O Estado de S. Paulo
Em seu livro, o papel do Bolsa Família parece subestimado pelo candidato
Gostaria de ter lido mais livros este ano.
Tudo bem, não devo ter lido menos livros do que os jurados da categoria
reportagem do Prêmio Jabuti. Mas, mesmo assim, queria ter lido mais. Achei,
então, que não valeria a pena queimar uma leitura com o livro do Moro, mas a
curiosidade me fez ir atrás.
O presidenciável defendeu o pagamento do
Auxílio Brasil sem furar o teto de gastos, manifestando-se contrário à PEC dos
Precatórios. Mas isso implica corte de dezenas de bilhões em outras despesas.
Quais? Daí fui procurar no livro o que ele pensa.
Só que o livro não traz respostas como essa. É mais um esforço de relações públicas do que uma análise aprofundada dos problemas do País, lembrando os lançamentos do mercado americano. Lá é comum que pré-candidatos se apresentem com autobiografias simpáticas.
Reformas na economia são citadas somente de
forma genérica. A surpresa positiva é o tratamento dado à corrupção. Muitos
artigos de jornais têm discutido se a candidatura Moro daria ênfase exagerada
ao tema, que teria sugado oxigênio em excesso no debate público. Apesar do
título (Contra o sistema da corrupção) e dos relatos sobre sua vida
profissional, Moro não chega a colocar a corrupção como o problema maior do
Brasil.
Ela seria apenas uma forma de prevalência
dos interesses privados sobre os interesses públicos, mas esta captura
ocorreria “com mais frequência” de outras formas – Moro fala em corporativismo
e o patrimonialismo. É esta captura do Estado que impediria o crescimento e nos
condenaria à pobreza e à desigualdade: diagnóstico que teria como solução a
necessidade de novas lideranças.
Para aí. A ausência de detalhes é tal que a
reforma tributária, por exemplo, não recebe qualquer menção na obra. Ela é
parte fundamental da agenda contra desigualdade. São tantas distorções que
alcançam até o setor público, permitindo a quem deveria ser descontado em folha
pagar menos Imposto de Renda. Veja que, segundo os dados da Receita, membros do
Judiciário e do MP recebem anualmente R$
200 mil em média isentos de pagar qualquer tributo.
Há ainda no livro quatro menções a bolsa,
três sendo à Bolsa de Valores e nenhuma ao Bolsa Família. O papel do programa
parece ser subestimado pelo candidato – que nos últimos dias aludiu a ideias
antigas, como a de uma dicotomia entre transferências de renda e trabalho (em
sua filiação) ou a de que o Bolsa Família foi meramente uma mudança de nome
feita pelo PT (em entrevista à CNN).
Ainda não há nada para ler sobre a economia de Moro.
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