É ao mesmo tempo irônico e acintoso que a Agência Nacional de Águas seja
colhida por um escândalo de distribuição de propinas enquanto o Nordeste
enfrenta a pior seca em 50 anos.
Ou que a Agência Nacional de Transportes Aquaviários vire alvo de
ridicularias justamente quando o Planalto retoca licitações e metas de
desempenho para o setor portuário, um dos mais dramáticos gargalos de
infraestrutura do país.
Ou que a Agência Nacional de Aviação Civil seja exposta como um cabidão de
empregos no momento em que as companhias aéreas catapultam tarifas, extinguem
linhas populares e demitem centenas de funcionários -e o governo redige os
termos da concessão de dois aeroportos e completa a migração para a iniciativa
privada de outros três.
Ou que fique patente a vulnerabilidade do MEC em pleno processo de
aperfeiçoamento de cadastros e regulação universitária.
Ou, ainda, que a cúpula da Advocacia-Geral da União enfrente denúncias de
corrupção logo quando era requisitada para sanar impasses de enorme impacto
nacional, como a divisão dos royalties do petróleo.
A quadrilha desbaratada pela Polícia Federal impressiona, primeiro, pelos
danos que causou e/ou pretendia causar ao erário. Uma única negociata no porto
de Santos envolvia R$ 2 bilhões.
Impressiona, também, pelo apetite: além dos órgãos já citados, o grupo
conseguiu se intrometer no Tribunal de Contas da União, na Secretaria do
Patrimônio, no Banco do Brasil, na Brasilprev, nos Correios...
Mas impressiona, sobretudo, que toda essa rapinagem só tenha prosperado
porque o governo se pôs de joelhos para atender o desejo de Lula. Rosemary
Noronha virou chefe de gabinete apenas por (e para) privar da intimidade do
presidente. É errado culpá-la sozinha pela mistura de agendas nessa lamentável
parceria público-privada.
Fonte: Folha de S. Paulo
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