DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Foi pífia a proposta do governo de Israel para iniciar as negociações de paz: paralisar por 10 meses a construção de novos assentamentos na Cisjordânia. Congelamento morno, pouco afirmativo, imediatamente contestado pelos 300 mil colonos já estabelecidos em território que pertence à Autoridade Palestina.
Nem generoso nem voluntário, o gesto do governo de centro-direita de Benjamin Netanyahu foi uma resposta à forte pressão exercida pela Casa Branca no sentido de remover um dos mais visíveis obstáculos às negociações de paz que culminarão com a criação do Estado Palestino.
Esta transação provisória, pouco convincente, melancólica, tem como cenário uma das decisões mais importantes e emocionantes já votadas pela Organização das Nações Unidas em toda a sua história: no dia 29 de Novembro de 1947 - há 62 anos -- por 33 votos a favor, 13 contra e dez abstenções foi aprovada pela Assembleia Geral a partilha da Palestina em dois Estados, um árabe e outro judeu. Entre os apoiadores da partilha estavam três dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança: Estados Unidos, União Soviética e França. A China (ainda de Chiang-Kaichek) se absteve, assim como a Grã Bretanha que detinha o Mandato sobre a região contestada. O brasileiro Oswaldo Aranha, presidente da Assembleia Geral, foi o artífice da histórica decisão ao adiar para a manhã seguinte ao Dia de Ação de Graças, um sábado, uma votação cujo resultado era incerto.
Não é este o lugar para relembrar as dificuldades e o banho de sangue derramado para implementar a decisão da ONU. Importa registrar que ela constitui a base legal para a proclamação da independência do Estado de Israel. Saudada pelos 600 mil judeus que viviam na Palestina encerrou uma perigosa dissensão ideológica que ameaçava dividir a Diáspora recém despertada do horror do Holocausto: a opção de um Estado binacional era apoiada não apenas pelos comunistas, sionistas de extrema esquerda e também pelos seguidores do filósofo humanista Martin Buber.
A extrema-direita (da qual Netanyahu é herdeiro) apostava na conquista integral da Terra Santa (incluindo a antiga Transjordânia). Os religiosos, salvo uma minoria não fundamentalista, eram absolutamente contrários a existência de um Estado judeu que não fosse proclamado pelo Messias, como está nas Escrituras.
A grande maioria seguia a coligação socialdemocrata-centro chefiada por David Ben Gurion e Chaim Weitzmann (escolhidos como primeiro-ministro e presidente do primeiro governo israelense).
O esforço concentrado para a criação de um Estado árabe na Palestina (para usar o vocabulário da época) abre o caminho senão para a paz, pelo menos para um armistício duradouro, depois de sete conflitos bélicos de grandes proporções. Além disso, repara o castigo imposto aos palestinos pela intransigência dos países árabes dos países vizinhos que recusaram a divisão preconizada pela ONU. Sobretudo, cala a boca de delinquentes como Mahmud Ahmadinejad e Osama bin Laden, os hitlers do século 21, cujas carreiras e postulados foram fabricados com a matéria-prima do terrorismo e da insanidade.
A partilha da Palestina precisa ser concluída com urgência. Esta página não pode permanecer semiaberta ou semi-fechada – reticências em história só favorecem os conflitos. Os assentamentos na Cisjordânia são meros empreendimentos habitacionais, subsidiados, destinados a abrigar a fina flor do fanatismo religioso sem qualquer contribuição para o desenvolvimento regional. O congelamento destas incursões imobiliárias como foi proposto é insuficiente, deve ser visto como a etapa inicial para avanços mais corajosos e consistentes.
A Diáspora judaica, inclusive no Brasil, avalizou com emoção a resolução da ONU sobre a Palestina. Mais de seis décadas depois, estas convicções não deveriam ser esquecidas, nem descartado o esforço para implementar o texto aprovado. Depois de partilhar, hora de compartilhar.
