segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Senhores, está na hora, façam suas apostas - Marco Antonio Rocha

Pronto! Estamos mais uma vez no mês das apostas: Mega Sena, loteria do Natal, Mega da Virada, Super Quina. Todo mundo gosta dessas apostas. A maior de todas, no entanto, não distribui prêmios. Pelo menos, não diretamente. É a aposta sobre quanto vai crescer o PIB no ano que vem.

E é uma aposta mais séria do que muitos pensam. Para as empresas, sem dúvida. A empresa que acerta avança. A que erra se atrapalha toda. Para as pessoas físicas deveria ser séria também. Ainda não é. Mas vai se tornando...

O crescimento do PIB brasileiro neste ano foi um fracasso. Fala-se em cerca de 1,5%, apenas, mas há previsões de que no fechamento final do ano não passará de 1,2%. No ano passado, foi de 2,7%. Então, a evidência é de que o PIB, o Produto Interno Bruto, ou seja, a parte da economia brasileira que se consegue medir com alguma precisão, vem declinando. E, como essa parte da economia é a mais importante - a despeito das discussões nunca conclusivas sobre o tamanho da economia informal -, posso tentar imitar, sem nenhum talento, meu saudoso amigo e colega Joelmir Beting, dizendo que a economia brasileira vem "avançando firme na marcha à ré". O fato é que isso está levando o andar da carruagem do mandato da presidente Dilma a uma velocidade média, no que se refere ao desempenho econômico, muito inferior à que seu antecessor tanto festejou.

Então, a aposta que o mundo empresarial brasileiro faz neste momento se divide em duas partes: primeiro, saber se o avanço para baixo vai se reverter em avanço para o alto; e segundo, de quanto será o avanço para o alto, se acontecer, que é o que interessa a todos.

O governo, é claro, aposta em avanço para o alto e até já montou uma estratégia, pelo que se depreende de entrevistas do ministro Mantega, com o objetivo de, a partir do ano que vem, dar início a uma nova fase dinâmica, com, no mínimo, 4% de crescimento do PIB em 2013 e daí para cima. A própria presidente Dilma tem mencionado que o ideal seria um crescimento da ordem de 5% ao ano.

Então, no que tange à participação do governo no crescimento do PIB, seria apenas uma questão de adequar o quantum do investimento público (investimento mesmo, não dispêndios disfarçados de investimento) à meta desejada de crescimento. E realmente efetivá-los, o que não vem acontecendo e é parte do problema.

Alguma matemática pode ajudar essa política, pois, como se sabe, o crescimento da economia é proporcional ao da taxa de investimentos global, que, em boa parte, é medida pela FBCF, ou, Formação Bruta de Capital Fixo. A Fundação Getúlio Vargas e outras instituições encarregam-se dos complicados cálculos para se estimar a FBCF. Para nós, leigos, basta saber que, quanto maior esta, mais rápido o crescimento do PIB. Nas épocas em que essa taxa equivalia, no Brasil, a 23% ou 25% do PIB, este crescia entre 6% ou 7% ao ano, e podia até dobrar em dez anos.

Faz tempo que a FBCF está muito abaixo do que já esteve. Hoje em dia, não passa de 17% ou 19% do PIB, o que, em parte, explica por que o PIB anda crescendo pouco. Digo em parte porque ela não é toda a explicação. Num ano, por exemplo, pode haver um excepcional afluxo de recursos estrangeiros, então o PIB cresce mais, sem que tenha havido aumento interno excepcional da FBCF.

Interessante é o seguinte: parece que o que diminuiu mais, no Brasil, foi a parte do governo na FBCF. Ela já foi equivalente a 6% ou 7% do PIB. Ou seja, quando o Brasil investia 25%, o naco do governo era de uns 6%. Hoje em dia esse naco é muito pouco significativo. O que derruba o total da FBCF para os 19% do PIB já mencionados.

Essa informação os técnicos do governo precisariam apurar melhor porque, se estiver correta, mesmo que não inteiramente, levaria mais ou menos à seguinte conclusão: o setor privado, nacional e estrangeiro, continua investindo mais ou menos o que sempre investiu. O governo é que não. Portanto, pouco adiantam as exortações da presidente e de seus ministros para que os empresários invistam mais. O fundamental é que o governo volte a investir, com eficácia, na mesma proporção, ou maior, do que já fez.

Aí ficará mais fácil para os empresários de qualquer setor, principalmente os grandes - que são os mais detestados pelo petismo, em geral, e os mais suspeitos para o governo e boa parte da opinião pública -, apostarem: 1) num avanço para o alto do PIB; e 2) num crescimento de 4% ou mais, daqui para a frente.

Voltando ao início. O importante, e a coisa séria, nessa aposta é que, se eles acreditarem nisso, começarão a ajustar para cima, na mesma proporção, os orçamentos das suas empresas e a economia passa a rodar para a frente. O investimento estatal é de fato muito importante, como insistem os petistas. Desde que se realize de fato e rapidamente. O investimento privado gera mais empregos, maior e melhor disseminação de bem-estar. Desde a pizzaria e a farmácia da esquina até os sonhos do sr. Eike Batista. Precisa, porém, acreditar que haverá crescimento econômico e que a parte do governo nos investimentos acontecerá. E está um pouco difícil acreditar nas duas coisas.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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