sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Vinicius Torres Freire - O risco de golpe baixo na eleição

Folha de S. Paulo

Possível vitória apertada do petista pode incentivar artimanhas até eleição e depois dela

Quem está ansioso com o resultado da eleição deve continuar assim até a noite do domingo 2 de outubro. A indefinição ou um resultado apertado aumentam o risco de tumulto político ou de golpes baixos. Tomar cuidado com a segurança do eleitor e da apuração é tarefa ainda mais séria.

A quantidade de abstenções e de votos válidos pode pesar mais do que as inconstâncias do eleitorado na última hora. A julgar pelos dados do Datafolha desta quinta-feira, ondas de abstenção ali ou aqui, entre os mais pobres em particular, podem ter peso terminal. É o que indica o histórico do número de votos válidos/inválidos e de abstenção. Mais sobre estes números mais adiante, neste texto.

Sim, se pode especular que muita decisão relevante é tomada nessa última hora, embora esta seja uma eleição de decisões mais precoces, a julgar pelas declarações do eleitorado. Mais de 18% dos eleitores dizem que ainda podem mudar o voto. De resto, haverá ainda 8 dias de campanha e 1 de "reflexão", o sábado. Mas, se todos os eleitores ainda não totalmente decididos mudassem o voto para sua segunda escolha, ainda assim a eleição continuaria indefinida (sempre pelos números do Datafolha desta quinta-feira).

Lula da Silva (PT) tem agora perto de 50% dos votos válidos. Uma vitória no primeiro turno está, pois, no campo da pilhéria do cálculo das probabilidades, como diria Manuel Bandeira (o poeta, sim). Isso na pesquisa. Quando se considera a realidade das votações, o Imponderável da Silva e até o Sobrenatural de Almeida podem ter influência maior.

Tome-se, por exemplo, o possível número de votos válidos (aqueles que contam para o resultado da eleição: descontados brancos e nulos).

Desde a eleição de 2006, a média de votos inválidos tem flutuado em torno de 8,9% do total dos eleitores que foram votar (máximo de 9,6%, mínimo de 8,4%). Como uma decisão precoce da eleição está sobre a linha do gol, é fácil perceber que até uma flutuação habitual do número de votos inválidos pode decidir a parada, assim como a votação dos candidatos mais nanicos

Por que desde 2006? É uma escolha arbitrária. Desde essa eleição, a porcentagem de votos inválidos diminuiu e passou a flutuar muito menos.

Quanto à fatia de abstenções, não se pode dizer grande coisa. A série de número de eleitores aptos a votar não permite comparações, pois os registros eram falhos por motivos vários e as correções foram um tanto inconstantes.

Considerado apenas o número de eleitores em IDADE de votar (maiores de 16 anos, mas não necessariamente legalmente aptos a votar), parece que a abstenção aumenta um tico a cada ano, pelo menos desde 2006.

Além do mais, pode haver taxas de abstenção variável por categoria do eleitorado. Especula-se que mais pobres, que são mais lulistas, podem sair menos de casa para votar. Mas é especulação.

Os demais resultados da pesquisa não ajudam a pensar de modo mais decisivo sobre resultados. Em um segundo turno, Lula bateria Jair Bolsonaro (PL) por 54% a 38%, sem mudança relevante desde meados de agosto, assim como não mudaram os índices de rejeição aos líderes da pesquisa.

Como é óbvio, a tensão grande não será apenas pré-eleitoral. Um resultado apertado está mais sujeito à avacalhação bolsonarista ou coisa pior. O aperto previsível pode incentivar comportamentos bárbaros, que talvez não influenciem o resultado final, mas que envenenem ainda mais a democracia ou causem tumulto. Alguém aí já imaginou que se pode deixar eleitor sem transporte? Em campanhas atrozes de desinformação de última hora? Em qualquer golpe baixo?

É claro que já imaginou. A isto chegamos.

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Verdade indesejável essa. Percebemos todos q o risco advém das quadrilhas bolsonaristas de homens de "bem" (aliás, bolsonarista e homem de bem é incompatível - pra começar, bozo como homen de bem é falso - já imaginaram um pastor puxar no culto o refrão "imbrochável?).
O risco não advém do lulista.

Anônimo disse...

O anônimo tem razão: bolsonarista e homem de bem são antônimos! As quadrilhas bolsonaristas ameaçam todos os eleitores que não pensem como o Minto!

ADEMAR AMANCIO disse...

Golpe baixo,precisamos tomar cuidado.