PT, PSB e MDB estão entre as legentas que projetam uma redução de postulantes aos Executivos estaduais em relação a 2018
Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo / O Globo
SÃO PAULO - A necessidade de priorizar a
eleição para a Câmara dos Deputados, que serve como parâmetro para o cálculo
dos fundos partidário e eleitoral, deve ditar a estratégia dos partidos para
lançar candidatos aos governos estaduais na eleição do próximo ano. Legendas
como PT, PSB e MDB projetam uma redução de postulantes aos Executivos estaduais
em relação a 2018. Além de fortalecer as bancadas federais, e assim garantir
uma fatia maior de recursos, a construção de alianças para a disputa
presidencial também deve ser levada em conta.
O veto ao aumento do fundo eleitoral
aprovado pelo Congresso, prometido novamente ontem pelo presidente Jair
Bolsonaro, pode impactar diretamente a estratégia dos partidos. Ao aprovar a
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), os parlamentares elevaram de R$ 2
bilhões para R$ 5,7 bilhões o valor destinado para as legendas bancarem as
campanhas. Bolsonaro já indicou apoio a um fundo de R$ 4 bilhões. Ontem, em uma
mudança de posição, afirmou que só vai permitir a correção do valor do fundo de
2018 ( R$ 1,7 bilhão) pela inflação. Ele não explicou o período de cálculo do
aumento nem o índice que seria seguido. Se a promessa for cumprida, o valor
ficaria em torno de R$ 2,2 bilhões. Eventual veto ainda tem que ser submetido
ao Congresso, que pode derrubá-lo.
— Vou vetar tudo que exceder... Você leva em conta o que foi usado na campanha de 2018. Isso é lei. Sou obrigado a cumprir a lei. Valor “x”. Aplica a inflação de lá para cá. Será “x” mais “y”. O que exceder, vou vetar — disse o presidente à rádio 89FM, de São Paulo.
A eleição do próximo ano será a primeira
disputa federal sem possibilidade de coligação proporcional. O Congresso ainda
discute se muda o sistema de escolha dos deputados para o distritão. No entanto,
o entorno do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), avalia que a tendência
é de que a proposta não passe.
Chapa presidencial
Independentemente de mudanças nas regras e
no valor do fundo, o PT deve ter uma redução expressiva do número de candidatos
próprios. Em 2018, num período de isolamento provocado pela insistência na
candidatura de Lula mesmo diante da prisão do ex-presidente, o partido teve 16
nomes próprios nas disputas de governador. Agora, para tentar montar uma
aliança mais robusta, o total de candidatos deve ser a metade.
— A prioridade é eleição presidencial, Câmara e Senado, nessa ordem. A construção que está sendo feita é para discutirmos candidaturas ao governo onde haja necessidade de tê-las. Lançar em função da necessidade nacional da campanha do Lula ou da construção partidária — afirma o deputado José Guimarães (CE), que coordena o grupo de acompanhamento das candidaturas nos estados.
O petista ressalta que não há uma definição
concreta das candidaturas. São certos nomes do partido nas disputas da Bahia,
com Jaques Wagner; no Piauí; Rio Grande do Norte, onde Fátima Bezerra
concorrerá à reeleição; e em São Paulo.
Provável integrante da aliança de Lula, o
PSB deve reduzir de nove para três ou quatro o número de candidatos a
governador para priorizar os postulantes a deputado. O presidente da legenda,
Carlos Siqueira, quer vincular o apoio do PSB a presidente à reciprocidade nos
estados:
— O candidato que vamos apoiar para
presidente precisa estar comprometido com nossa candidatura no estado. Se o PT
lança um candidato em Pernambuco, por que vamos apoiar Lula?
Também dentro da prioridade de focar na
eleição para deputado, o MDB, que teve 14 candidatos a governador em 2018, deve
apresentar, no máximo, 12 nomes, entre eles o governador do Pará, Helder
Barbalho.
Para permitir palanques para Ciro Gomes na
disputa presidencial, o PDT pretende lançar entre seis e dez candidatos a
governador. Em 2018, foram oito.
Lógica inversa
Há, partidos, porém, que seguem uma lógica
inversa e querem expandir a participação nas disputas estaduais. É o caso do
PSD, que prevê 12 candidatos contra os sete de quatro anos atrás.
— As candidaturas majoritárias vão nos
ajudar a eleger deputados e, também, ajudar a candidatura própria a presidente
que nós teremos — diz o presidente do partido, Gilberto Kassab, se referindo à
tentativa de lançar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para
concorrer ao Palácio do Planalto.
O PSDB aguarda a definição das regras
eleitorais para traçar sua estratégia. Caso haja aumento no fundo eleitoral e
seja mantida a regra do fim das coligações proporcionais, os tucanos devem
promover um ligeiro aumento no número de candidaturas. Em 2018, foram 12. O
PSL, partido com a maior fatia do fundo eleitoral, também espera as decisões do
Congresso para traçar o seu plano para 2022.
O DEM planeja pelo menos manter o número de
candidatos a governador que teve na eleição passada: oito — um deles o
vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia.
Uma das siglas que mais crescem na Câmara
nos últimos anos, o Republicanos deve ter poucos candidatos nos estados e focar
na eleição para deputados. A legenda prevê ter, no máximo, dois nomes nas
corridas estaduais. A tática deve ser seguida por legendas do Centrão, como PP
e PL.
Mesmo fortalecido ao ocupar a presidência
da Câmara e a Casa Civil do governo Bolsonaro, o único candidato certo no PP é
o governador do Acre, Gladson Cameli, que tentará reeleição.
Já o PL deve lançar apenas dois candidatos,
como em 2018.
— A tradição do PL não é de lançar candidaturas a governador, mas de fortalecimento das bancadas — diz o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM).
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