As urnas de domingo em âmbito nacional trouxeram resultados para quase todos
os gostos. O PSB do governador pernambucano Eduardo Campos, por exemplo, tornou-se
a quarta maior força eleitoral do País, tendo avançado duas casas (ou 51% em
número de votos para prefeito) desde a primeira rodada da disputa municipal de
2008 - coroando as suas robustas vitórias no Recife e em Belo Horizonte. Já o
PSD do prefeito paulistano Gilberto Kassab, na sua eleição de estreia, foi o
que mais elegeu prefeitos em proporção ao total de candidatos apresentados,
passando a ocupar o antigo lugar do PSB na configuração política das cidades
brasileiras. Mas a relativa dispersão das preferências do eleitorado,
acrescentando dois atores ao elenco principal e confirmando o rebaixamento do
DEM a coadjuvante, não abalou a hierarquia partidária estabelecida.
O PMDB continua sendo a agremiação municipal hegemônica do Brasil. Embora
tivesse perdido 280 das posições conquistadas há quatro anos e 10% do seu
eleitorado, ainda fez cerca de 1.020 prefeitos - a começar do campeão de votos
Eduardo Paes, no Rio - e levou outros 15 de seus candidatos ao segundo turno. O
PT manteve a trajetória de alta nas urnas municipais. Com 17,3 milhões de
sufrágios, desbancou o PMDB como o partido mais votado para o governo das
cidades e agregou 69 prefeituras às 558 de 2008. Por fim, no pelotão da frente,
o PSDB ratificou a sua condição de maior partido oposicionista. Embora tivessem
perdido, grosso modo, 100 prefeituras e 630 mil eleitores, os tucanos foram
mais uma vez a primeira escolha dos brasileiros refratários ao PT do
ex-presidente Lula e da sua sucessora Dilma Rousseff. A sua taxa de sucesso -
proporção de eleitos no conjunto de seus candidatos - é sete pontos superior à
do partido do governo.
Em nenhuma das principais cidades, a preferência por uma ou outra das
maiores legendas em confronto foi tão nítida como em São Paulo, precisamente
onde, há poucas semanas, um candidato da periferia do sistema partidário, Celso
Russomanno, do PRB, parecia a caminho de subverter o padrão consolidado de
distribuição de votos, eleição depois de eleição. Tucanos e petistas tardaram a
ir para cima do outsider - o primeiro a fazê-lo foi o peemedebista Gabriel
Chalita. Mas, a partir do momento em que passaram a expor a contrafação que era
a candidatura do "menino malufinho" tutelado pela Igreja Universal do
Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, começou a "volta aos quadros constitucionais
vigentes", como diria em tempos idos o marechal Henrique Teixeira Lott. E
o desde sempre favorito, o ex-prefeito e ex-governador José Serra, terminou na
ponta, com 30,7% dos votos.
O restabelecimento da normalidade eleitoral na metrópole levou ao segundo
turno, com praticamente 29% dos votos, o petista Fernando Haddad, neófito em
eleições. Não faz muito, o cenário tido como o mais provável para o tira-teima
do dia 28 opunha Serra a Russomanno. A recuperação do ex-ministro da Educação
na reta final premiou o seu patrono Lula, que tinha prometido "até morder
canela de adversário" para levar o afilhado adiante. Agora é que não
arredará o pé das ruas paulistanas. Isso, mais o êxito no seu reduto de São
Bernardo do Campo e em outros municípios da Grande São Paulo, decerto lhe
servirá de consolo para o vexame sofrido no Recife, outro bastião lulista, onde
o candidato que impôs ao PT ficou em humilhante terceiro lugar. Dilma, por sua
vez, carregará a derrota de seu escolhido em Belo Horizonte para o prefeito
Marcio Lacerda, do PSB, com o apoio entusiástico do presidenciável tucano Aécio
Neves.
O que chama a atenção em São Paulo, tanto quanto a repetição dos embates de
2004 e 2008 entre PSDB e PT, é a cristalização da geografia eleitoral do
Município, com os tucanos dominando o centro expandido a oeste e a norte, e os
petistas prevalecendo nas zonas leste e sul - duas realidades estruturadas.
Por fim, ressalte-se a eficiência operacional "escandinava" do
sistema de votação, apuração e divulgação dos resultados em todo o País. Se a
área pública em geral funcionasse assim, o Brasil seria outro.
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