Na contramão da cúpula petista, ex-presidente do PT diz que "seria
debochar" da Justiça achar que todo mundo é inocente
Lisandra Paraguassu
PORTO ALEGRE - O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, era ministro da
Educação em 2005, quando o escândalo do mensalão estourou. Chamado pelo então
presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a presidência do PT
para tentar tirar o partido da crise em que mergulhara depois que boa parte da
sua cúpula foi pega usando recursos públicos para comprar apoio no Congresso.
Sete anos depois, Tarso vai mais uma vez na contramão da cúpula ao defender
o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal como legítimo, em que
todos tiveram direito de defesa, e aceitar que, "sem dúvida", estão
sendo julgadas pessoas que cometeram ilegalidades.
O governador petista também acredita, ao contrário do ex-presidente Lula,
que o julgamento teve influência, sim, nas eleições deste fim de semana, mesmo
que o grau dessa influência possa variar.
O senhor foi chamado a assumir a presidência do PT quando estourou o
escândalo do mensalão, com a obrigação de tentar reorganizar o partido. Sete
anos depois, em meio a uma eleição municipal, como o senhor está vendo esse
julgamento que chega agora a alguns dos nomes mais importantes do PT?
Essa questão do mensalão tem dois processos. Um é o judicial, que devemos
tomar como um processo dentro do Estado de direito, democrático, cujo
desenvolvimento e resultado têm que ser respeitados, sejam eles quais forem.
Esse processo judicial foi feito dentro dos parâmetros completos da legalidade.
Ninguém sofreu violência para depor, ninguém teve seu direito de defesa negado,
nenhum juiz foi pressionado, seja pelo Estado, seja pela autoridade policial para
tomar qualquer atitude. Então, este é um processo que deve ser tomado como um
exemplo para o País. Em outras oportunidades isso não foi feito. O caso mais
gritante é o processo sobre a compra de votos para reeleição de Fernando
Henrique. O segundo aspecto é um processo paralelo de disputa política sobre os
acontecimentos. E nesse sentido eu acho que há uma profunda desigualdade, que é
o fato de 90% da grande mídia fechar uma posição favorável à condenação e fazer
uma campanha sistemática de culpabilização de todos, sem qualquer tipo de
reserva. Isso tem consequências políticas.
O senhor acredita na culpa das pessoas que estão sendo julgadas pelo
Supremo?
Que tem pessoas que cometeram ilegalidades, não tenho nenhuma dúvida. Seria
debochar da Justiça do País e do processo dos inquéritos policiais achar que
todo mundo é inocente. O que eu critico é o fato que houve uma inculpação em
grupo feita pela mídia, repercutindo inclusive na comunidade política como um
todo. O meu partido é visto hoje, graças a essa campanha, como o partido do
mensalão, e o PSDB não é visto como o partido que teria engendrado - e não
estou dizendo que o fez - a compra de votos para reeleição do presidente
Fernando Henrique.
Nessa reta final serão julgados José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares,
que têm ou tiveram um peso grande no partido. O senhor acredita na culpa deles?
Acho que tem uma pessoa que assumiu responsabilidades, que se chama Delúbio
Soares. O Delúbio assumiu responsabilidades e atribuiu isso à existência de um
caixa 2. Quanto ao José Genoino e ao José Dirceu, eu desconheço as provas. Não
estou dizendo que são culpados ou inocentes, apenas que desconheço as provas
para caracterizar a responsabilidade material dos dois.
O senhor avalia que o mensalão teve peso nos resultados dessas eleições
municipais?
Teve, em diferentes circunstâncias, em diferentes regiões. Quando a gente
fala que teve efeito no processo eleitoral, não quer dizer que tenha o mesmo
efeito em todo o território e mesmo que nesse território tenha efeito uniforme.
O que ocorre é que, em determinadas circunstâncias, as bases eleitorais dos
partidos são mais ou menos atingidas de acordo com a sensibilidades locais. Um
exemplo bem claro: aqui em Canoas (zona metropolitana de Porto Alegre) essa
questão não teve efeito nenhum. Foi usada e não teve efeito nenhum. Mas aqui,
na classe média de Porto Alegre, eu diria que sim. É uma classe média liberal,
democrática, não é de esquerda e nem tem simpatia preliminar pela esquerda.
Então, setores da classe média decidiram votar em outros setores de esquerda e
centro-esquerda que não o nosso, motivados possivelmente pela influência do
mensalão.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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