Com todos os problemas pelos quais passou durante a campanha, é evidente que
o PT de São Paulo, depois de todo o desgaste sofrido pelo mensalão, deve se
considerar o grande vencedor da eleição de domingo. É claro, Celso Russomano
(PRB) tropeçou nas próprias pernas ao propor tarifas de transporte
proporcionais ao trajeto percorrido - quanto maior a distância maior seria o
preço da passagem. Talvez quisesse dizer o contrário, mas o mal já estava feito
e a situação piorou a cada tentativa de explicação que ele tentava dar ao
eleitor.
Falta saber em que medida o "programa de transportes" de Russomano
influiu na perda de votos, mas o episódio deixou claro que o eleitor está de
olho do que acontece em sua cidade.
Mas desde já começa a costurar o perfil do nome que espera para a eleição
seguinte. De certa forma, é o pontapé inicial do grande jogo da eleição
presidencial de 2014. Nomes como o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e o
de Pernambuco, Eduardo Campos, também se consolidaram em protagonistas com peso
maior do que já tinham antes. Um exemplo: o PT e o PSB saíram com as relações bastante
afetadas.
A história de Russomano é curiosa: o candidato era cobrado por não ter uma
proposta para a área de transportes. No final, deu a impressão de que elaborou
o projeto num dia, anunciou no outro e recuou no terceiro dia. Ou seja, deu uma
demonstração de que não estava preparado para governar e nem tinha uma equipe
para ajudá-lo a administrar a maior cidade do país. Russomano perdeu algo em
torno de 250 mil votos diários, no final da campanha, segundo informação
passada ao governos por instituto de pesquisas. Derreteu.
Outro problema que parece ter sido crucial - fenômeno crescente e que
precisa ser mais bem analisado - foi a questão da religião. No caso, o apoio
firme da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) ao candidato do PRB. O
próprio chefe da igreja escreveu uma carta em apoio a Russomano, escrita em
termos bem articulados politicamente, com princípio, meio e fim. A outra igreja
evangélica a ficar com Russomano foi a Renascer, aquela cujos chefes passaram
por cadeias americanas - que chegou a ter como grande expressão o jogador de
futebol Kaká.
A Iurd e a Renascer tentam se tornar hegemônicas em São Paulo. No caso da
Iurd a expectativa é de se tornar majoritária no país. O nível do
comprometimento da Igreja Universal com o bispo Edir Macedo incomodou as outras
igrejas pentencostais e desgostou os católicos, que ainda constituem a maioria
religiosa do país.
Em sua carta, Edir Macedo ataca o projeto elaborado quando Haddad era
ministro da Educação, o chamado kit gay. "Com o sr. Haddad na prefeitura,
(?) ele estará livre para infestar as escolas municipais com seu kit gay,
revertendo todos os princípios morais e ignorando (pois não precisará mais de
nossos votos) os nossos clamores por moral". Talvez menos pela questão
moral que pelos planos de hegemonia da Iurd, a Igreja Católica também passou a
olhar o candidato do PT com outros olhos.
Resta saber qual será agora o comportamento do rebanho da Iurd e da
Renascer. Não há como ignorar, num segundo turno eleitoral, os cerca de 1,3
milhões de votos obtidos pela chapa. E o PTB paulistano, controlado a mão de
ferro pelo deputado estadual Campos Machado, está mais para um entendimento com
seu amigo Geraldo Alckmin. O governador tucano, por sinal, efetivamente
trabalhou na campanha de Serra e se esforçou por sua eleição, ao contrário do
que aconteceu em 2010, quando fez corpo mole.
Já o PT paulistano está cada vez mais narcisista e impressionado com sua
imagem refletida no espelho com o desempenho próximo dos 30%. É muito, diante
da quantidade de crises pelas quais passou o partido durante a campanha
eleitoral. Elas não foram poucas e nem simples.
Começaram com a própria definição do nome do candidato, no conflito entre
Lula e a senadora Marta Suplicy - candidata que deixou a prefeitura em 2005 com
boa avaliação, Marta acreditava ser o único nome com cacife suficiente para
derrotar José Serra. Ela nunca teve dúvidas de que o tucano seria candidato.
Lula foi inflexível: disse que o candidato seria Haddad e ponto final. Marta
sumiu da campanha e voltou no final - já como ministra da Cultura.
Em seguida veio a crise da aliança com Paulo Maluf (PP). O PT esteve sempre
na oposição e condenou os métodos de Maluf fazer política. Era uma contradição.
Na sequência da crise Maluf, veio a crise da escolha do candidato a vice de
Haddad. A escolhida, deputada federal Luiza Erundina, chegou a passar alguns
dias na campanha, antes de desistir de compor uma aliança com o deputado Paulo
Maluf.
À esta altura, Erundina incorporava os sentimentos que foram do PT quando o
partido foi criado, e que parecia ter abandonado depois que ganhou o Palácio do
Planalto e, para governar, não teve o pudor de se aliar a nomes como José
Sarney (PMDB-AP), Renan Calheiros (PMDB-AL), Fernando Collor (PTB-AL) e Roberto
Jefferson (PTB-RJ), que acabou sendo o estopim do esquema de compra de votos no
Congresso.
Até Lula interveio pessoalmente na tentativa desastrada para adiar a data do
julgamento, marcada para o dia 2 de agosto. Sabia-se do impacto que o
julgamento teria sobre as eleições, mas atualmente a cúpula o PT entende que o
impacto foi muito maior que o esperado. São três sessões vesperais do Supremo
Tribunal Federal (STF) por semana, em que as mazelas do PT são expostas
publicamente. Na televisão aberta e na TV fechada. E ainda assim o PT elegeu 11
vereadores - a maior bancada - para a Câmara de São Paulo, a terra dos
principais implicados no escândalo do mensalão.
A; presidente Dilma Rousseff, de fato, vai procurar uma reaproximação com o
PMDB. Mas Gabriel Chalita não será ministro. Pode ser secretário de Educação de
Haddad.
Fonte: Valor Econômico
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