A conta é simples: os EUA arrecadam US$ 2,4 trilhões; gastam US$ 3,5 trilhões.
Rombo de US$ 1,1 trilhão. Esse é o orçamento do governo americano este ano, com
déficit estimado em 7% do PIB. O montante no vermelho é quase duas vezes maior
que o PIB de Grécia, Irlanda e Portugal juntos. Não é pequeno o tamanho do
impasse entre democratas e republicanos.
As contas estão fora do lugar, mesmo para um Tesouro que emite dólares e faz
captações no mercado com juros reais negativos, como o americano. A projeção do
FMI é que a dívida pública chegará a 107% do PIB este ano, passará de US$ 15
trilhões. O déficit será maior que US$ 1 trilhão pelo quarto ano seguido.
Continuar nessa escalada é insustentável.
Há consenso entre governo e oposição de que é preciso ajustar as contas. As
divergências estão na forma de fazer isso. Obama quer cortes em defesa e
aumento de impostos para os mais ricos. Os republicanos querem cortar gastos
com programas sociais e não aceitam reduzir orçamentos militares.
O que está sendo chamado de abismo fiscal nada mais é do que promover um
forte ajuste automático nas contas públicas no ano que vem. Pela projeção do
Escritório de Orçamento do Congresso americano (CBO, na sigla em inglês), a
arrecadação subiria cerca de US$ 500 bilhões em 2013, indo de US$ 2,4 trilhões
para US$ 2,9 trilhões.
A despesa ficaria estável, em US$ 3,5 trilhões. Com isso, o déficit de US$
1,1 trilhão deste ano seria reduzido para a casa dos US$ 600 bilhões. Cairia de
7% para 4% do PIB. Os ajustes continuariam em 2014 e nos anos seguintes.
Parece bom. O problema é que esse aumento de arrecadação viria, em mais de
US$ 400 bilhões, do bolso da classe média, que sustenta o consumo.
Os pacotes de redução de impostos oferecidos pelos governos Bush e Obama,
depois da crise de 2008, acabam em dezembro. Se não forem renovados, as
famílias terão menos renda para gastar. As empresas vão vender menos e farão
menos encomendas à indústria. Os bancos também podem ter problemas com calotes.
Este é o risco, que o tranco seja muito forte e a recuperação fique pelo
caminho.
Fonte: O Globo
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