Aliados do governador dizem que novos integrantes do PSDB poderão votar na eleição interna que escolherá candidato do partido à Presidência. Adversários contestam e acusam paulista de inflar colégio eleitoral das primárias com liberação de recursos
Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo / O Globo
SÃO PAULO - A filiação de uma leva de 41
prefeitos paulistas tem provocado polêmica no PSDB. Aliados do governador João
Doria querem que esses novos tucanos tenham direito a voto nas prévias que
escolherão em 21 de novembro o candidato do partido à Presidência da República.
Outra ala do partido, no entanto, acha que quem aderiu à sigla recentemente não
deve participar das primárias.
Adversários de Doria ainda acusam o governo
do estado de cooptar os prefeitos com liberação de recursos para suas cidades.
Do grupo de novos filiados, pelo menos 24 anunciaram nas redes sociais nos
últimos dois meses terem sido contemplados por programas do governo estadual,
seja por meio de promessa de repasses para obras, recebimento de equipamentos
ou benefícios para seus moradores.
No último dia 14, o PSDB realizou uma cerimônia na sede do diretório de São Paulo para anunciar a chegada de 41 prefeitos e 24 vices ao partido. Desde então, o departamento jurídico nacional da legenda foi consultado diversas vezes sobre as regras de votação das prévias e a permissão de participação de políticos com cargos que se filiarem até 30 dias antes da disputa.
— A gente tem essa capacidade de filiar em
São Paulo, coisa que os outros estados não têm. E eles (prefeitos) vão poder
votar — disse o presidente do PSDB da capital paulista, Fernando Alfredo.
A resolução sobre as prévias tucanas
divulgada em julho estabelece que só poderão votar aqueles que se filiaram até
31 de maio. No entanto, o estatuto do partido abre uma brecha que poderia
permitir a participação dos que ingressarem na sigla até 30 dias antes das
primárias. A autorização, porém, teria que ser aprovada pela executiva nacional
da sigla, que não costuma se alinhar a Doria.
Em todo o país, o partido tem 946 prefeitos
e vice-prefeitos. Para adversários, ao filiar 65 novos políticos, Doria está
mudando o tamanho de um dos quatro grupos do colégio eleitoral tucano.
— Fabricar eleitor para levar vantagem não
me parece algo ético. Fica claro que há uma tentativa de ampliar a força no
colégio eleitoral — afirma o presidente do PSDB de Minas Gerais, Paulo
Abi-Aeckel, aliado do deputado Aécio Neves, rival do governador paulista.
“Normas
definidas”
Principal oponente de Doria nas prévias, o
governador gaúcho Eduardo Leite foge da polêmica, mas descarta a possibilidade
de os novos prefeitos votarem.
— As normas já foram definidas. Filiações
são válidas até o fim de maio.
Questionado se pretende reivindicar a
participação dos novos prefeitos nas prévias, o presidente do PSDB de São Paulo
e secretário de Desenvolvimento Regional da gestão Doria, Marco Vinholi, saiu
pela tangente:
— Quem define as regras é a (executiva)
nacional. Seguimos o que fazemos desde 2019, fortalecendo o PSDB — respondeu.
Além da acusação de tentar inflar o colégio eleitoral tucano com
novos integrantes que lhe seriam favoráveis, Doria viu aliados do ex-governador
Geraldo Alckmin levantarem a hipótese de que o governo paulista recorreu ao
“toma lá da cá” para cooptar novos prefeitos para o partido.
— Eles se filiam e apoiam na expectativa de
liberação de verbas. E falam: “eu vou dar verba se você vier conosco” — afirma
o ex-deputado estadual Pedro Tobias, que classifica a prática como “balcão de
negócios”.
Alckmin quer voltar a disputar o governo no
ano que vem, mas Doria pretende lançar o vice, Rodrigo Garcia, que recentemente
trocou o DEM pelo PSDB. O ex-governador deve, então, se filiar ao PSD.
Recursos públicos
Vinholi e Garcia, que também acumula a
Secretaria de Governo, articulam tanto as filiações de prefeitos ao PSDB quanto
a liberação de recursos para municípios no estado. Vinholi descarta o uso de
recursos públicos para cooptar prefeitos.
— É uma ilação irreal. O governo está
investindo mais de R$ 21 bilhões em recursos para os 645 municípios do estado,
do PT ao PSL. Os prefeitos que vêm para o PSDB querem estar no partido do
próximo presidente da República — afirma o secretário de Desenvolvimento
Regional e presidente estadual do PSDB.
O prefeito de Ibirarema, José Benedito
Camacho, o Camachinho, trocou o PSD pelo PSDB e diz que vem sendo atendido.
— Hoje o município vive de emenda
parlamentar, e os deputados e o PSD nunca me ajudaram com recursos. Então, não
tem por que eu estar no partido. E o PSDB tem me ajudado muito mais aqui.
Entrei no programa de vale-gás e de cestas básicas.
Camachinho pleiteia, agora, uma patrulha agrícola, equipamento que conta com trator e plantadeira para os pequenos agricultores.
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