O Globo
O personagem político mais importante de 2024 foi Pablo Marçal. O mais provável é que ele tenha explodido neste ano e não mais apareça. Depois de divulgar um documento médico evidentemente falso, tudo indica que terminará com os direitos políticos cassados pelo TSE antes da próxima eleição. Se formos para além das fronteiras brasileiras, há outros dois personagens muito importantes: Donald Trump e Elon Musk. E os três, juntos, contam uma mesma história. Mudou, de novo, a maneira de fazer comunicação política. Sentimos o cheiro disso em 2024. Este ano de 2025 será o da consolidação dos profissionais para os pleitos do ano seguinte. Quem aprender as lições direito sai na frente.
Porque o problema é o seguinte: quem acha que
ainda estamos naquela fase da desinformação anônima, feita por robôs, que
disparou a onda populista autoritária em 2016 se engana. O tempo, agora, é
outro. Depois de uma fase de desorientação, aos poucos o público foi
construindo relações com alguns nomes chaves nas plataformas sociais. Por falta
de palavra melhor, nós os batizamos de influenciadores. Ela pode parecer até
pretensiosa, mas é descritiva. Alguns têm capacidade real de influenciar.
Trump, durante sua campanha eleitoral, deu
entrevistas a 12 grandes podcasts. Com Joe Rogan, o maior podcaster americano,
passou três horas sentado no estúdio que fica na garagem . E relaxado, numa
conversa que parecia bate-papo. Kamala Harris foi a seis podcasts, na conta dos
democratas. É uma conta enganosa — inclui programas de rádio como o de Howard
Stern, que existe há mais de três décadas. Não é a mesma coisa. A maioria das
figuras do mundo da influência digital jamais estaria num programa de TV. Parecem,
alguns, medíocres. Mas se engana quem considera isso. Todos criam relações
reais, de confiança, com seus públicos. Há sensação de proximidade, até afeto.
É uma relação mais próxima da amizade que a distância das celebridades do
passado. Por isso mesmo, a sensação é de que é mais real.
Não é só isso. O mundo dos influenciadores de
hoje e das celebridades de ontem se divide, também, por outra percepção. Ou,
talvez, outra ilusão. Todo mundo, se trabalhar direito, pode virar
influenciador. Para virar celebridade, as barreiras eram realmente muito mais
altas.
Mas o mundo da influência precisa ser
regulado. Não é, aqui, uma questão de controlar discurso. É que não dá para
ignorar que as plataformas são corporações bilionárias, com tendências
monopolistas, que vivem de vender a ilusão de que todos podem realmente ficar
famosos. As barreiras são mais baixas do que no passado, ainda assim só alguns
ganham fama, e destes um subconjunto menor ganha dinheiro. O conjunto da
produção de cada um, no entanto, produz bilhões de dólares e dá um poder
absurdo para grandes corporações.
Há um problema ético evidente, e francamente
intolerável, na ideia de montar algumas das principais corporações do mundo nas
costas do trabalho não remunerado de milhões. Não é só questão de dinheiro. É
também questão de poder.
Entre julho e novembro, tuítes de Elon Musk
foram vistos 128 bilhões de vezes por usuários de sua rede social, o X. Some
todas as postagens feitas por todos os deputados e senadores americanos na
mesma plataforma, e elas foram vistas pouco mais de 7 bilhões de vezes. Em
média, uma mensagem de Musk é lida mais que o dobro de vezes de uma postada
pelo presidente eleito . O Washington Post colocou um trio de jornalistas para,
todos os dias durante cinco meses, anotar quantas impressões tinha cada
publicação de algumas personalidades.
Está claro que Musk turbinou o algoritmo do X
para ampliar sua influência política. Sua voz fala mais alto. Ele gastou pouco
mais de US$ 40 bilhões para comprar um assento preeminente no novo debate
público. E funcionou. Nas outras redes, esse tipo de manipulação não é tão
escancarada. Mas, a partir do momento em que um algoritmo escolhe quem sobe e
quem desce, manipulação há. A Meta, dona de Facebook, Instagram e Threads,
escolheu mostrar menos política. Escolheu, literalmente, informar menos.
Este mundo da influência domina nossa
conversa. Pois, então, é hora de conversarmos mais sobre ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário