sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Bruno Boghossian - Uma janela e uma porta

Folha de S. Paulo

A cada dia, presidente tem déficit maior de popularidade para reverter e menos tempo

O plano de Jair Bolsonaro para a reeleição tem a economia como principal variável. O governo e seus aliados tinham certeza de que a volta da atividade daria um impulso à popularidade do presidente ainda em 2021, para que ele chegasse à disputa numa posição confortável. O cenário que se desenha, porém, pode diminuir suas chances no próximo ano.

A lentidão da retomada econômica adia o início da recuperação dos números de Bolsonaro e reduz a janela da reeleição. Para piorar, o aumento do custo de vida e a manutenção do desemprego em patamares altos continuam a derrubar a popularidade do presidente. A cada dia, ele tem um déficit maior para reverter e menos tempo para a missão.

Essa corrida se torna difícil porque há incertezas sobre a eficácia das ferramentas que Bolsonaro tem em mãos. O auxílio emergencial de R$ 300, pago a 39 milhões de famílias, não conseguiu frear a queda de popularidade. O novo Auxílio Brasil, de valor ainda desconhecido, só deve chegar a 17 milhões de famílias, segundo uma estimativa do governo.

Até aqui, Bolsonaro se dedica a cuidados paliativos. Em viagens pelo país, ele diz que o desemprego é culpa dos governadores, que a conta de luz mais alta é resultado da seca e que o gás caro é efeito dos impostos estaduais e do lucro das distribuidoras. Não será simples fazer com que tanta gente lhe conceda perdão.

Analistas estimam que, para ter fôlego, Bolsonaro precisa recuperar popularidade até os primeiros meses de 2022. Se permanecer na faixa dos 25%, terá muito trabalho para virar o jogo. Caso o derretimento continue, ele pode até ficar fora do segundo turno —é pouco provável, mas não impossível.

Essas projeções também mudam os cálculos sobre outras alternativas. O enfraquecimento faria com que a hipótese de golpe fosse mais sedutora, mas com menos chances de sucesso. Já a porta do impeachment pode até ficar aberta, mas não o suficiente para atravessar a blindagem do presidente na Câmara às vésperas do ano eleitoral.

 

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