Josias de Souza
Em conversa com um deputado do PSDB mineiro, há quatro
dias, Fernando Henrique Cardoso recordou, entre risos, uma frase que diz ter
ouvido do líder socialista da Espanha Felipe González: ex-presidentes são como
vasos chineses. Todo mundo acha lindo. Mas ninguém sabe onde colocar.
Desde que deixou a Presidência da República, em 2002,
FHC vinha sendo tratado pelo seu partido como um vaso chinês. Ganhou o título
honorífico de ‘presidente de honra’ do PSDB e foi enfiado no armário. Passou a
flertar com a amargura. Foi atacado pela síndrome de que sua obra e seu valor
não eram reconhecidos.
Após amargar três derrotas para o PT –quatro se for
incluído o revés paulistano de 2012— o PSDB ‘redescobriu’ FHC. Aos 81 anos, o
‘vaso’ voltou à sala-de-estar do tucanato. Recebe agora um tratamento que
costuma ser dispensado aos sábios da tribo. No seu caso, uma tribo à beira da
acefalia.
FHC tornou-se o principal mentor da “renovação” do
ideário tucano. Algo que o PSDB discute pelo menos desde 2006. Gira como
parafuso espanado, sem sair do lugar. Numa fase em que se considera acima das
contingências e mesquinhezas da vida, FHC se dispôs a supervisionar o processo
de “realinhamento” da legenda.
Em reuniões separadas, conversou na semana passada com
o presidenciável Aécio Neves e com o presidente do diretório do PSDB de Minas
Gerais, deputado federal Marcus Pestana. Trocaram ideias sobre o que precisa
ser feito em 2013 para que o tucanato chegue a 2014 de bico novo. Vai abaixo um resumo do conteúdo do ‘vaso’:
1. Pós-udenismo:
FHC sustenta –e boa parte da legenda concorda— que o eleitor brasileiro já deu
demonstrações de que não guia seu voto pelo debate ético. Avalia-se que o PSDB
não pode abandonar a crítica às perversões administrativas e políticas que
identifica no governo e no PT. Mas cometerá um erro se imaginar que o veneno
renderá votos. Concluiu-se que o discurso de timbre udenista já não cola.
2. Pós-Real:
enrolado na bandeira da estabilização da economia, FHC derrotou Lula um par de
vezes. Hoje, acha que o Plano Real e suas consequências benfazejas viraram
dados da realidade. O PSDB teria de propagar sonhos novos. Fácil de falar,
difícil de fazer. Busca-se a “criatividade” no trato de problemas velhos –da
insegurança pública ao déficit tecnológico na educação.
3. Juventude:
um dos grandes desafios que o tucanato se auto-impôs é o de achegar-se ao
eleitor jovem. Nesse esforço, FHC empina expressões como “tolerância cultural”.
Algo que incluiria até a valorização do ‘rap’ e do ‘funk’. Defende a exploração
das chamadas novas mídias. Prega, de resto, o rejuvenescimento do programa
partidário, com a inclusão de temas como economia verde e mudança do padrão de
consumo do brasileiro. Como há mais dúvidas do que certezas, FHC disse ao
deputado Marcus Pestana que as lideranças do PSDB “precisam ouvir mais e falar
menos”.
4. Método:
no estágio atual, o PSDB discute o método de condução do debate interno. FHC
gostou de uma prosposta feita por Marcus Pestana. Prevê a realização de um
congresso. Seria dividido em três etapas –uma municipal, em março; uma
estadual, em abril; e outra nacional, em maio. Para evitar a dispersão, o
debate seria guiado por um texto-base. FHC se dispôs a supervisionar a
elaboração da peça.
5. Comando:
presidente do Instituto Teotônio Vilela, braço acadêmico do PSDB, o ex-senador
Tasso Jereissati sugeriu a Aécio Neves que assumisse a presidência do partido
no lugar de Sérgio Guerra, cujo mandato expira em maio. FHC tenta devolver o
balão de ensaio ao solo. Acha que a “fulanização” prejudica o processo.
Primeiro, o partido teria de reposicionar-se em cena, num movimento coletivo de
afirmação. O nome do novo presidente do partido viria na sequência.
6. Alvo:
o tucanato pretende ajustar sua alça de mira. Concluiu que desperdiça muita
munição com Lula. Vai priorizar os ataques a Dilma Rousseff e à administração
dela.
7. Multipolaridade:
o PSDB já não se mostra tão incomodado com o assanhamento do neo-presidenciável
Eduardo Campos (PSB). Num raciocínio endossado pelo próprio Aécio, FHC passou a
achar que as chances da oposição em 2014 crescerão na proporção direta do
aumento do número de candidatos. Nessa teoria, uma disputa que incluísse Aécio,
Eduardo e, quem sabe, Marina Silva (sem partido) garantiria pelo menos a
realização de um segundo turno.
Fonte: Blog de Josias
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