Hauschild teve despesa paga por acusado de liderar grupo, segundo a PF
Demitido há 2 meses de órgão federal ocupava cargo de destaque na AGU na gestão
Toffoli, hoje ministro do STF
Breno Costa
BRASÍLIA - E-mails e documentos apreendidos pela Polícia Federal mostram que
a quadrilha desarticulada na Operação Porto Seguro também mantinha relações
próximas com o ex-presidente do INSS Mauro Hauschild, demitido há quase dois
meses.
Apontado como chefe da quadrilha, Paulo Vieira, ex-diretor da ANA (Agência
Nacional de Águas), ordenou a um auxiliar, em novembro de 2011, o pagamento de
despesas de Hauschild, no valor de R$ 5.800, junto a uma incorporadora de
imóveis.
Meses antes, já havia prestado outro favor ao amigo, ao levar para sua
diretoria na ANA a mulher de Hauschild.
Durante a gestão do hoje ministro do STF José Antonio Dias Toffoli na AGU
(Advocacia-Geral da União), entre agosto e novembro de 2009, Hauschild ocupou o
mesmo cargo que pertencia, até semana passada, a José Weber Holanda, um dos
indiciados.
Com Hauschild no posto de advogado-geral adjunto, com poder de dar
pareceres, a AGU teve uma de suas primeiras manifestações em defesa da entrada
da União no processo envolvendo a Ilha das Cabras, em Ilhabela (SP), um dos
casos centrais do inquérito da operação.
A ilha é ocupada pelo ex-senador Gilberto Miranda. A AGU pediu à Justiça
para que a União passasse a participar das decisões sobre o local. Até agora, a
PF não coletou provas de envolvimento de Hauschild na produção de pareceres ao
grupo.
O documento enviado pela AGU à Justiça foi assinado por Evandro Gama,
substituto eventual de Toffoli, e também próximo de Hauschild e da quadrilha,
segundo a PF.
Em um dos e-mails apreendidos, de julho de 2011, Gama pede a Hauschild e a
Paulo Vieira que fizessem as "articulações políticas necessárias"
para que ele ocupasse um cargo no governo federal.
Toffoli. Procurador do INSS de carreira, Hauschild deve sua ascensão na máquina
pública a José Antonio Dias Toffoli.
Em maio de 2007, virou coordenador-geral do gabinete de Toffoli. Em
fevereiro de 2008, foi promovido a diretor da escola da AGU.
Em agosto de 2009, chegou a advogado-geral adjunto. No mesmo dia, foi
substituído na escola da AGU por Jefferson Carus Guedes, servidor preso na
Operação Porto Seguro.
Filiado ao PT até semana passada, Hauschild chegou a presidente do INSS por
indicação formal do senador Renan Calheiros (AL), líder da bancada do PMDB.
Mauro Hauschild, Renan Calheiros, Toffoli e o advogado de Paulo Vieira foram
procurados ontem, mas não retornaram a recados da Folha.
Em nota divulgada à revista "Época", Hauschild disse que o pagamento
feito por Vieira era decorrente de um "empréstimo" e que a nomeação
de sua mulher foi por "razões técnicas". Ele afirmou que pediu sua
desfiliação do PT na semana passada.
Entre os fatores que levaram à sua demissão do INSS (Instituto Nacional da
Seguridade Social) em outubro esteve o fato de ele ter se desligado do órgão
por 14 dias para atuar na campanha da chapa PT-PMDB em Lajeado (RS).
Fonte: Folha de S. Paulo
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