segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

País poderia ter agido antes contra extremismo, diz Limongi - César Felício

Valor Econômico

Para cientista político, reação às ameaças de ruptura feitas pelo ex-presidente demorou

As instituições demoraram a reagir às ameaças de ruptura que ameaçam a democracia, avalia o cientista político Fernando Limongi, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), que lançou neste mês o livro “Democracia Negada: Política Partidária do Brasil na Nova República”, em coautoria com Leonardo Weller. Para Limongi, o ex-presidente Jair Bolsonaro, indiciado pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado em inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), poderia ter tido sua carreira eleitoral interrompida ainda nos anos 90.

“Bolsonaro desde que começou sua carreira política deu inúmeras oportunidades de se agir contra ele. Começou a sua carreira pensando em terrorismo, planejando explodir uma adutora. Passaram o pano para ele entre os militares. Depois ele entrou no Congresso para representar a linha dura, defendeu a tortura, o fuzilamento de presidente, tudo documentado”, disse Limongi ao Valor, fazendo alusão a alguns momentos do início da trajetória do ex-presidente.

Em 1988, ainda capitão do Exército, Bolsonaro respondeu a um Inquérito Policial Militar (IPM) depois de citado em uma matéria da revista “Veja” como um dos autores de um suposto plano para cometer atos terroristas, em protesto por melhores salários dentro das Forças Armadas. Ele foi absolvido pelo Superior Tribunal Militar (STM) meses antes de ser eleito vereador.

Em junho de 1993, a Câmara dos Deputados abriu processo por quebra de decoro contra Bolsonaro por ele ter pregado o fechamento do Congresso e um golpe militar. A representação não seguiu adiante. Em 1999, o então deputado defendeu o fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso. Bolsonaro não sofreu nenhuma sanção, o que provocou estranheza em FHC, conforme lembra Limongi.

Bolsonaro não é um personagem no novo livro de Limongi. A obra retrata o período entre 1985 e 2016, quatro décadas em que, conforme escreveram os autores, “prevaleceu no país a resolução de conflitos por meio de arranjos consensuais, negociados por grupos aparentemente opostos, mas que têm em comum o pertencimento à elite política nacional”.

Esta tendência à composição comprometia os atores políticos com a alternância de poder. De acordo com a obra, este traço esteve presente mesmo em momentos de crise política aguda, como o do impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992.

Bolsonaro tornou-se protagonista de uma era nova, de polarização e embates diretos, não coberta pelo livro por ser demasiadamente contemporânea, iniciada na visão de Limongi a partir do impeachment da então presidente Dilma Roussef, em abril de 2016.

Para Limongi, a inabilitação de Bolsonaro não necessariamente muda o curso político. “A inelegibilidade de Bolsonaro não tira a direita radical do jogo político. Ela pode ser representada por outro ator. Dependerá de como Bolsonaro organizará sua própria sucessão”, diz. Uma das possibilidades cogitadas no meio político, que Limongi não subestima, é a de Bolsonaro se apresentar como candidato a presidente, mesmo inelegível, colocando um filho como vice, o que judicializaria de vez a eleição de 2026.

O cientista político é um crítico do que considera interferência do Judiciário no processo eleitoral. Em sua opinião, a reunião de Bolsonaro com embaixadores no Palácio da Alvorada para fazer acusações sem provas contra a Justiça Eleitoral, em julho de 2022, não era uma razão suficientemente legítima para torná-lo inelegível. Mas no caso de tentativa de golpe de Estado seu entendimento é outro. “A democracia tem que se defender de agentes que a desrespeitam”, comentou.

“É importante se agir contra peixes pequenos antes que se tornem grandes. Quando a personalidade chega a um determinado nível de liderança, fica muito mais difícil agir, porque sempre se vai argumentar que existe perseguição política, e sempre será difícil separar uma coisa da outra. Se é para agir como força disciplinadora, tem que agir no momento certo”, comentou.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Sei lá, não precisa ser professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) para opinar assim. Tem que ser mais profundo, não escreveu livro?

Anônimo disse...

Fui aluno da GV nos anos 80. Há um bom tempo a FGV deixou de ser uma respeitável instituição de ensino e se tornou uma grife, agora com uma infinidade de cursos e de medíocres interessados apenas em "enriquecer o currículo".