Folha de S. Paulo
Aprovação do governo Lula 3 piora desde
meados do ano passado, apesar de renda em alta
A avaliação de
Luiz Inácio Lula da Silva em fevereiro foi a pior das pesquisas
da Quaest. Nas análises dos resultados, lia-se que as declarações sobre a
guerra de Israel devem ter
prejudicado o prestígio do presidente, assim como a alta da inflação de
alimentos do início do ano. Destacava-se que Lula perdeu
muitos pontos entre evangélicos. Pode ser.
Mais notável, no entanto, é que a
"aprovação do trabalho" presidencial cai muito desde agosto do ano
passado, quando estava no pico, com 60% de aprovação e 35% de desaprovação, um
saldo de 25 pontos.
O tombo maior apareceu na pesquisa seguinte,
em outubro de 2023: aprovação de 54%, desaprovação de 42%, saldo de 12 pontos.
Na pesquisa de fevereiro, divulgada nesta quarta-feira (6), o placar ficou em
51% a 46%.
Os dados preliminares da economia que afeta o cotidiano não parecem explicar grande coisa, se alguma. Os preços de janeiro e a bobagem sobre a guerra de Israel não explicam o declínio contínuo e enorme desde agosto do ano passado.
A "polarização" política diz algo
sobre pisos e tetos do prestígio de Lula, não sobre essa baixa de avaliação em
pouco mais de meio ano.
Em agosto de 2023, Lula tinha quase 10 pontos
mais de aprovação do que votos no segundo turno —ganhava eleitores da oposição.
Seu prestígio virou para pior e para o
vermelho, com intensidade, entre os eleitores com ensino médio e renda entre
dois e cinco salários mínimos, no Sudeste, entre mulheres; ainda mais entre os
evangélicos. Essas viradas todas aconteceram entre agosto e outubro.
"Não é economia, seu burro!", para
inverter o clichê das eleições americanas dos anos 1990. Houve melhoras, na
média dos salários: aumento real de 4% nos últimos 12 meses.
A despesa com o Bolsa Família passou
do equivalente a 1,1% do PIB em fevereiro de 2023 para 1,7% em fevereiro de
2024. Houve mais gastos também com benefícios assistenciais (BPC), aumento
de salário mínimo
e, pois, do piso dos benefícios do INSS.
O rendimento domiciliar per capita médio
cresceu bem, embora ainda não tenha sido divulgada sua distribuição por classe
de renda.
A recuperação teria sido insuficiente ou
frustrante?
A inflação dos alimentos nos últimos 12 meses
foi de apenas 0,68%, apesar dos choques do início do ano, por causa do tempo
ruim. O aumento nominal (sem descontar a inflação) do salário médio foi de 8,9%
nesse período. Mas a comida ainda está cara, embora isso fosse evidente desde
meados do ano passado, quando a nota de Lula foi a maior.
Desde janeiro de 2020, pouco antes da
epidemia, os preços de "alimentação no domicílio", no dizer do IBGE,
aumentaram em média mais de 46%; o salário nominal médio, 30,1%. Ainda perde a
corrida para a carestia do que se come.
O Ipea faz uma conta da distribuição de
domicílios por faixa de renda do trabalho, baseada na Pnad. A mais recente é do
terceiro trimestre de 2023. A fração dos domicílios sem renda do trabalho, de
renda muito baixa ou baixa ainda era maior do que no primeiro trimestre de
2020, antes da destruição da epidemia.
Em resumo, houve melhoras relativas
relevantes, embora os estragos das crises ainda sejam evidentes, em especial no
preço da comida e no trabalho dos mais pobres.
No entanto, a aprovação de Lula é mais alta e
caiu menos entre quem recebe até dois mínimos por mês: era de 67% em agosto
passado (com 27% de desaprovação) e de 59% em fevereiro (38% de desaprovação),
ainda assim uma baixa relevante.
Houve frustração de expectativas? Uma
conversa política de redes sociais que não captamos? Com menos imprecisão, dá
para chutar apenas que algo mais aconteceu com a imagem de Lula, mas não foi
agora.
Um comentário:
Sei.
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