Em 2012, o PT tornou-se o maior partido do Brasil em votos recebidos,
eleitorado a governar e dinheiro arrecadado. O partido completa 10 anos de
governo federal - o maior tempo contínuo de um mesmo grupo político no poder em
períodos de democracia plena. Conquistou a maior cidade do país. A presidente
está no auge da popularidade e tem quase 80% de apoio no Congresso, em média.
Os dois favoritos para 2014 são do PT.
Reserva moral do PSDB - nas palavras de José Serra -, Fernando Henrique
Cardoso descreve sua melancolia com a política partidária e defende a
necessidade de "bradar e mostrar indignação e revolta, ainda que pouco se
consiga de prático". Quando a oposição está melancólica, a situação
deveria estar exultante. Só que não.
O PT não sai das manchetes, mas por causa do outro lado da força. Condenada
pelos ministros que pôs no Supremo Tribunal Federal, a cúpula que levou o
partido ao sucesso vê-se na incômoda perspectiva de exercer o poder desde a
cadeia. É um preço caro a pagar. Provavelmente caro demais.
As contradições entre o primeiro e o terceiro parágrafos alimentam a
especulação: estará o PT no cume à beira do precipício? Ou desfruta a segurança
de um espaçoso planalto?
No que depender das previsões das consultorias econômicas e dos
"pundits" brasilienses, a derrocada é logo ali na frente. O problema
é que se tem mais chance de êxito apostando num cara ou coroa do que
acreditando nas projeções de especialistas. Melhor olhar para trás e tentar
entender como chegamos aqui.
A estabilização econômica propiciou a emergência de um mercado interno
grande e ativo. Aumentos reais do salário mínimo diminuíram a desigualdade de
renda e deram lastro para a popularização do crédito. A redução das taxas de
juros rompeu o dique financeiro e deixou o dinheiro irrigar a economia. Nada
disso é monopólio petista, mas foi o PT que, por oportunidade ou competência,
melhor faturou eleitoralmente o processo.
Partidarizar ideias que são patrimônio nacional as enfraquece. Mercado de
consumo de massa, menos desequilíbrio entre capital e trabalho, e diminuição da
desigualdade de renda são conceitos sempre vulneráveis à reação de quem só se
beneficia do mercado de luxo exclusivista, do "rentismo" e do
"apartheid" social.
Há cada vez mais desinibidas declarações de que o aumento do salário mínimo
é o problema e não a solução, de que há crédito demais para os pobres, de que
bom mesmo era quando se podia ir a Paris ou Nova York sem correr o risco de
ouvir português na rua.
É coincidência que essa desinibição suceda as condenações pelo STF dos
malfeitos petistas? Ou que esteja entremeada a notícias de Pajeros, propinas e
patifarias de parasitas do poder que tiveram sua janela de oportunidade durante
o mandato do PT?
O risco embutido nos desmandos é que após a condenação das pessoas venha a
condenação das ideias que mantiveram seus correligionários no poder. Mesmo que
essas ideias não lhes pertençam, nem que elas, por si, tenham qualquer coisa a
ver com a corrupção de quem as defendeu eleitoralmente.
Para o grosso da população, mais importante do que quem comanda do barco é
que o caminho percorrido desde 1994 não seja interrompido ou, pior, feito em
marcha à ré.
Dinheiro e poder. O PT lucrou com o poder. O partido movimentou R$ 1 bilhão
na campanha de 2012. Foi a legenda que mais cresceu em arrecadação desde 2008:
R$ 362 milhões a mais. Sua fatia cresceu no bolo financeiro dos partidos e a
isso corresponderam mais prefeituras e vereadores. PSDB e PMDB arrecadaram
proporcionalmente menos e viram sua influência municipal murchar. Dinheiro é
voto.
Nem tanto ao precipício, nem tanto ao planalto. O PT tornou-se o maior
partido em votos e eleitorado a governar, mas eles são apenas 20% do Brasil.
Sua arrecadação é recorde, mas não passou de 17% do total. A presidente tem 80%
de apoio no Congresso, mas perde votações com frequência, porque sua base
parlamentar é movediça e infiel. Não há poder absoluto nem eterno.
Popularidade e favoritismo a dois anos da eleição valem tanto quanto ser o
campeão do primeiro turno em campeonato por pontos corridos: nada - o Atlético
Mineiro que o diga.
Fonte:
O Estado de S. Paulo
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