“Tal degradação da opinião pública resulta, necessariamente, do conceito que Hegel tinha da sociedade burguesa. Bem que ele louva uma vez as leis dela, apontando a economia política de Smith, Say e Ricardo como aparência de racionalidade, mas a sua visão do caráter ao mesmo tempo anárquico e antagônico desse sistema de necessidades destrói, decididamente, as ficções liberais, sobre as quais repousava o auto-entendimento da opinião pública como sendo a razão nua e crua. Hegel descobre a profunda divisão da sociedade burguesa, que “não só não supera dialeticamente (...) a desigualdade (...) posta por natureza, mas (...) eleva-a a uma desigualdade das aptidões, da fortuna e até mesmo da formação intelectual e moral”. Pois, “mediante a generalização da vida conjunta dos homens através de suas necessidades e dos modos e meios de evitá-las e satisfazê-las, aumenta o acúmulo de riquezas (...) por um lado, assim como, por outro lado, a individualização e limitação do trabalho singular e, com isso, a dependência e necessidade da classe presa a esse trabalho (...) Aqui se mostra que, apesar do seu excesso de riqueza, a sociedade burguesa não é suficientemente rica, ou seja, em sua peculiar riqueza, ela não possui o suficiente para pagar tributo ao excesso de pobreza e a plebe que ela cria”.”
HABERMAS, Jürgen (Düsseldorf, 18 de Junho 1929), filósofo e sociólogo alemão. Mudança estrutural da esfera pública, p.143-4. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1984.
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