Cristian Klein
SÃO PAULO - O crescimento do PSB no primeiro turno das eleições municipais
fortaleceu o projeto presidencial de seu líder, o governador de Pernambuco
Eduardo Campos, mas o aumento nacional de 41% no número de prefeituras - o
maior entre os médios e grandes partidos - esconde as dificuldades que a sigla
ainda encontra para catapultar Campos ao Palácio do Planalto.
Apesar do crescimento, a agremiação ainda não conseguiu se expandir para
além do Nordeste. Nesta região, onde o PSB tem quatro de seus seis
governadores, a legenda elegeu quase 60% dos seus prefeitos. A conquista do Sul
e do Sudeste ficou prejudicada, principalmente com os resultados em São Paulo e
no Paraná, primeiro e sexto maiores colégios eleitorais do país.
A dobradinha com o governador do Paraná, o tucano Beto Richa, não prosperou.
O partido perdeu a capital Curitiba - o prefeito Luciano Ducci sequer chegou ao
segundo turno - e deixou de crescer no interior. Num Estado com 399 prefeituras,
ficou praticamente estável ao ganhar mais dois municípios e sair de 12 para 14
(16,7%). O crescimento do PT, por exemplo, foi de 32 para 40 (25%).
Na vizinha Santa Catarina, o PSB tem uma de suas seções estaduais mais
fracas e foi de uma para duas prefeituras, num total de 295 municípios. O
resultado reflete o acordo nacional - entre Campos e o presidente nacional do
PSD, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab - que pôs a legenda no Estado a
serviço do governador Raimundo Colombo (PSD).
A contrapartida, porém, não veio. Pelo menos em São Paulo, onde a presença
de Kassab poderia ter facilitado o tão desejado avanço de Campos no maior
eleitorado do país. Nos 645 municípios paulistas, o PSB passou de 25 para 28
prefeituras (4,3% do total) e ainda contabilizou derrota inesperada, num
bastião do partido: São Vicente.
Ali, um dos caciques da legenda, o deputado federal Márcio França, líder da
bancada na Câmara, perdeu a hegemonia que manteve por quatro mandatos: dois com
ele mesmo e mais dois com o seu sucessor, Tércio Garcia. Desta vez, seu filho,
o vereador Caio França, era o grande favorito e disputava com uma coligação
formada por nada menos que 21 partidos. Mas perdeu para o também vereador Luís
Claudio Bili (PP), que tinha o apoio dos minúsculos PRTB e PTdoB.
O primeiro-secretário nacional do PSB, Carlos Siqueira, lembra que São
Vicente era apresentada em palestras como um dos três maiores casos de sucesso
de administração do partido. Era um "case", assim como o prefeito
Yves Ribeiro, que se elegeu cinco vezes seguidas, desde 1992, ao trocar de
domicílio eleitoral pelos municípios de Itapissuma, Igarassu e Paulista, em
Pernambuco.
"Creio que houve um erro de avaliação na escolha do candidato, muito
jovem, de 23 anos. O excesso de confiança não foi muito bem aceito pela
população", afirma Siqueira.
Outra cidade onde o PSB enfrenta dificuldade é Campinas, que, com 785.274
eleitores, a terceira maior de São Paulo e 14ª maior do país, é tratada como se
fosse uma capital. No primeiro turno, o deputado federal Jonas Donizette, que
sempre foi favorito, deixou de ganhar por pouco e fez 47% contra 28% do petista
Márcio Pochmann, ex-presidente do Ipea. Pelo Ibope, contudo, os dois agora
aparecem tecnicamente empatados: 45% a 39%. A coligação de Donizette tem oito
partidos. Do outro lado, a de Pochmann conta com apenas quatro, entre eles o
PSD de Kassab.
Campinas é essencial na estratégia de expansão do PSB, pois seria de fato um
avanço no Sul e no Sudeste. No grupo dos cem maiores municípios do país, o
partido conquistou oito cidades em 2008, que reúnem 3.759.604 eleitores. Neste
ano, no primeiro turno, o PSB ganhou em sete, que juntas têm 4.193.372, o que
já representa um crescimento de 13,5%. O potencial de aumento no segundo turno
é enorme, pois a sigla está na disputa de mais sete cidades (com 4.135.916
eleitores). Ocorre que menos da metade deste eleitorado está no Sul e Sudeste.
Por isso, a importância da vitória em Campinas e nos outros três municípios
destas regiões: Petrópolis (RJ), Duque de Caxias (RJ) e Uberaba (MG). As outras
três cidades são as capitais Porto Velho, Cuiabá e Fortaleza.
Uma vitória na capital cearense marcaria ainda mais o Nordeste como o grande
reduto do PSB, que venceu também no Recife, no primeiro turno, numa
demonstração de força de Eduardo Campos em seu quintal.
Mas até na região o partido colheu frustrações expressivas. Em Alagoas, não
houve crescimento; em Sergipe, houve perda de 9%; na Bahia, a expectativa era
eleger 40 prefeitos e foram 30; e no Rio Grande do Norte, a sigla teve um tombo
de 56%. Elegeu 44 prefeitos em 2008 e agora apenas 19. Os vereadores eram 308 e
minguaram para 202. "É natural, agora estamos na oposição. E o governo
está muito próximo desta política municipal", afirma a ex-governadora
Wilma de Faria, presidente estadual do partido e candidata a vice-prefeita na
chapa de Carlos Eduardo (PDT), em Natal.
De todas as derrotas do PSB no Estado a mais sentida foi em Mossoró, onde a
deputada estadual Larissa Rosado perdeu na reta final para Claudia Regina,
apoiada pela governadora Rosalba Ciarlini, ambas do DEM. "Houve uma
avalanche de promessas, dos governos municipal e estadual, com todos os
projetos possíveis e imagináveis, incluindo a construção de um estádio",
justifica Wilma.
Mesmo o maior avanço pelo Sudeste, em Minas Gerais, onde o PSB passou de 12
para 31 prefeituras (158%), é tido como aquém da expectativa. "É
significativo, mas ainda muito insuficiente", afirma Siqueira.
Apesar da pouca inserção do partido nas duas regiões, Carlos Siqueira afirma
que o projeto presidencial de Eduardo Campos não depende tanto da eleição
municipal. Há um conjunto de fatores, afirma, entre eles o apoio de setores
estratégicos da sociedade, como os empresariado. "O PT, em 2002, tinha menos
prefeituras do que a gente agora. Mas quem eles buscaram para ser o vice do
Lula? O José Alencar, então um dos maiores empresários do país", diz
Siqueira. (Com Valor Data)
Fonte: Valor Econômico
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