Meta é cortar 40% dessas aposentadorias até
2019 e economizar R$ 25 bilhões/ano
Está sendo elaborado um plano de reabilitação dos
segurados, tanto do ponto de vista médico quanto profissional, que permita a
reinserção deles no mercado de trabalho
Dados do Ministério da Previdência mostram que o
gasto com trabalhadores afastados definitivamente do serviço em função de
acidentes de trabalho e doenças ocupacionais subiu de R$ 8,2 bilhões para R$
34,8 bilhões entre 2002 e 2011. E as despesas com auxílio-doença aumentaram de
R$ 5,4 bilhões para R$ 18,1 bilhões no mesmo período. O governo estuda criar
uma meta de corte de 40% na quantidade de benefícios até 2019. Para alcançar o
objetivo, está elaborando um plano de reabilitação dos segurados. Um grupo de
trabalho formado pelos ministérios da Previdência, Saúde, Planejamento e
Trabalho tem até 10 de janeiro para concluir o projeto, que será apresentado à
presidente Dilma
A ordem é reabilitar
Governo quer cortar 40% das aposentadorias por invalidez e devolver
trabalhadores ao mercado
Geralda Doca, Cristiane Bonfanti
Desafios do futuro
BRASÍLIA - O governo quer reduzir as despesas com aposentadorias por
invalidez e estuda fixar uma meta de corte de 40% na quantidade de benefícios
até 2019. Para alcançar essa meta, está elaborando um plano de reabilitação dos
segurados, tanto do ponto de vista da saúde quanto da profissão, que permita a
reinserção dos profissionais no mercado de trabalho. De acordo com estimativas
da Previdência, a medida levará a uma economia de R$ 25 bilhões por ano, quando
todo o sistema estiver funcionando.
Ontem, O GLOBO noticiou que, sem uma reforma na Previdência, os gastos só
com o pagamento de aposentadorias públicas vão consumir 46% do PIB em 2030. O
percentual hoje é de 18,7%. As projeções levam em conta o envelhecimento da
população, que ocorre em ritmo mais intenso que o previsto.
Em relação às aposentadorias por invalidez, o cálculo do governo inclui,
além dos gastos com trabalhadores da iniciativa privada, os funcionários
públicos e ações específicas na concessão de auxílio-doença por prazos mais
longos, entre quatro e seis meses.
Dados da Previdência mostram que o gasto com trabalhadores afastados
definitivamente do serviço em função de acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais mais que quadruplicaram entre 2002 e 2011, de R$ 8,2 bilhões para
R$ 34,8 bilhões. As concessões de aposentadorias subiram quase 30%, de 2,4
milhões para 3,1 milhões, no mesmo período. E as despesas com auxílio-doença
aumentaram de R$ 5,4 bilhões em 2002 para R$ 18,1 bilhões em 2011.
Um grupo de trabalho formado pelos Ministérios da Previdência, Saúde,
Planejamento e Trabalho tem até 10 de janeiro para concluir o projeto, que será
apresentado à presidente Dilma Rousseff. Na prática, a proposta é fazer uma triagem
no universo dos aposentados por invalidez para verificar a possibilidade de
reabilitação, com doação de próteses, por exemplo, e encaminhamento a curso de
qualificação e treinamento para inserção no mercado.
"todos ganham com política de reabilitação"
Quem der entrada a pedido de auxílio-doença também será reavaliado dentro da
perspectiva de troca de função, caso a previsão seja de afastamento prolongado.
A proposta prevê integração dos ministérios com o setor privado, via sistema
"S", e a inclusão do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego (Pronatec), que reserva 5% das vagas para deficientes.
A legislação atual já prevê revisão das aposentadorias por invalidez a cada
dois anos, mas dificuldades na implantação de um sistema de reabilitação e
falta de entrosamento entre órgãos públicos dificultam o cumprimento da
exigência. Desta vez, segundo o secretário de Previdência Social, Leonardo
Rolim, há disposição de pôr em prática uma política de reabilitação e de fazer
controle mais rigoroso dos benefícios.
