de cobranças pela abertura do regime.
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