A nota de desagravo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos
integrantes de seu governo, divulgada na última quinta-feira pelos principais
partidos da base aliada, tem uma preocupante conotação de afrontamento às
instituições democráticas, especialmente ao Judiciário e à liberdade de
imprensa. Inconformados com reportagem da revista Veja que envolve o
ex-mandatário com as malfeitorias do mensalão, lideranças petistas – com a
chancela da presidente Dilma Rousseff, é importante registrar – apelaram para o
surrado discurso de que existe uma "conspiração das elites
conservadoras" para golpear a democracia e reverter as conquistas da
administração Lula.
Na verdade, a inoportuna manifestação parece expressar muito mais o medo de
perder o poder, o que vem sendo evidenciado pelas perspectivas apontadas pelas
pesquisas para as eleições municipais. Há na reação um conjunto de exageros,
por superar em muito o que seria razoável na situação enfrentada pelos réus do
mensalão. Seria compreensível se os advogados dos envolvidos ou os próprios
acusados questionassem – como eventualmente ocorre – as decisões tomadas pelo
Supremo. A nota divulgada ultrapassa, no entanto, os limites da crítica, ao
expressar posições controversas de partidos que deveriam defender e respeitar a
mais alta corte do país.
Ao insinuar que, por pressão da oposição, o STF pode se submeter a
interesses escusos, os signatários do manifesto ofendem os ministros do Supremo
e, por consequência, toda a Justiça. A quem interessa fazer supor que o STF seria
capaz de conduzir politicamente o mais importante julgamento de sua história?
Quem, por ingenuidade, pode acreditar que os juízes comprometeriam suas
reputações e a da instituição a que pertencem, envolvendo-se em embates
políticos e partidários?
A nota é ofensiva também quando compara as atuais circunstâncias às que
antecederam o suicídio de Getúlio Vargas e o golpe militar de 1964, pois
subestima o discernimento da população. É de se lamentar ainda que o desagravo
tenha sido articulado pelo ex-ministro José Dirceu, réu do processo, e que seu
texto tenha passado pelo crivo do Palácio do Planalto. O que o manifesto
expressa, nas entrelinhas, é o desconforto dos signatários com o rumo tomado
pelo julgamento. Reverteram-se, desde as primeiras deliberações do relator, as
expectativas de que o Supremo poderia ser brando com alguns envolvidos, em
especial os de maior expressão. O que importa é que, a partir das decisões
soberanas do Supremo, a sociedade também fará seu juízo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário