Correio Braziliense
Numa campanha radicalizada, errar de “inimigo
principal” pode ser fatal. Enquanto Bolsonaro concentra o fogo contra Lula, a
oposição começa a se digladiar com muita agressividade na campanha
A campanha de voto útil deflagrada pelo PT
para garantir a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro
turno é a estratégia adotada pelo petista na reta final de sua campanha. O
objetivo é volatilizar a candidatura do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT)
e, com isso, atrair os eleitores que lhe faltam para ter mais de 50% dos votos
válidos em 2 de outubro. A expectativa de poder que o favoritismo de Lula
oferece, ao contrário do que acontece com os demais candidatos de oposição, é
um fator de atração de apoios de personalidades, intelectuais e políticos do
chamado centro democrático, que estão aderindo publicamente à campanha do
petista. Lula está mais próximo de uma vitória no primeiro turno.
No caso de Ciro, o voto útil já está implodindo o PDT. O tom agressivo da campanha, porém, provoca forte reação de Ciro Gomes, que passou a tratar Lula como adversário principal nas últimas semanas, por ter a sua sobrevivência como líder político nacional ameaçada pelo esvaziamento progressivo de sua candidatura. Na prática, essa reação de Ciro reforça a narrativa adotada por Bolsonaro para aumentar o índice de rejeição de Lula, focada, principalmente, nos escândalos do mensalão e da Petrobras, e pelas condenações em primeira e segunda instâncias nos processos da Operação Lava Jato, embora essas sentenças tenham sido anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Esse confronto no campo da oposição pode
deixar muitas sequelas. O risco da estratégia é que a ofensiva não alcance seu
objetivo e reduza, porém, a distância de Lula para o ex-presidente Jair
Bolsonaro na votação de primeiro turno. Isso dependeria também do esvaziamento
da candidatura de Simone Tebet (MDB), alvo de uma segunda frente da campanha do
voto útil, operada pelo ex-governador Geraldo Alckmin, o vice de Lula, junto às
lideranças históricas do PSDB. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
pressionado por seus amigos e aliados mais próximos que aderiram a Lula nesta
semana, ainda resiste a declarar apoio ao petista. Ontem, distribuiu nota na
qual pedia voto para os candidatos de oposição a Bolsonaro, em defesa da
democracia, sem aderir ao voto útil, mas não citou Simone, candidata que está
oficialmente coligada com o PSDB e o Cidadania.
Com menos virulência do que Ciro, Simone
Tebet também vem reagindo à campanha do voto útil. Em cards distribuído nas
redes sociais, ela se coloca como única candidata em condições de derrotar Lula
no segundo turno. É uma maneira de barrar o esvaziamento de sua candidatura por
meio de um voto útil com sinal trocado, que levaria seus eleitores mais
conservadores a desistirem de seu nome e derivar por gravidade para Bolsonaro,
já que são antipetistas. É aí que mora o perigo de a campanha do voto útil
reduzir a distância de Lula para Bolsonaro, sem garantir uma vitória no
primeiro turno, reforçando a polarização eleitoral e, também, a radicalização
política no segundo turno. Quanto menor a distância de Lula para Bolsonaro,
maior o estresse previsível do ponto de vista institucional.
“Inimigo principal”
Numa campanha radicalizada, na qual os
candidatos se tratam como adversários a serem liquidados, errar de “inimigo
principal” pode ser fatal. Enquanto Bolsonaro concentra o fogo contra Lula, a
oposição começa a se digladiar com muita agressividade na campanha. O normal
seria que Ciro Gomes estivesse lutando para tomar o lugar de Bolsonaro, o
segundo colocado, e não escalasse o confronto com Lula. A mesma coisa acontece
com os petistas que estão intensificando os ataques ao candidato do PDT e,
agora, contra Simone Tebet, que votou em Bolsonaro no segundo turno de 2018,
mas vem fazendo uma firme campanha contra ele nestas eleições. Efeitos
colaterais podem frustrar o esforço de Lula para vencer a eleição no primeiro
turno nesta reta final e complicar muito a sua vida no segundo turno.
Bolsonaro errou muito na campanha até
agora, mas passou a ouvir mais o seu marqueteiro, Duda Lima, responsável pelos
programas de televisão, durante as gravações, segundo informa sua assessoria de
imprensa, a propósito da coluna de ontem, quando afirmei o contrário. O caminho
crítico para Bolsonaro chegar ao segundo turno é reduzir a vantagem de Lula
entre os eleitores de mais baixa renda e entre as mulheres, o que ainda parece
impossível. Para isso, ontem, o governo anunciou que vai comprar alimentos
produzidos por pequenos agricultores e distribuí-los entre os mais pobres, uma
tentativa de neutralizar o principal fator de desgaste de Bolsonaro junto aos
eleitores que recebem até dois salários mínimos: o preço dos alimentos.
Na reta final da campanha, os estados de
São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro serão decisivos para Bolsonaro
garantir o segundo turno. No Rio de Janeiro, a reeleição do governador Cláudio
Castro (PL) no primeiro turno ainda está no telhado, mas a distância de Marcelo
Freixo (PSB) favorece Bolsonaro e complica para Lula. Em São Paulo, onde o
petista Fernando Haddad é favorito, a estagnação da candidatura de Tarcísio
Freitas (Republicanos) e o crescimento de Rodrigo Garcia (PSDB) preocupam
Bolsonaro, que pretende intensificar sua campanha no estado. Em Minas, os
ataques do governador Romeu Zema (Novo) ao ex-governador petista Fernando
Pimentel acenderam um alerta vermelho na campanha de Lula, que apoia o
ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD). Zema deve vencer no
primeiro turno, mas ninguém sabe o que fará depois de eleito, se houver segundo
turno entre Lula e Bolsonaro.
4 comentários:
Você mesmo tendencioso é o mais lúcido dos jornalistas dessa prestigiada coluna democrática, o resto da turma já está no Lula já ganhou , já estão pensando até em Ministério do Lula ladrão , o salto alto predomina , mas quanto mais alto o coqueiro maior tombo!
A turma não quer saber vai pro tudo ou nada . Sabem que pro segundo turno vai ser uma pedreira intransponível , a tendência é uma coalizão em torno do Bolsonaro e isolar o bandido ladrão descondenado
Melhor do q o ministério da DESeducação em barras de ouro e pneu, sem falar no Ministério do zero ambiente.
Eh, gado!
Coalizão em torno do Bolsonaro? Só se for com Queiroz, os milicianos cariocas, os pastores safados das barras de ouro, a indústria armamentista, os grileiros e invasores de terras indígenas...
Acho que o papagaio bolsonarista estava pensando em PRISÃO em torno do Bolsonaro... A partir de 2023, é mesmo o que vai acontecer!
Quer dizer que Simone Tebet votou em Bolsonaro no segundo turno e agora faz campanha contra ele,lembra o Doria.
Postar um comentário