Blog do Noblat / Metrópoles
Como ficarão os que se elegerem ano que vem
se o presidente, uma vez derrotado, denunciar que houve fraude?
O sonho de consumo do Centrão é um
presidente da República exangue, a mendigar apoio, disposto a ceder os anéis,
os dedos e, se for o caso, um pouco mais para não ir ao chão antes da hora.
Não lhe interessa, porém, sustentar um
presidente capaz de tocar fogo no pagode porque os pagodeiros, mesmo que o
abandonem a tempo, correrão o risco de sair chamuscados.
Apoio político é um negócio como outro
qualquer. Nada tem nada de pessoal. O acordo só é bom quando os dois lados
ganham, embora um possa ganhar mais do que o outro.
O presidente Jair Bolsonaro sabe disso.
Nasceu no Centrão e ali se criou. Prometeu a Ciro Nogueira (PP-PI), líder do
Centrão e novo chefe da Casa Civil, que se comportaria bem doravante. Mas…
Mas faltou com a palavra antes mesmo de Nogueira tomar posse. Deu mais um passo em falso ao mentir durante duas horas e pouco sobre o voto eletrônico. Assim deixou mal seus avalistas.
Pode não parecer, mas o Centrão se preocupa
com a própria imagem. Quer ser visto como um grupo de partidos responsável pela
governabilidade do país, não só por explorar governos débeis.
Há gente demais dentro do Centrão que
responde a processos. Essa gente só tem a perder quando o presidente da
República hostiliza a Justiça da qual justamente depende sua sorte.
De resto, só Bolsonaro teria alguma coisa a
ganhar, talvez a impunidade, com essa história de não reconhecer os resultados
das eleições do ano que vem uma vez que as perca.
Denunciaria como fraudulento só o resultado
da eleição presidencial, ou também os resultados para os governos de Estados,
Câmara dos Deputados e Senado? E os demais eleitos?
A indagação faz sentido, sim. O voto
eletrônico servirá para eleger a todos. Como dizer que houve fraude apenas no
voto para presidente? Ou se anula tudo ou não se anula nada.
Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara,
voltou a repetir que o projeto bolsonarista que restabelece o voto impresso não
será aprovado. E por que então Bolsonaro insiste com isso?
Porque quer estancar a sangria de votos que
o debilita. Tem de continuar falando todos os absurdos que lhe garantiram o
apoio da linha dura dos seus devotos. É ela que ainda o mantém respirando.
Vem por aí o troco da Justiça no presidente
que só faz hostilizá-la
Aqui se faz e aqui se paga. Bolsonaro não
perde por esperar
Por que justamente agora, por que somente
ontem o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ordenou à
Polícia Federal que retome a investigação sobre a interferência do presidente
Jair Bolsonaro na corporação?
A interferência foi denunciada pelo ex-juiz
Sérgio Moro ao demitir-se do cargo de ministro da Justiça. A Procuradoria-Geral
da República abriu um inquérito a respeito, mas depois concluiu que nada
aconteceu. Alexandre quer que o caso vá adiante.
Não ficará por isso mesmo os ataques semanais feitos por Bolsonaro ao Supremo, ao Tribunal Superior Eleitoral e a muitos dos seus ministros. Muito menos o seu empenho em desacreditar o sistema de votação eletrônica há 25 anos imune a fraudes.
Nesta segunda-feira, o Supremo reiniciará
suas atividades suspensas durante as férias de julho. Ninguém, ali, põe muita
fé na resposta que o ministro Luiz Fux dará ao que Bolsonaro tem dito. Fux
ainda defende um pacto entre os três poderes da República.
Noves fora Fux, porém, tramitam ações em tribunais superiores capazes de afetar interesses pessoais de Bolsonaro. Elas poderão ganhar velocidade ou produzir decisões.
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