Lula deixou a
Presidência da República com uma ideia fixa — ou melhor: duas ideias. A
primeira: continuar mandando à distância por meio de Dilma. No que lhe
interessa de verdade não pode se queixar . Manda. Outro dia até inventou uma
CPI e Dilma só ficou sabendo ao retornar de uma viagem ao exterior . A segunda
ideia : por mais que negue, suceder Dilma a partir de 2014. Dona Marisa estava
de acordo.
O CÂNCER NA LARINGE
subtraiu-lhe parte da energia. Nem por isso abdicou do sonho do terceiro
mandato. Recupera-se satisfatoriamente. E, salvo um imprevisto médico, estaria
pronto para ir à luta. Ocorre que duas gigantescas jamantas o atropelaram de
agosto para cá: o julgamento do mensalão e o Rosegate. Está lá, pois, o corpo
de Lula estendido no chão. E é improvável que se levante antes de 2014. Depois
será muito tarde.
DIZ O PT , amparado
por marqueteiros e analistas de pesquisas eleitorais: o julgamento do mensalão
em pouco influenciou as eleições municipais de outubro último. O efeito dele
foi quase nulo até mesmo em São Paulo, onde PT e PSDB travaram dura batalha. De
fato, eleição municipal é um fenômeno localizado . O eleitor está à procura de
quem possa melhor administrar a sua cidade. Nada mais importa.
ELEIÇÃO PARA
DEPUTADO, senador , governador e presidente da República, não. Com frequência
os interesses nacionais contaminam os locais. Exemplo? Manaus. Ali, em 2006,
Lula colheu mais de 80% dos votos. Quatro anos depois, Manaus garantiu a Dilma
votação estupenda. Lula foi lá este ano e pediu para que derrotassem Arthur
Virgílio (PSDB), candidato a prefeito e seu desafeto. Arthur se elegeu com
folga.
SE A JUSTIÇA pusesse
amanhã um ponto final no caso do mensalão e se o Rosegate acabasse apagado, por
milagre, dos anais da política brasileira e da memória coletiva, nem por isso
aumentariam as chances de Lula engatar a marcha da volta triunfal à presidência
daqui a dois anos. Imagine Lula candidato tendo que explicar a cada momento por
que alguns dos seus ex-auxiliares de maior confiança estão presos.
SIM, PORQUE os réus
do PT no processo do mensalão só deverão ir para a cadeia no segundo semestre
do próximo ano. E na cadeia ainda estarão quando a campanha presidencial do ano
seguinte começar a pegar fogo. Quer um cenário ainda pior para Lula, aspirante
à vaga de Dilma? E se em breve ele e outros suspeitos forem indiciados em um
novo inquérito do mensalão? Isso não é só possível. É provável. A conferir .
O MENSALÃO é um
assunto árido para parcela expressiva dos brasileiros. E como envolve
políticos, grana e desonestidade, não chama tanto a atenção. Estamos
acostumados. O Rosegate tem um ingrediente que o torna popular: lençóis e
traições. É fácil de ser explicado: Lula cedeu à tentação e empregou no governo
pessoas indicadas pela moça que se dizia sua namorada.
ALOJADOS EM cargos
estratégicos de agências reguladoras, tais pessoas formaram uma quadrilha para
traficar influência. A Polícia Federal descobriu e indiciou-as por corrupção. A
moça, também. Sob a ótica religiosa, Lula é o novo São Sebastião. Sob a ótica
profana, o Tufão de um país chamado Avenida Brasil. Esse foi o lance inaugural
da eleição de 2014. O difícil é acreditar que ele tenha surpreendido Dilma.
NA MELHOR das
hipóteses, Rose fez Lula de bobo. Na pior , de cúmplice. Levando-se em conta
seu prontuário, Lula ficou com mais pinta de cúmplice do que de o bobo de
Rosemary
Fonte:
O Globo
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