Folha de S. Paulo
Argumento da autonomia não pode justificar
abusos da força policial
Há no país duas certezas enraizadas:
uma polícia violenta
dá voto e a questão da segurança pública irá definir as eleições presidenciais
de 2026.
A PEC de Ricardo
Lewandowski propõe que a União tenha o poder de estabelecer as
diretrizes da política de segurança, dividindo (ou diminuindo, de acordo com o
ponto de vista) a responsabilidade dos estados. A proposta coleciona
adversários dentro do próprio governo, a turma que acha melhor não mexer nesse
vespeiro.
Diante do desespero da população –recente Datafolha mostrou que 51% dos brasileiros dizem ter mais medo da polícia do que confiança nela–, da exploração ideológica da crise e das cenas cotidianas de brutalidade, um decreto do Ministério da Justiça publicado na semana passada prevê uso da força e de armas de fogo apenas como último recurso.
A comprovar que o problema é de todos, na
véspera de Natal uma jovem
foi baleada na cabeça por um policial rodoviário federal, no
Rio. Constrangido, Lewandowski deve
acelerar o detalhamento do texto antes previsto para 90 dias. As medidas não
são obrigatórias, embora sirvam de condição para o repasse de verba aos
estados.
O decreto virou um cabo de guerra entre apoiadores e
opositores de Lula. O consórcio dos governadores do Nordeste está a favor,
enquanto o consórcio dos governadores
do Sul e Sudeste é contra. Não há consenso ou qualquer palavra
sobre o flagrante descontrole das polícias militares, fruto de sua politização.
As falas mais parecem destinadas a campanhas eleitorais do que a resolver o
sufoco real da insegurança.
O mais exaltado é o governador do Rio, Cláudio
Castro, que prometeu ir ao STF para sustar os efeitos da medida.
"Espero que a população cobre dos responsáveis por esse decreto quando
bandidos invadirem uma residência, roubarem um carro ou assaltarem um
comércio", disse Castro, chefe de uma PM que não consegue entrar em áreas
dominadas pelo crime organizado. Defende a autonomia, mas recentemente permitiu
que a Marinha fizesse uma operação com 250 homens e 40 viaturas, incluindo
tanques de guerra, nas proximidades do hospital onde uma médica morreu vítima
de bala perdida.
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