A cada dois anos, a democracia brasileira se revitaliza nas urnas. Desta
vez, o pleito coincidiu com outra demonstração de fortalecimento das
instituições, dada pelo julgamento do mensalão, em que políticos e militantes
petistas e de partidos aliados têm sido condenados, apesar de fazerem parte do
grupo que se encontra no poder em Brasília há dez anos. Nas urnas e no STF,
fortalece-se a democracia representativa, com a imprescindível independência
entre os Poderes.
Vencida a primeira etapa do pleito, destaca-se, entre os vencedores, o
governador de pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB. Emblemática a cena
da mesa montada na festa da vitória do candidato do governador à prefeitura de
Recife, Geraldo Júlio, em que Campos ocupava o centro, não muito distante do
senador peemedebista Jarbas Vasconcelos, duro crítico do PT e Lula. Outro
destaque do primeiro turno é o senador tucano Aécio Neves, ao qual Campos se
associa na vitória em Belo Horizonte, na reeleição de Marcio Lacerda (PSB) e na
consequente derrota do ex-ministro petista Patrus Ananias. Dilma se envolveu na
campanha do candidato do PT, mediu forças com Aécio, numa possível prévia de
2014, e perdeu. O governador pernambucano e o senador mineiro se preparam para
voos mais elevados.
As urnas alertaram, ainda, o núcleo que controla o PT que ele não pode tudo.
Fez uma desastrosa intervenção no Recife e uma aposta também equivocada em Belo
Horizonte. Com isso, inscreveu a derrota de Patrus Ananias na conta da
presidente Dilma. E quanto a Lula, se ele é obrigado a carregar o peso das
derrotas em Recife e na capital mineira, ao menos pode se vangloriar de, mais
uma vez, tirar um nome do bolso e fazê-lo um candidato viável. Ontem, Dilma;
agora, Fernando Haddad. Se o ex-ministro da Educação ganhar de José Serra no
segundo turno, todos os percalços petistas serão esquecidos.
O PT parece padecer da fadiga de material observada em toda legenda com
extensa quilometragem no poder. Fora São Paulo, e cidades menores, o
encolhimento do partido em grandes capitais - o pífio rendimento em Porto
Alegre é exemplar - encerra lições para a legenda.
São Paulo trouxe, ainda, o risco da explosiva e indesejada mistura de
religião com política, felizmente exorcizada com a derrota de Celso Russomanno
(PRB).
Já a vitória esmagadora de Eduardo Paes, por sua vez, confirma que o eleitor
municipal, ideologias à parte, vota em quem demonstra saber administrar a sua
cidade. Beneficiado por uma inédita aliança com o governador do estado e o
presidente da República, o prefeito reeleito pode continuar um amplo programa
de obras, também impulsionadas pela feliz coincidência da Copa e das
Olimpíadas.
No segundo turno, São Paulo atrairá as atenções. Espera-se que também da
Justiça eleitoral, pois o governo Dilma será convocado por petistas a ser uma
força ativa na campanha de Haddad.
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