- Estamos trabalhando numa proposta concreta para reabilitar os
trabalhadores e reduzir os gastos com aposentadoria por invalidez.
Segundo ele, as aposentadorias por invalidez no Brasil representam 18% do
total de afastamentos definitivos pagos pelo INSS, e a ideia é reduzir essa
proporção para 10%, patamar semelhante ao de países que executam políticas de
reabilitação, como Espanha e Holanda.
Para o gerente-executivo de Relações do Trabalho da Confederação Nacional da
Indústria (CNI), Emerson Casali, a falta de um programa de reabilitação leva ao
aumento de custos, tanto para a Previdência quanto para as empresas e para os
próprios trabalhadores.
- Todos ganham com uma política de reabilitação - afirma Casali.
Para João Barbosa, diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da
Construção e do Mobiliário de Brasília, a proposta do governo será mais uma
forma de negar o direito dos trabalhadores. Ele disse que hoje, quando sofrem
um acidente relacionado à ocupação, os funcionários do setor de construção têm
dificuldade para conseguir atendimento na perícia do INSS.
- A perícia tem negado benefício até mesmo para quem está em cadeira de
rodas. O governo tem é de investir em segurança, contratar mais auditores e
aumentar a fiscalização de obras irregulares para evitar acidentes - opinou.
Há nove anos, depois de ser diagnosticado com lesão por esforço repetitivo
(LER), Francisco Rubens Pereira, de 59 anos, precisou parar de trabalhar na
plataforma de engarrafamento de uma companhia de gás natural. Até conseguir a
aposentadoria, no entanto, passou dois anos e seis meses afastado, entre idas e
vindas aos hospitais para comprovar a doença por meio de exames. Para ele, se
não pode atuar numa área, o profissional não deve ser realocado em outra.
- Se o trabalhador se machuca, alguém tem de se responsabilizar por ele -
disse Pereira.
Trabalhador da área de construção civil, Luciano de Souza Lobato, de 35
anos, está em seu terceiro atestado médico. Com uma jornada de pelo menos oito
horas por dia quebrando concreto, Lobato tem sentido dores frequentes nos
punhos e está numa queda de braço com a companhia onde trabalha para que ela
emita a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e, com isso, ele tenha
atendimento mais rápido na Previdência. A seu ver, é positiva a criação de uma
política para reabilitar os profissionais, mas, antes disso, deve haver menos
burocracia no atendimento ao cidadão.
- Nos hospitais, os médicos falaram para eu mudar de função. Mas, como não
quer reconhecer que tive um acidente de trabalho, a médica da empresa disse que
eu deveria atuar em um "serviço restrito". Então, faço outras
atividades, mas fico mal visto na firma - relatou Lobato.
Paulo Eduardo dos Santos, de 50 anos, por sua vez, deixou há dois anos o seu
posto de homologador de rescisão contratual em um sindicato, devido a um
problema renal crônico. Ele disse que, no seu caso, não seria possível exercer
outra função, devido a inchaços, tonturas e dores frequentes, mas considerou que
a proposta é positiva, desde que o governo melhore o atendimento à saúde
prestado aos trabalhadores.
- O desafio é o governo efetivamente buscar recolocar essas pessoas no
mercado e melhorar a estrutura de saúde oferecida - ponderou.
Coordenador do Programa de Readaptação Profissional da Prefeitura de
Piracicaba (SP), o médico Rubens Motta calculou que, desde 2005, pelo menos cem
pessoas passaram pela capacitação e não precisaram se desligar do serviço
público. Há casos de professores que, por depressão ou outra doença, foram
transferidos para outros ramos na educação.
- São pessoas que estariam aposentadas, mas que podem desempenhar outras
atividades. No início, pode haver resistência, mas depois percebemos que é bom
para valorizar as pessoas, que se sentem mais seguras.
Fonte: O Globo
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