Supremo
retoma hoje julgamento do núcleo político do mensalão
Ministros vão votar acusações contra Dirceu, Genoino e Delúbio Soares;
cálculo de penas não está decidido
Carolina Brígido
BRASÍLIA - O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma hoje o julgamento do
mensalão. Com a provável condenação do chamado núcleo político do esquema -
integrado pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT
Delúbio Soares e o ex-presidente do partido José Genoino -, os ministros do
Supremo vão precisar decidir como calcular a pena dos réus. A proposta do
Ministério Público Federal é de que Dirceu e Delúbio sejam condenados pela
prática de corrupção ativa por nove vezes em concurso material. De acordo com a
regra, soma-se nove condenações - o que poderia levar os dois a pegar até 108
anos de prisão. A denúncia atribui a Genoino a prática do crime por oito vezes,
o que poderia resultar em 96 anos de prisão.
No entanto, a legislação contém outras duas formas de calcular a pena: o
concurso formal e o crime continuado. Nesses casos, os ministros atribuiriam a
pena aos réus como se o crime tivesse sido praticado apenas uma vez. No
concurso formal, essa pena poderia ser aumentada de um sexto até a metade,
fazendo com que a pena pudesse chegar a 18 anos de prisão para Dirceu, Delúbio
e Genoino. No crime continuado, a pena poderia ser aumentada de um sexto a dois
terços, o que poderia resultar em 20 anos de prisão para cada um dos três réus.
Caberá aos ministros da Corte decidir como fazer a conta. A chamada
dosimetria da pena ocorrerá após o julgamento de todos os réus. Os ministros
que votaram até agora não se manifestaram sobre a forma de calcular a pena. A
regra do concurso material considera que os crimes cometidos pelos réus são
únicos e independentes. A regra do concurso formal aplica-se quando o réu
comete dois crimes com uma só ação. De acordo com a norma do crime continuado,
com mais de uma ação um réu pode praticar dois ou mais crimes da mesma espécie.
Ao analisar a situação, se os ministros decidirem pelo concurso material,
afirmarão que todos os parlamentares corrompidos pelo esquema foram comprados
em atos isolados e separados. Se considerar as outras regras, o STF vai
declarar que as compras de apoio foram realizadas dentro de um contexto único,
com o objetivo comum de montar uma base aliada ao governo.
Dirceu e Delúbio são acusados de terem corrompido nove pessoas ligadas a
quatro partidos: o PP, o PL (hoje PR), o PTB e o PMDB. Genoino só foi excluído
do capítulo sobre o PMDB. O grupo teria coordenado um esquema de pagamento de
propina a parlamentares para garantir apoio político ao governo federal em
votações na Câmara dos Deputados. Até agora, votaram pela condenação do grupo o
relator, Joaquim Barbosa, Rosa Weber e Luiz Fux. Já o revisor Ricardo
Lewandowski votou pela absolvição de Dirceu e Genoino.
Para o revisor não há provas nos autos para atestar que Dirceu comandou o
esquema de compra de votos de políticos aliados. Ele até admitiu que o
ex-ministro pudesse ter participado de negociações para repasse dos recursos,
mas sustentou que, no processo, não há comprovação do que chamou de ilações do
Ministério Público. O mesmo argumento foi usado para absolver Genoino.
Lewandowski citou depoimentos de integrantes do governo federal e de políticos
do PT que insistiram na tese de que Dirceu não tinha poder de influência em
assuntos financeiros do PT no início do governo Lula. Os mesmos depoentes
sustentaram que Genoino tratava apenas de assuntos políticos e que o repasse de
recursos para campanhas era da competência exclusiva do então tesoureiro do
partido Delúbio Soares.
Em seus votos, os ministros que condenaram Dirceu por corrupção ativa não
especificaram como calcularão a pena em relação às noves práticas apontadas na
denúncia do Ministério Público Federal. Faltam votar os ministros Dias Toffoli,
Cármen Lúcia, Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Ayres
Britto. Celso de Mello já avisou que não estará presente na sessão de hoje por
motivo de viagem. Portanto, a conclusão do item sobre corrupção ativa só
ocorrerá amanhã. Há expectativa, no entanto, de que ao final do dia já se saiba
se há maioria de votos pela condenação dos réus. Além do núcleo político,
também são acusados do crime de corrupção ativa Marcos Valério, seus sócios
Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, a diretora da SMP&B Simone Vasconcelos, o
advogado Rogério Tolentino e a gerente agência de publicidade Geiza Dias.
Desses, o relator Joaquim Barbosa e os ministros Rosa Weber e Luiz Fux votaram
pela condenação de todos à exceção de Geiza Dias. Lewandowski absolveu a
gerente e também o advogado Rogério Tolentino.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário