Rogério de Abreu
Menescal, secretário de Planejamento e Desenvolvimento Portuário da Secretaria
de Portos, foi citado no relatório da PF por ter recebido em seu gabinete Paulo
Vieira, suposto chefe da quadrilha, a pedido de Gilberto Miranda, ex-senador
Relatório da PF
cita secretário da área de portos do governo
Rogério Menescal recebeu Paulo Vieira, que disse representar Gilberto
Miranda
Vinicius Sassine, Danilo Fariello
Paulo Vieira. Reunião a pedido de Gilberto Miranda
CERCO À CORRUPÇÃO
BRASÍLIA - O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Portuário da
Secretaria Especial de Portos (SEP) da Presidência, Rogério de Abreu Menescal,
recebeu na sede do ministério o então diretor da Agência Nacional de Águas
(ANA), Paulo Rodrigues Vieira, que deixou claro estar na reunião "a pedido
do Gilberto". Vieira e o ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) foram
indiciados pela Polícia Federal nas investigações da Operação Porto Seguro.
O encontro entre Menescal e Vieira, em 24 de abril deste ano, é descrito na
parte do inquérito da PF dedicada às supostas intermediações feitas pelo
ex-diretor da ANA para favorecer a instalação de um terminal portuário de uso
privativo pertencente a Miranda no Porto de Santos (SP). Menescal não foi
investigado pela PF.
Vieira ainda apresentou um dos sócios de Miranda a Menescal e afirmou - numa
conversa telefônica no viva-voz com um servidor da Agência Nacional de
Transportes Aquaviários (Antaq) - que o secretário queria a cópia da declaração
de utilidade pública de um terminal portuário vizinho. Segundo nota da SEP,
Menescal aceitou o pedido de audiência de Vieira enquanto representante de
órgãos públicos. O motivo só foi revelado durante a reunião: o empreendimento
na Ilha dos Bagres a cargo de uma empresa ligada a Miranda, conforme a própria
secretaria.
Depois do encontro, entre maio e novembro, Menescal participou no Palácio do
Planalto de pelo menos nove reuniões com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi
Hoffmann, para discutir a elaboração do programa de investimentos dos portos,
com valor de mais de R$ 40 bilhões, a ser lançado pela presidente Dilma
Rousseff quinta-feira. Segundo a agenda de Gleisi, em apenas duas das nove
reuniões Menescal foi como acompanhante do ministro da SEP, Leônidas Cristino.
Nas demais, ele representava a pasta.
Também o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, esteve em três dessas
reuniões. Com a deflagração da Operação Porto Seguro, Adams negou qualquer
participação do então advogado-geral adjunto, José Weber Holanda Alves,
indiciado pela PF, na elaboração do programa de portos. Essa tem sido uma
preocupação do Planalto: desvincular as investigações do novo pacote para o
setor.
Uma portaria assinada pelo ministro Leônidas Cristino em julho ampliou os
poderes de Menescal, e ele passou a substituir o secretário-executivo, Mario
Lima Junior, em seus afastamentos. Lima Junior também é citado pela PF. Segundo
o inquérito, ele se reuniu com Paulo Vieira para tratar do porto privativo no
Complexo dos Bagres.
Da sala de reuniões no 13º andar do prédio da SEP, Vieira ligou para Ênio
Soares Dias, chefe de gabinete da Antaq indiciado na Operação Porto Seguro e já
afastado do cargo, e afirmou: "Eu vim aqui a pedido do Gilberto. Eu vim
aqui para apresentar para o Rogério o doutor Awazu (provável sócio do
ex-senador, segundo a PF)".
Eles falam de uma empresa que explora um terminal privativo e teria obtido
declaração de utilidade pública junto à secretaria. "O doutor Rogério
Menescal gostaria de ter uma cópia dessa declaração", afirma Vieira. A SEP
confirma o recebimento do documento e sustenta que o órgão não emitiu declaração
de utilidade pública para o empreendimento da Ilha dos Bagres.
O terminal citado não pertence a Gilberto Miranda, diz a PF. A declaração de
utilidade pública serviria como "fundamento" para obtenção de uma
declaração em favor do ex-senador, no empreendimento a ser explorado na Ilha
dos Bagres. Quatro dias antes, em conversa entre Vieira e Miranda, o diretor da
ANA disse: "A Casa Civil está sobrestando todo tipo de projeto dessa
natureza".
Em junho de 2007, Menescal foi demitido do cargo de diretor do Departamento
de Obras Hídricas do Ministério da Integração Nacional. Seu nome foi citado em
grampos telefônicos em que acusados tratavam da liberação de dinheiro para
obras de uma barragem em Maceió. Servidor da ANA, Menescal foi nomeado logo em
seguida para um cargo na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em
agosto de 2009 chegou à Secretaria de Portos como diretor do Departamento de
Infraestrutura Portuária, sendo nomeado secretário em maio de 2011.
A SEP afirma que o secretário não foi acusado nem investigado: "O que
aconteceu foi um grande equívoco", diz a nota enviada ao GLOBO.
Fonte: O Globo
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