Relatório sobre perspectivas econômicas da região foi apresentado no
primeiro dia da Cúpula Íbero-Americana
Andrei Netto
CADIZ - Chefes de Estado e de governo da América Latina reunidos na Cúpula
Ibero-Americana em Cadiz, na Espanha, receberam ontem uma má e uma boa notícia
em termos econômicos. Pelos prognósticos da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE), a região deve de fato crescer menos em 2012
do que no ano anterior: 3,2% contra 4,4%, respectivamente. Em contrapartida, a
aceleração retorna no próximo ano, quando o Produto Interno Bruto (PIB) pode
avançar 4%.
As informações fazem parte do relatório Perspectivas Econômicas para a
América Latina 2013, lançado ontem, às margens da cúpula. Segundo o
secretário-geral da entidade, Angel Gurría, o prognóstico é "relativamente
positivo, mas exposto à incerteza global e à volatilidade", à redução da
demanda interna e das exportações de matérias-primas. O momento é propício, diz
o economista mexicano, para que os países latino-americanos estimulem o
crescimento e "contenham riscos".
"É a hora de a América Latina aprimorar sua estrutura e fazer avanços
que reduzam a desigualdade e estimulem o crescimento econômico", exortou
Gurría. "O contexto global pede mudanças estruturais para estimular a
produtividade."
O secretário-geral da organização citou o caso das pequenas e médias
empresas (PMEs), que têm alto peso econômico na região, empregando 67% dos
trabalhadores. "Pequenas e médias empresas na América Latina têm o poder
de agir como catalisador para ajudar a região a aprimorar sua produtividade.
Mas uma maior coordenação é necessária para ajudar as PMEs a superar obstáculos
em termos de acesso a financiamento, capital humano e inovação", diz o
relatório da OCDE.
Elogios. O documento também traz críticas construtivas ao Brasil, em
especial ao programa Inova Brasil, um projeto de estímulo à ciência, à
tecnologia e à inovação mantido pela empresa pública Financiadora de Estudos e
Projetos (Finep). "Tais programas precisam ser desenvolvidos em larga
escala", apregoa a organização.
A OCDE também destaca como ponto positivo da América Latina a baixa taxa de
desemprego, que deve fechar 2012 em 6,5%, inferior aos 11,5% da zona do euro,
que atravessa a crise das dívidas soberanas.
Por outro lado, critica a arrecadação tributária "excessivamente
baixa", de 19,4% em 2010, ainda muito inferior ao patamar dos 33
países-membros da entidade, cuja média é 34%.
Desigualdade. Os bons números da economia, entretanto, não devem acomodar os
dirigentes latino-americanos, que ainda enfrentam o desafio da inclusão social.
A advertência foi feita ao Estado pelo secretário-geral- adjunto do Programa de
Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud), Heraldo Muñoz. Para o executivo, a
região vive um crescimento "invejável" por países desenvolvidos, o
que retirou 51 milhões de pessoas da pobreza - dos quais 40 milhões só no
Brasil. Ainda assim, há problemas urgentes a enfrentar. "Queremos focar no
objetivo político da redução da desigualdade", afirmou, lembrando: "A
América Latina é a região mais desigual e mais violenta do mundo".
Fonte: O Estado de S. Paulo
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