Causou constrangimento
em partidos da base aliada o tom da nota articulada pelo PT em defesa do
ex-presidente Lula e que acusou a oposição de tentativa de golpe. Dirigentes do
PMDB dizem que o partido ficou numa saia justa e discorda do texto. PP e PR não
foram sequer procurados
Campos: nota foi a
quarta versão, e anteriores eram "catastróficas"
Presidente do PSB diz que texto defende Lula e não põe STF sob suspeita
Letícia Lins
Destinatário. Eduardo Campos disse que golpe parte de forças atrasadas
RECIFE O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo
Campos, afirmou ontem que a carta "à sociedade brasileira", subscrita
por seis partidos da base do governo, foi divulgada em sua quarta versão, pois
as anteriores poderiam ser consideradas "raivosas" e
"catastróficas". Ele reconheceu que não foi fácil chegar a um texto
comum, mas que o objetivo do seu partido, do PT, do PMDB, do PCdoB, do PDT e do
PRB foi um só: prestar solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que, segundo ele, esteve sob ameaça em 2005, quando houve um outro
"enfrentamento", numa alusão ao caso do mensalão.
Campos fez as considerações no início da noite de ontem, no final de uma
cerimônia em que assinou decreto em que triplica a área de preservação do
último resquício de mata atlântica da capital pernambucana. A solenidade foi no
horto zoobotânico de Dois Irmãos, um dos recantos mais bucólicos do Recife. O
governador não escondeu as dificuldades de "construir um texto com a
colaboração de muitos", mas negou que ele tenha por finalidade isentar de
culpa quem realmente se excedeu no trato com o dinheiro público, no caso do
mensalão, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
- Quem está errado tem que ser punido. Mas a Suprema Corte tem que ter,
também, a capacidade de inocentar aqueles que não erraram, e isso é o que vai
acontecer. Precisamos aprender a respeitar a decisão dos fóruns, como sabemos
respeitar as decisões do Legislativo. Então, temos também que aprender a
respeitar as decisões da Suprema Corte, sejam elas quais forem - afirmou.
Julgamento deve ser técnico
Para o governador, a nota dos partidos não teve por objetivo levantar
suspeita de que o STF possa decidir por conta das pressões políticas.
- O PSB jamais colocaria em suspeição a Suprema Corte. O partido tem o maior
respeito pelo STF. Até porque temos respeito pela democracia. Acreditamos nas
instituições democráticas - completou.
O presidente do PSB ratificou que a nota teve o objetivo de ser solidária
com Lula, devido às acusações que vêm sendo feitas contra o petista.
- Nós fomos solidários a um grande líder, um grande brasileiro, com enorme
serviço prestado à redemocratização do país; que, como presidente, inseriu o
Brasil em um outro conceito internacional e que tanto lutou para colocar no
centro do debate a desigualdade social. Foi um presidente que teve respeito
pela coisa pública, pelo povo brasileiro e que precisa ser colocado no patamar
dos grandes líderes - justificou.
Sobre o parágrafo mais polêmico da nota, no qual os signatários se referem
àqueles que tentam fazer da ação penal 470 "um julgamento político para
golpear a democracia e reverter conquistas que marcaram a gestão Lula",
Eduardo Campos foi evasivo.
- Sabemos que a democracia foi golpeada várias vezes. E nunca houve golpe à
democracia vindo do Judiciário. O golpe sempre veio de forças políticas
atrasadas, aliadas a setores da elite que fizeram com que o Brasil não tivesse
grandes espaços democráticos no século XX. O que vivemos hoje, a partir da
redemocratização de 1989, é o mais longo período de normalidade democrática.
Não nos referimos a golpe vindo do Poder Judiciário, mas de setores
conservadores, como os que fizeram oposição em 2005, quando tivemos esse
enfrentamento. O debate não deve ser político, porque o que estamos assistindo
é a um julgamento que deve ser técnico, que deve olhar para os autos. E é assim
que deve ser, como é a tradição no Poder Judiciário brasileiro - afirmou.
Texto nasceu de consultas
Ao fim da entrevista, em conversa informal, o governador reconheceu a
dificuldade de construção de um texto comum aos interesses dos partidos, e
lembrou que ele foi modificado muitas vezes, chegando a ter quatro versões. A
última foi a divulgada na quinta-feira.
- Estava no Rio Grande do Norte, quando fui consultado várias vezes,
inclusive por telefone. As outras (versões) eram muito piores. Catastróficas e
até raivosas - contou.
FONTE: O GLOBO
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