As pessoas no Brasil, como em muitas outras coisas, têm sentimentos confusos sobre as políticas educacionais oficiais durante a pandemia e sobre a dita volta iminente às aulas presenciais. Não temos pesquisas que mostrem o que a maioria dos brasileiros deseja. O sentimento equivocado em favor da volta às aulas presenciais parece ser consenso. E a confusão persiste e sua residência na conjunção de presencialmente e à distância é uma constante. Será que vamos mandar nossas filhas e filhos para a escola, ou vamos mantê-los em casa, supostamente tendo aulas online? Aliás, será que se tivéssemos uma pesquisa a respeito do assunto ela revelaria que os pais diriam que seus filhos completariam realmente seu ano letivo online? Por alguma razão, a questão de saber se os pais enviaram ou não suas filhas e filhos para as escolas precisa ser feita para ser uma baliza de ponderação e é tão urgente e necessário em face ao contexto pandêmico e sua difícil relação com a educação e não só.
A confusão é lógica. A dita educação
híbrida significa coisas muito diferentes em diferentes níveis de renda, em
diversas localidades, em regiões distintas. Com a internet, significa algo mais
ou menos real? Se as escolas estivessem em condições sanitárias adequadas,
significaria que todas as medidas necessárias já foram tomadas, em colaboração
com professores e pais? Alguém realmente acreditaria que isso de fato
aconteceria?
Mas também, quando o Ministro da Educação
diz que não há perigo de contágio porque as crianças não estão infectadas, isso
torna as escolas em espaços saudáveis? Só que elas também não eram no mundo
pré-pandêmico em março de 2020, quando se decidiu fechar todas as escolas. Em
muitos países - certamente não tanto na Ibero-América - as escolas tiveram
tratamentos diversos.
O desafio mais importante, no entanto, é
obviamente as resultantes das últimas semanas. Se seguirmos como chegamos aonde
estamos, ou seja, com patamares na casa das milhares de infecções e de óbitos,
é muito difícil para professores, para as crianças, para os adolescentes de 14
e/ou 15 anos e seus pais concordarem em voltar às aulas como indicou o Ministro
da Educação e outras autoridades subnacionais. Não voltar é a realidade
concreta, pois significa que precisamos superar em muito a situação que
prevalecia no mundo pré-pandêmico em março de 2020. Se as ondas das variantes -
que são muitas e agora a delta e a gama são os preocupantes - se confirmarem
(embora muitos discordem dessa ideia, e consideram que nunca controlamos sequer
a primeira, o que as evidências acabam por indicar), e seguirmos como ainda
estamos, será impossível a abertura das escolas.
Então está claro que qualquer que seja a decisão ela é delicada, como em muitos países. Bolsonaro não entende nada: diz que no Brasil nada é à força, mas ignora que em nosso país, desde 1914, o alistamento militar se tornou obrigatório efetivamente, inclusive a despeito de sua existência legal desde 1906. É obrigatória para os homens de 18 anos. Mas se não houvesse o perigo de contágio e todos estivessem vacinados, aí sim os encontros presenciais nas aulas poderiam acontecer. Lamentavelmente não é essa a situação prevalecente. Por fim, não cabe nada próximo a dita volta ao status quo anterior. O mundo precisa mudar, e para melhor.
*Professor da Unyleya Educacional e do Instituto Devecchi.
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