Texto limita a capacidade da Justiça
Eleitoral de influir no pleito ao impor princípio da anualidade
Por Raphael Di Cunto / Valor Econômico
BRASÍLIAA Câmara dos Deputados aprovou
ontem, por 339 a 123, a proposta de emenda constitucional (PEC) da reforma
eleitoral e determinou a volta das coligações proporcionais em 2022. Um acordo
previa a votação dos itens mais polêmicos do texto em separado. A criação do
“distritão” foi derrubada por meio de um entendimento entre os partidos, após
um requerimento apontar que não havia votos suficientes para mudar o sistema. O
texto precisa ser confirmado pelo Senado até 2 de outubro.
O projeto estabeleceu ainda outras regras:
os votos em candidatos negros e em mulheres nas eleições para a Câmara em 2022,
2026 e 2030 contarão em dobro no cálculo para distribuição de dinheiro dos
fundos partidário e eleitoral, numa medida para estimular a participação desses
grupos na política; e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal
Federal (STF) terão que respeitar o princípio da anualidade nas decisões que
influenciarem o processo eleitoral.
Além disso, a PEC reduz o número de assinaturas para projetos de iniciativa popular para 100 mil, permite a realização de plebiscitos junto com eleições, proíbe que a data da eleição caia próxima de feriado, inclui os senadores na conta para que os partidos superem a cláusula de desempenho e muda a data de posse do presidente da República será transferida de 1º de janeiro para o dia 6 e dos governadores, para o dia 5, a partir de 2027.
A proposta não estava na pauta de votações,
mas acabou incluída de surpresa por pressão dos partidos favoráveis ao
distritão, que pediram ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para
antecipar a discussão da PEC com o objetivo de mandar um “recado” ao Senado e
evitar a mobilização dos senadores para tentar evitar a aprovação.
Líder do PP, o deputado Cacá Leão (BA)
protocolou requerimento para que a PEC pudesse ser votada antecipadamente -
pelo regimento, teria que aguardar duas sessões entre a votação na comissão, na
segunda-feira a noite, e a discussão em plenário. “Quero pedir aos
parlamentares que fiquem atentos a votação de hoje porque se trata do futuro
desta Casa”, discursou.
O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) rebateu
que a intenção de votar às pressas era criar um sistema eleitoral que
privilegia os atuais parlamentares por tornar as campanhas mais caras e
desestimular a renovação. “O deputado Cacá falou que aqui está se pensando no
futuro desta Casa. Não. O que alguns estao pensando é no futuro do seu mandato.
Essa proposta do distritão só tem um objetivo: a manutenção dos seus mandatos”,
acusou.
Lira suspendeu a discussão da medida
provisória (MP) que prorroga o programa de manutenção de empregos e promove uma
minirreforma trabalhista e avisou que pautaria a PEC. Partidos como PT,
PSD, Cidadania e PDT entraram em obstrução contra o projeto, mas o requerimento
do PP para quebra de interstício e inclusão da PEC imediatamente na pauta teve
apenas 287 deputados, menos que os 308 necessários para aprovar o distritão. O
quórum mais baixo fez defensores da mudança reconhecerem que não tinham voto e
buscarem acordo pela volta das coligações, como proposto pelo PT.
O distritão é um sistema em que os
candidatos mais votados na eleição para deputado e vereador serão eleitos, sem
levar em conta o número de votos nos partidos. O Congresso proibiu as
coligações em 2017, mas a regra nunca chegou a ser aplicada para os deputados.
Cientistas políticos consideram o
distritão, adotado apenas na Jordânia, Afeganistão, Ilhas Pitcairn e Vanuatu, o
pior modelo para o Legislativo por desprezar a maioria dos votos - no sistema
proporcional, os votos dados em candidatos derrotados contam para o partido fazer
bancada, aumentando a representatividade.
Além disso, o distritão facilita a
cooptação pelo Executivo, estimula o individualismo em detrimento dos partidos
e o lançamento de candidaturas de celebridades e religiosos.
Como alternativa, partidos como o PT e o
Novo passaram a tentar negociar a volta das coligações, que permitem a vários
partidos se aliarem na disputa do Legislativo. Com oposição apenas do PDT e do
Psol, as coligações proporcionais voltaram em razão do entendimento.
Por causa do horário, Lira decidiu adiar a conclusão da votação para hoje. A principal disputa será sobre a alteração na forma de eleição do presidente, governador e prefeito a partir de 2024, com o fim do segundo turno. No “voto preferencial”, o eleitor listaria os candidatos por ordem de preferência. Caso ninguém tenha mais de 50% dos votos, elimina-se o menos votado e os votos dele são distribuídos para o segundo de preferência dos seus eleitores, e assim sucessivamente, até alguém ter maioria dos votos.
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