Denise Rothenburg, Paulo de Tarso Lyra
O escândalo do mensalão havia caído há menos de seis meses como uma bomba no
colo do PT, quando o então ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner,
avisou ao presidente Lula que seria candidato ao governo da Bahia em 2006.
"Não vá, eu preciso de você aqui comigo", pediu Lula. Jaques Wagner,
o "Galego", emocionou-se, mas permaneceu irredutível na decisão.
"Ele vai sair, vai perder, depois vai querer voltar e eu não vou poder
nomear porque não posso abrir o governo a todos os derrotados nas eleições como
fiz em 2002", resmungou Lula a um interlocutor que presenciou o diálogo acima.
Se conseguir emplacar o petista Nelson Pellegrino como prefeito de Salvador
no próximo domingo, o desacreditado Wagner de 2006 vai se tornar, em 2012, o
maior nome do PT no Nordeste. Para os petistas, isso não é pouco. Significa um
contraponto ao crescimento do PSB de Eduardo Campos na região.
O incensado Jaques Wagner de hoje não tinha crédito político nenhum na praça
em 2006. "Ninguém, além dele, acreditava na hipótese de vitória",
admitiu ao Correio um ex-ministro de Lula. Mas Wagner foi eleito governador no
primeiro turno, quebrando a hegemonia do grupo do ex-senador Antonio Carlos
Magalhães, comandando o estado há 16 anos. Foi reeleito quatro anos depois,
tornando-se uma das maiores apostas do partido no Nordeste.
A região tornou-se crucial para o PT. Pelos cálculos do partido, a
presidente Dilma Rousseff se sairá bem no Sul e no Sudeste, à exceção de Minas
Gerais, onde o pré-candidato do PSDB, Aécio Neves, tem a vantagem. Portanto, se
conseguir evitar o crescimento de Eduardo Campos no Nordeste, hoje visto com
desconfiança por parte do PT, Dilma terá mais segurança numa campanha
eleitoral. "Não vejo como fazer essa comparação. Eduardo é uma liderança
mais enraizada, afirmativa, ousada e audaciosa. Menos blazê", completa o
ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), desafeto político de Wagner.
Longe de atritos
As semelhanças estão no jeito leve de tratar a política, sem grandes atritos
com os adversários ou ações que levem os desentendimentos para o campo pessoal.
Da mesma forma que Eduardo Campos hoje atrai o senador Jarbas Vasconcelos
(PMDB-PE), Wagner também aglutinou adversários. "Ele é leve, jeitoso, tem
um jeito moderno e conciliador de fazer política", disse ao Correio o
senador Delcídio Amaral (PT-MS), que dividiu com ele os holofotes em 2005 e
2006. Wagner era ministro da Articulação Política e Delcídio, presidente da CPI
dos Correios.
O desafio será, além de eleger Pellegrino, reorganizar as contas estaduais e
recuperar o prestígio perdido por conta da greve dos policiais, que deixou a
imagem do comando estadual arranhada e quase põe a perder o projeto político de
tentar conquistar a prefeitura de Salvador. Eduardo não só tem as contas em
dia, como venceu a eleição em Recife em primeiro turno.
Fonte: Correio Braziliense
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