terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Cristina Serra - Curió, Heleno e Bolsonaro

Folha de S. Paulo

O buraco que ficou em Serra Pelada é a metáfora perfeita do Brasil que deixa gente, terra, meio ambiente e Amazônia aniquilados para o proveito de poucos

Quem é mais velho lembra, quem não lembra basta digitar "Serra Pelada" para encontrar imagens do que um dia foi o maior garimpo a céu aberto do mundo, nos anos 1980, no sul do Pará. Fotografias de Sebastião Salgado mostram homens cobertos de lama, arqueados sob o peso dos detritos que tiravam das entranhas da terra, na esperança de enriquecer.

Pouquíssimos ficaram ricos com o ouro. A maioria morreu de doenças, tiro, faca ou foi soterrada. No lugar, restou uma imensa cratera e um lago de mercúrio. Esse inferno foi controlado com mão de ferro por um militar do Exército, o Major Curió, que participara da repressão à Guerrilha do Araguaia, nos anos 1970. Em denúncias do Ministério Público Federal, Curió é acusado de tortura e assassinato. Não por acaso, é amigo de quem? Sim, Bolsonaro.

Lembrei de tudo isso ao ler a reportagem de Vinicius Sassine, nesta Folha, mostrando a rapidez do ministro da Segurança Institucional, general Augusto Heleno, o decrépito, em autorizar projetos de pesquisa de ouro, em São Gabriel da Cachoeira, no oeste da Amazônia.

Alguns dos empresários beneficiados são infratores ambientais, com histórico de problemas com o Ibama. E é a primeira vez que empresas recebem autorizações para pesquisar ouro nessa região, bem preservada e com várias terras indígenas. O buraco que ficou em Serra Pelada é a metáfora perfeita do Brasil que une na mesma linha do tempo Curió, Bolsonaro e Heleno. Gente, terra, meio ambiente, Amazônia, tudo aniquilado para o proveito de poucos.

Bolsonaro sabe que 2022 será seu último ano no poder, então vai correr para fazer (ou desfazer) tudo que não conseguiu até agora. Movimentos do Executivo e do Congresso andam juntos. A Câmara pode dar um "liberou geral" para as mineradoras se aprovar o novo Código de Mineração. Ficaria faltando o projeto que permite mineração em terras indígenas. Por enquanto, tal vilania encontrou resistência. A sensação é de que o Brasil só sai do lugar se for para dar um passo atrás.

Um comentário:

Fernando Carvalho disse...

Em São Gabriel da Cachoeira fica a maior reserva de nióbio de todo o mundo 5,5 bilhões de toneladas. Bolsonaro que em campanha disse que pretendia produzir bijuteria de nióbio. Certamente ele fez piada para desmoralizar o problema. O insuspeito Marcos Valério disse no tempo do Mensalão que os valores do contrabando de nióbio põem no chinelo o dinheiro do Mensalão, ninguém prestou atenção no que ele disse.
O BANCO ITAÚ acaba de doar para ajudar na luta contra o CORONAVÍRUS a quantia de UM BILHÃO de reais. Outras tantas empresas também fizeram doações de uns poucos milhões de reais, algumas empresas doaram algumas dezenas outras de centenas de milhões.
De onde vem esse poder econômico todo do banco Itaú? É que o banco Itaú é a empresa que explora o NIÓBIO brasileiro em Araxá, Minas Gerais. O Brasil detém 98% do nióbio de todo o mundo. O Canadá explora os outros 2%. O nióbio é uma espécie de "enzima" metálica que melhora a qualidade do aço em todos os sentidos: durabilidade, ductilidade, etc. Bastam 100 ou 150 gramas de nióbio para melhorar uma tonelada de aço. O aço usado para fazer lâminas de barbear ou o usado para construir uma nave espacial, uma máquina de tomografia computadorizada ou em nanotecnologia necessitam de nióbio. Ou seja o avanço da revolução industrial depende de nióbio.
Os brasileiros não sabiam disso, mas os americanos, sim. Durante a ditadura de 64, um oficial da marinha norte-americana veio ao Brasil e falou sobre o assunto com o general que estava de plantão na presidência. Os americanos convidaram o banqueiro Walter Moreira Sales para explorar o nióbio brasileiro. E assim foi feito, para esse fim foi criada a empresa CBMM cujo acionista principal é o banco Itaú. E 70% do nióbio puro é exportado para os Estados Unidos.
Pois bem, sendo o nióbio o que é. O que os milicos tinham que ter feito era ter criado a NIOBIOBRAS. E os militares de 64 gostavam de estatais: Petrobras, Eletrobras, Nuclebras, etc. Mas entre construir uma estatal nossa ou lamber a bota dos milicos americanos, os milicos de 64 preferiram a segunda hipótese. E o lixo de 64 que chegou ao poder na última eleição presidencial fez piada com o nióbio dizendo que iria produzir bijuteria com o nióbio brasileiro. Ele ainda fez piada com o termo "niobiobras".
Continuando a história. O banco Itaú, certamente com medo de que vingasse a proposta da criação de uma estatal brasileira para o nióbio, tratou de vender parte desse nióbio para os chineses. Vendeu 15% do nióbio que a CBMM explorava por quase DOIS BILHÕES DE DÓLARES. Traduzam isso aí em reais.
Na minha opinião o banco Itaú não poderia ter vendido esse nióbio. Trata-se de uma riqueza do solo brasileiro. Para concluir o Marcos Valério, insuspeito personagem da Lava Jato denunciou que o contrabando de nióbio movimenta infinitamente mais dinheiro que o envolvido no tal Mensalão. Na Amazônia tem mais nióbio que em Minas Gerais. E já havia políticos ambiciosos em ajudar gringos a explorar esse nióbio desde que eles (FHC, Zé Dirceu entre outros) entrassem como sócios. Um ministro militar de FHC, Zenildo Zenóbio de Lucena de descambou da Urca onde ele morava e foi montar uma instalação militar na Amazônia apenas para tomar conta desse nióbio exposto ao contrabando. Não sei qual foi o final dessa história.
Isso explica o bilhão que o banco Itaú doou para a campanha contra a pandemia do coronavirús.