Investigação mostra que
ex-diretor da ANA queria usar dinheiro de empresas em campanha para deputado
O diretor afastado da
Agência Nacional de Águas Paulo Vieira planejava se candidatar a deputado
federal pelo PT, revelam depoimentos, e-mails e telefonemas interceptados pela
Polícia Federal. Relatórios da PF indicam que a campanha seria financiada por
empresas favorecidas pelo esquema de compra de pareceres de órgãos públicos
liderado por Paulo. O ex-auditor do Tribunal de Contas da União Cyonil Borges
disse à PF que Paulo contava com parecer favorável à Tecondi, que opera no
Porto de Santos, para garantir dinheiro para a campanha. Uma conversa entre
Paulo e a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo
Rosemary Noronha indica que ele registrou bens em nome de terceiros para evitar
que o aumento do patrimônio prejudicasse a candidatura.
Vieira queria ser
deputado com apoio de empresa beneficiada por esquema
Porto Seguro. Apontado como chefe do esquema de venda de pareceres técnicos,
diretor afastado de agência menciona planos de candidatura pelo PT em conversas
e e-mails interceptados pela PF; delator disse a investigadores que Tecondi
financiaria campanha
Bruno Boghossian
Paulo Vieira, apontado como chefe da organização desarticulada pela Operação
Porto Seguro, pretendia se candidatar a deputado federal pelo PT. Informações
reproduzidas nos relatórios de inteligência da Polícia Federal indicam que a
campanha seria financiada por empresas favorecidas pelo esquema de compra de
pareceres técnicos de órgãos públicos.
Diretor afastado da Agência Nacional de Águas (ANA), Vieira declarou a
intenção de disputar uma vaga na Câmara a pelo menos quatro pessoas que tiveram
diálogos grampeados pela operação - entre elas, a ex-chefe de gabinete da
Presidência em São Paulo Rosemary Noronha. Ele se filiou ao PT em 2003 em
Gavião Peixoto (SP).
A campanha de Vieira seria financiada por empresas beneficiadas pelos
pareceres encomendados pelo esquema, segundo depoimento do servidor que delatou
o esquema à PF, o ex-auditor do TCU Cyonil Borges.
"Afirma o declarante que, segundo Paulo, com a convalidação do
processo, a empresa Tecondi o auxiliaria em futuras campanhas políticas para
deputado federal", informam os investigadores, em relatório.
As investigações da Porto Seguro revelaram que Vieira teria oferecido R$ 300
mil para que Cyonil produzisse um parecer favorável à ocupação de áreas do
Porto de Santos pela Tecondi.
Diálogos sobre as pretensões eleitorais de Vieira foram captados em três
telefonemas interceptados pelos investigadores em abril e maio de 2012.
Em uma das conversas, Vieira revelou sua futura candidatura a um homem
identificado como José Mendonça. Segundo a PF, os dois "falam sobre
política". Vieira convida o interlocutor para o "encontro do PT em
Canoas (RS)" e "declara intenção de se lançar candidato a
deputado".
O ex-diretor conversa sobre outros eventos do PT em e-mails e telefonemas.
Vieira também tem ligações com o PR e com o deputado Valdemar Costa Neto (SP).
Patrimônio. Outro telefonema indica que Vieira teria registrado parte de seu
patrimônio em nome de terceiros para evitar que o acúmulo de bens prejudicasse
sua candidatura. Em maio, Rose revelou ter ouvido essa preocupação do próprio
ex-diretor.
"Primeiro, você disse que o apartamento era do Marcelo (irmão de
Paulo). Agora, hoje, você veio me dizer que o apartamento está no seu nome,
porque você tem mais dois apartamentos, que você está preocupado com a sua
candidatura", disse Rose a Vieira, durante uma discussão.
A PF apura o enriquecimento ilícito dos integrantes do esquema e decidiu
rastrear a evolução patrimonial dos investigados. O inquérito aponta que Vieira
seria o dono de apartamentos e de carros registrados em nome de parentes e
funcionários. Um Land Rover avaliado pela PF em R$ 300 mil tinha como
proprietária a diretora da faculdade controlada pela família do ex-diretor da
ANA. Um apartamento em Brasília está no nome de seu irmão Marcelo e outro, em
Ubatuba (SP), no nome de sua mulher.
"Nem todos (os apartamentos) estão registrados em nome dele, mas foram
encontrados elementos que indicam que Paulo seria o responsável por negociação
e despesas desses imóveis", anotaram os investigadores.
E-mails interceptados na operação também revelam que Paulo teria registrado
por R$ 80 mil um flat na Alameda Lorena pelo qual pagou R$ 192 mil.
Paulo Vieira e seu irmão Rubens buscavam acumular a influência política da
família quando se aliaram a Rose para chegar a cargos de diretoria em agências
reguladoras. Em e-mails de janeiro de 2009, Vieira deixa claro o projeto da
dupla ao discutir a indicação de Rubens para o Conselho Nacional de Turismo ou
para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
"Lembre-se que o turismo pode ser um lugar muito bom para os nossos
planos de poder na BA e em SP, no tocante a liberação de recursos, mas a
prioridade no momento é a diretoria da ANAC", escreveu Paulo Vieira.
Bens. Em nota, Vieira informou que todo o seu patrimônio está declarado ao
Imposto de Renda. Ele assinala que, como servidor público, apresenta cópia da
declaração de bens e rendas à repartição que integra. O texto não menciona os
planos eleitorais de Vieira.
Advogado da Tecondi, o criminalista José Luís Oliveira Lima afirmou que a empresa
foi incorporada em julho por outra firma e que atos eventualmente praticados
antes dessa data não poderiam ser respondidos pela atual gestão.
Advogado de César Floriano, sócio da Tecondi à época da suposta negociação
de financiamento da candidatura de Vieira, Alberto Zacharias Toron afirmou que
desconhece "absolutamente" o assunto.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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