» Alberto Dines é jornalista
Foi pífia a proposta do governo de Israel para iniciar as negociações de paz: paralisar por 10 meses a construção de novos assentamentos na Cisjordânia. Congelamento morno, pouco afirmativo, imediatamente contestado pelos 300 mil colonos já estabelecidos em território que pertence à Autoridade Palestina.
Nem generoso nem voluntário, o gesto do governo de centro-direita de Benjamin Netanyahu foi uma resposta à forte pressão exercida pela Casa Branca no sentido de remover um dos mais visíveis obstáculos às negociações de paz que culminarão com a criação do Estado Palestino.
Esta transação provisória, pouco convincente, melancólica, tem como cenário uma das decisões mais importantes e emocionantes já votadas pela Organização das Nações Unidas em toda a sua história: no dia 29 de Novembro de 1947 - há 62 anos -- por 33 votos a favor, 13 contra e dez abstenções foi aprovada pela Assembleia Geral a partilha da Palestina em dois Estados, um árabe e outro judeu. Entre os apoiadores da partilha estavam três dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança: Estados Unidos, União Soviética e França. A China (ainda de Chiang-Kaichek) se absteve, assim como a Grã Bretanha que detinha o Mandato sobre a região contestada. O brasileiro Oswaldo Aranha, presidente da Assembleia Geral, foi o artífice da histórica decisão ao adiar para a manhã seguinte ao Dia de Ação de Graças, um sábado, uma votação cujo resultado era incerto.
Não é este o lugar para relembrar as dificuldades e o banho de sangue derramado para implementar a decisão da ONU. Importa registrar que ela constitui a base legal para a proclamação da independência do Estado de Israel. Saudada pelos 600 mil judeus que viviam na Palestina encerrou uma perigosa dissensão ideológica que ameaçava dividir a Diáspora recém despertada do horror do Holocausto: a opção de um Estado binacional era apoiada não apenas pelos comunistas, sionistas de extrema esquerda e também pelos seguidores do filósofo humanista Martin Buber.
A extrema-direita (da qual Netanyahu é herdeiro) apostava na conquista integral da Terra Santa (incluindo a antiga Transjordânia). Os religiosos, salvo uma minoria não fundamentalista, eram absolutamente contrários a existência de um Estado judeu que não fosse proclamado pelo Messias, como está nas Escrituras.
A grande maioria seguia a coligação socialdemocrata-centro chefiada por David Ben Gurion e Chaim Weitzmann (escolhidos como primeiro-ministro e presidente do primeiro governo israelense).
O esforço concentrado para a criação de um Estado árabe na Palestina (para usar o vocabulário da época) abre o caminho senão para a paz, pelo menos para um armistício duradouro, depois de sete conflitos bélicos de grandes proporções. Além disso, repara o castigo imposto aos palestinos pela intransigência dos países árabes dos países vizinhos que recusaram a divisão preconizada pela ONU. Sobretudo, cala a boca de delinquentes como Mahmud Ahmadinejad e Osama bin Laden, os hitlers do século 21, cujas carreiras e postulados foram fabricados com a matéria-prima do terrorismo e da insanidade.
A partilha da Palestina precisa ser concluída com urgência. Esta página não pode permanecer semiaberta ou semi-fechada – reticências em história só favorecem os conflitos. Os assentamentos na Cisjordânia são meros empreendimentos habitacionais, subsidiados, destinados a abrigar a fina flor do fanatismo religioso sem qualquer contribuição para o desenvolvimento regional. O congelamento destas incursões imobiliárias como foi proposto é insuficiente, deve ser visto como a etapa inicial para avanços mais corajosos e consistentes.
A Diáspora judaica, inclusive no Brasil, avalizou com emoção a resolução da ONU sobre a Palestina. Mais de seis décadas depois, estas convicções não deveriam ser esquecidas, nem descartado o esforço para implementar o texto aprovado. Depois de partilhar, hora de compartilhar.
» Alberto Dines é jornalista
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