O tambor produz sempre o mesmo som. Ele repete, repete, repete e é
necessário que seja assim.
E uma das observações que precisam ser repetidas tem a ver com a função que
o câmbio exerceu e ainda exerce na economia brasileira.
Relegado às suas condições, na história recente, raras vezes o setor
produtivo foi competitivo. Enfrenta crônica incapacidade de vender mais barato,
aqui e no exterior.
Por isso, quando a produção tendia ao encalhe por sair cara demais, o setor
privado reivindicava e o governo federal dava mais câmbio; sempre promovia a
desvalorização da moeda nacional. Essa manobra cumpria a função de encarecer o
produto importado em moeda nacional e baratear em moeda estrangeira o
exportado. O setor produtivo sempre dependeu dessa bengala. E continua com as
mesmas reclamações por mais câmbio e por mais desvalorização da moeda nacional
para garantir seu faturamento aqui dentro e lá fora.
Até há alguns anos, a falta de competitividade do produto brasileiro estava
associada à baixa eficiência administrativa e ao baixo nível tecnológico dos
sistemas produtivos do Brasil. Eram empresários despreparados, apegados a
métodos tradicionais de governança do seu negócio. Mas isso mudou. Em todos os
segmentos, o produtor brasileiro incorporou o melhor do estado da arte no
gerenciamento dos seus negócios. Além disso, mal ou bem, todos os anos, avanços
tecnológicos vêm sendo incorporados ao sistema produtivo brasileiro.
Hoje, a baixa competitividade das empresas do País é o resultado do alto
custo Brasil, sobretudo da enorme carga tributária, da precariedade e do custo
elevado da infraestrutura, da energia elétrica cara demais, dos enormes
encargos trabalhistas... A lista é enorme e sobejamente conhecida.
O problema é que a economia brasileira está se estruturando de tal maneira
que será muito difícil prosseguir compensando com desvalorização cambial a
baixa competitividade do setor produtivo nacional.
É inevitável, por exemplo, que, dentro de cinco ou seis anos, o Brasil se
transforme em grande exportador de commodities, especialmente de minérios,
petróleo e alimentos. A entrada de moeda estrangeira será maior do que a saída.
Além disso, a enorme propensão ao consumo em detrimento do investimento tornará
a economia brasileira altamente dependente do afluxo de capitais de longo
prazo. Mais recursos externos entrando do que saindo implicam alta das cotações
do dólar e demais moedas estrangeiras. Ou seja, o sistema produtivo terá de
conviver com uma moeda nacional relativamente valorizada em relação às demais
moedas fortes.
Mal acostumada com compensações cambiais, a indústria terá de se preparar
para enfrentar o novo jogo e isso exigirá enorme incorporação de tecnologia.
Mas essa é a parte que cabe ao setor produtivo. Mesmo a indústria mais
eficiente não terá como sobreviver ao câmbio mais valorizado, se o governo
federal não tratar de derrubar o custo Brasil.
E, para isso, será necessário adotar as reformas que há tantos anos estão
engavetadas: a tributária, a trabalhista, a da Previdência, a do Judiciário e a
política - sem falar do desenvolvimento do mercado de capitais e do aumento da
qualidade da educação. É esse o som do tambor que tem de ser ouvido de norte a
sul do Brasil.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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