Parece incrível, mas Vinicius de Moraes teria feito 99 anos na sexta-feira
última. Como se não bastasse, a data foi o ponto de partida para o seu
centenário -que, para todos os efeitos, já começou. Uma vasta programação,
incluindo reedições de sua obra e antologias de textos nunca publicados em livro,
uma caixa de seus discos (dispersos por vários selos), uma exposição
itinerante, shows, palestras etc., ocupará os próximos 12 meses. E isso é só o
Vinicius oficial.
Ótimo. Efemérides como essa devem zarpar de um projeto institucional e, daí,
abrir-se a adesões -sempre que possível, sem ônus. Foi o que determinou o
sucesso do centenário de Nelson Rodrigues, ainda em curso, e, há tempos, o
fracasso do centenário de outros artistas -pela ganância dos herdeiros.
Quando se dizia que Vinicius era um ser plural, não estavam brincando.
Poeta, diplomata, letrista, cantor, cronista e homem de teatro, cinema, uísque
e mulher, ele pode ser abordado de muitos ângulos. Um ano será pouco para
homenageá-lo, daí terem começado tão cedo.
Repórter da "Manchete", fui entrevistá-lo em princípios de 1968,
em sua casa na Gávea. Vinicius estava no banho, mas já vinha, me disseram. OK.
Só que quem apareceu primeiro foram duas jovens repórteres, rindo muito. Em
seguida, surgiu Vinicius, num rastro de sabonete e talco, recém-saído da
banheira onde recebia todo mundo. Por acaso, recebeu-me à paisana.
Devo ter toda a poesia e música de Vinicius. Mas o que me orgulho mesmo de
possuir são os dois números da incrível revista "Filme", que ele
editou com Alex Viany em 1949 e que encontrei num sebo. Fazer uma revista de
cinema, de nível internacional, era um sonho antigo, a que ele se atirou com
amor. E conseguiu. Pena ter ficado nesses dois números -Chaplin na capa do nº
1, Fred Astaire na do nº 2.
Fonte: Folha de S. Paulo
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