Cabral decidiu desapropriar a Refinaria de Manguinhos. O
primeiro debate foi de ordem ambiental. A região pode ser descontaminada para
se tornar área residencial? Quanto custaria esse projeto? Quanto tempo tomaria?
O governador visitou a Inglaterra algumas vezes para
observar as Olimpíadas. Ele viu que grandes áreas foram descontaminadas com a retirada
de toneladas de terra.
Mas no olhômetro torna-se difícil afirmar alguma coisa.
Cabral deveria ter feito estudos antes de tomar o passo.
Entra aí uma outra dimensão de complexidade. Cabral diz que
a refinaria não produz quase nada. Ela durante 10 anos sonegou impostos e
deixou de pagar suas dívidas.
Num determinado momento, um quadro do PT, Marcelo Sereno,
ex-assessor de José Dirceu, foi guindado à direção de Manguinhos.
O núcleo da empresa que obteve do governo de Benedita da
Silva a isenção de um tipo de imposto aproximava-se assim do grupo dirigente do
PT.
Não é possível que Cabral ignorasse esse dado. Na verdade, parece
que decidiu enfrentar os donos da refinaria e seus padrinhos no PT.
Mais de mil funcionários da refinaria serão demitidos e
fizeram manifestação contra o decreto de Cabral. Fala-se também que a refinaria
receberia investimentos chineses.
Manguinhos não dependeu só de isenção de imposto, mas também
de uma aproximação amigável da Petrobrás. Para isso, serve também o PT.
O mais importante desse projeto é determinar a segurança da
descontaminação. Se as pessoas forem morar lá devem fazê-lo sem nenhuma sombra
de perigo.
No momento o debate é ecológico. Mas como envolve grandes
aliados na base do governo pode ter desdobramentos políticos.
Há, no mínimo, duas maneiras de conhecer o que passará nessa
trama. Uma é o acompanhamento da imprensa. Outra, audiência pública na
Assembleia.
A refinaria, apesar de ter ganho isenção de um imposto,
ainda assim tem dívidas muito grandes com o Estado. Cabral afirmou também que
ela quase não produzia.
A decisão de desapropriar surgiu na esteira da ocupação de
Manguinhos pela PM e a próxima chegada de uma UPP.
Em caso de descontaminação, as terras serão valorizadas.
Quem vai aproveitar essa nova situação? O próprio governo vai construir ou
venderá o terreno para as empreiteiras? Elas pagarão pelo dinheiro gasto para
descontaminar?
No momento, são muitas perguntas. Não se pode afirmar ainda
que foi uma boa decisão de Cabral. Faltam dados.
Interessante o destino dessas empresas que gravitam em torno
do governo. Ou são tomadas pelos quadros do partido dominante ou são
desapropriadas.
O mercado apenas não basta para salvá-las. Olha que não é
pouco ganhar isenção para uma parte do imposto e dar o cano em outra parte substancial.
Ainda assim, Manguinhos cai de novo na agenda nos braços do governo.
Fonte: Jornal Metro/Rio
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