terça-feira, 9 de outubro de 2012

Aécio defende antecipar nome ao Planalto


Um dos pretendentes à candidatura, tucano diz que escolha tem de ocorrer até janeiro de 2014, e não em março, como na eleição passada

Wilson Tosta, Marcelo Portela

BELO HORIZONTE - O senador e possível candidato tucano a presidente Aécio Neves (MG) defendeu ontem que o partido inicie 2014 já com um nome definido para a corrida ao Palácio do Planalto. Ainda saboreando a reeleição do afilhado político, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), o parlamentar assumiu discurso de postulante à Presidência, embora dissesse que o posto poderá ser disputado por ele ou "outro companheiro".

Para Aécio, o PSDB não pode fazer como em 2010, quando lançou candidato mais tarde - no fim do prazo de desincompatibilização, em março. Ressaltou, porém, que "2014 tem de chegar em 2014" - antes, é preciso discutir um programa para o País.

"Entre o fim de 2013 e o início de 2014, a oposição tem de apresentar o seu candidato", afirmou. "Acho que não pode ficar para a véspera da eleição. Porque aí o conjunto dos partidos já estará definido. Para que (o PSDB) amanheça 2014 com candidato, janeiro de 2014 deveria ser isso, lançamento da candidatura."

Para o senador, esse seria um prazo adequado para a apresentação da proposta tucana para o País e, principalmente, para a costura de alianças em torno do "projeto alternativo" ao atual governo petista. Em 2010, o presidente do PSDB, o deputado federal Sérgio Guerra (PE), admitiu que a demora na definição do nome do partido para a disputa prejudicou a candidatura do então governador de São Paulo, José Serra.

Embora ainda eufórico com a vitória de Lacerda sobre Patrus Ananias (PT), candidato apoiado pela presidente Dilma Rousseff, Aécio disse que o episódio não é algo que vá ser decisivo "lá na frente", ou seja, na próxima sucessão presidencial. Para ele, se houve nacionalização da campanha em Belo Horizonte foi por causa da forma como o Palácio do Planalto entrou na disputa. "Não foi da minha parte", disse o senador, que introduziu o tema do julgamento do mensalão na campanha e atacou duramente Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Temos de discutir qual projeto de País queremos", disse "Se cair sobre mim (a candidatura), tudo bem. Se for outro companheiro, tudo bem", disse o tucano, que recebeu o Estado em seu apartamento na região centro-sul de Belo Horizonte. Segundo ele, é preciso fazer "dois grandes favores": um ao Brasil, livrando-o do que chamou de "período de ineficiência" do governo petista; outro ao PT, mandando-o para "um estágio na oposição".

"Minha vitória (em 2012) é a vitória de um projeto que está dando certo em Minas Gerais", afirmou o senador tucano.

Defendendo que o PSDB dedique 2013 às discussões do projeto que apresentará ao País na corrida presidencial, Aécio já alinhava críticas ao governo Dilma. "O PT abriu mão de ter um projeto de País para ter um projeto de poder. As grandes reformas não foram feitas, são as mesmas que precisávamos antes. Os grandes gargalos não foram enfrentados. E não vai ser a presidente que terá condições de fazê-lo. A economia não é a mesma", disse ele, criticando também o baixo crescimento em 2012 e a abertura "envergonhada" do governo ao setor privado, com problemas como as constantes mudanças no modelo de concessão dos aeroportos.

O senador disse ainda que o PSDB formulará um projeto e buscará alianças, mas afirmou que seria "indelicado" chamar agora o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para ir para a oposição. "Eu e Eduardo somos amigos há 20 anos", afirmou. Uma eventual candidatura do pernambucano à Presidência, afirmou o tucano, será um problema dos governistas, não dos oposicionistas.

Pulverização. O parlamentar disse que pretende retomar a discussão da cláusula de desempenho para partidos que queiram entrar na Câmara para acabar com a "pulverização" partidária. A regra exigia que, para ter representação parlamentar, os partidos tivessem ao menos 5% dos votos para a Câmara dos Deputados, distribuídos por pelo menos nove Estados, cada um com no mínimo 3% da votação. Foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal, porque foi feita por lei complementar, o que foi considerado inconstitucional. A ideia de Aécio é transformá-la em emenda constitucional.

"Os partidos têm de representar um segmento da sociedade", afirmou, contando que, na campanha, ao gravar depoimentos de apoio para a TV, às vezes lhe pregavam buttons com números de legendas que não conhecia. "Hoje, 90% dos partidos representam grupos para vender tempo de televisão na campanha ou para fazer dois vereadores." Se a cláusula estivesse em vigor, afirmou, haveria apenas seis partidos representados na Câmara, todos "grandes". "Tem de ser construída uma maioria. Não vai ter consenso nunca sobre isso."

Segundo ele, no formato atual, "as grandes questões são impossíveis de aprovar" e a criação de mais partidos sempre se dá pela migração "da oposição para o governo" - alusão ao PSD, originado do DEM. "Será que é bom para a democracia ter oposições tão fragilizadas?", perguntou. "Tem espaço para retomar a discussão."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Nenhum comentário: