Blog do Noblat / Metrópoles
E seguirá até a próxima eleição dizendo,
sem provas, que o voto eletrônico permite fraudes
Só o deputado Arthur Lira (PP-AL),
presidente da Câmara, acreditou no que lhe disse o presidente Jair Bolsonaro
sobre aceitar pacificamente fosse qual fosse a decisão dos deputados sobre o
restabelecimento do voto impresso. Lira confundiu o que queria que acontecesse
com o que de fato poderia acontecer.
E aconteceu o que até os apontadores do
jogo do bicho da Esplanada dos Ministérios estavam cansados de saber: Bolsonaro
não se conformou. Recusou-se a admitir que foi derrotado, voltou a dizer que o
voto eletrônico é permeável a fraudes, e deixou claro que não abrirá mão do
discurso a favor do voto impresso.
Ministros do governo consideram possível
buscar um diálogo com o Tribunal Superior Eleitoral para construir uma alternativa
ao que chamam de auditoria das urnas eletrônicas. E por que não o fizeram
antes? E por que o presidente, antes de atacar ministros do Supremo Tribunal
Federal, não buscou o diálogo?
Balela! O sistema de votação eletrônica vem sendo aperfeiçoado desde que foi implantado há 25 anos, e assim continuará. Bolsonaro quer fazer do voto impresso uma espécie de antídoto contra sua eventual derrota na eleição do ano que vem. Se perder dirá que foi roubado. Se ganhar, simplesmente não dirá nada.
Ele disse que a questão do voto impresso
está aberta porque metade dos deputados votou a favor. Como de hábito, mentiu.
A Câmara tem 513 deputados. 229 votaram a favor e 218 contra. Seriam
necessários 308 votos para aprovar o voto impresso. Para alcançar essa marca, ficaram
faltando 79 votos.
Houve um momento da sessão virtual em que
495 deputados registraram presença. Na hora de votar, 64 se ausentaram e 1 se
absteve. Se os 65 tivessem votado a favor do voto impresso, ainda faltariam 14
para que fosse aprovado. E foram partidos que apoiam o governo os responsáveis
pela maioria das ausências.
Dos 41 deputados do PP de Lira e de Ciro
Nogueira, chefe da Casa Civil da presidência da República, 26,8% sumiram para
não votar; dos 41 do PL, 17,7%; dos 33 do MDB, 24,2%; dos 28 do DEM, 25%; e dos
10 do PTB de Roberto Jefferson, bolsonarista mais radical do que o próprio
Bolsonaro, 20%. Por que sumiram?
Se fossem a favor do voto impresso, o mais
natural seria votar para reforçar seus laços com o governo e arrancar mais
favores dele. Como a maioria dos que sumiram certamente era contra, preferiu se
ausentar para não arranjar encrenca com o governo. De tão fraco que ele está,
Bolsonaro terá que engolir isso.
Tanto barulho em torno da reforma eleitoral
para nada
Às vésperas de ano eleitoral, muda-se a lei
para que na verdade tudo permaneça mais ou menos como está
Aprovado na Câmara dos Deputados o
texto-base da reforma eleitoral, o Senado está inclinado a rejeitá-lo quando o
receber. Poderá fazê-lo sem sequer votar. Basta deixar que o tempo passe.
Para que possa valer na eleição do ano que
vem como pretendem seus inspiradores, a reforma teria de ser aprovada pelo
Senado e sancionada pelo presidente da República até o fim de setembro.
Na última hora, tiraram da sala o bode
chamado de “distritão”, sistema pelo qual só seriam eleitos os candidatos mais
votados por estado, enfraquecendo os partidos e estimulando o personalismo.
O bode foi posto na reforma para facilitar
as negociações em torno de outros pontos. Acabou derrubado por 423 votos a 35.
No passado, a Câmara já o havia rejeitado duas vezes.
Trocou-se o bode pelo retorno das
coligações proporcionais de partidos proibidas desde 2017. Elas salvam da
extinção siglas com poucos votos. O Brasil tem mais de 33 partidos.
Às vésperas de eleições, é sempre assim.
Muda-se a legislação a pretexto de melhorá-la, mas na verdade para atender aos
interesses de ocasião dos partidos mais fortes.
De fato, muda-se para que nada ou pouco
mude.
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