terça-feira, 9 de outubro de 2012

Tarso Genro: 'Esse processo deve ser tomado como um exemplo'


Na contramão da cúpula petista, ex-presidente do PT diz que "seria debochar" da Justiça achar que todo mundo é inocente

Lisandra Paraguassu

PORTO ALEGRE - O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, era ministro da Educação em 2005, quando o escândalo do mensalão estourou. Chamado pelo então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a presidência do PT para tentar tirar o partido da crise em que mergulhara depois que boa parte da sua cúpula foi pega usando recursos públicos para comprar apoio no Congresso.

Sete anos depois, Tarso vai mais uma vez na contramão da cúpula ao defender o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal como legítimo, em que todos tiveram direito de defesa, e aceitar que, "sem dúvida", estão sendo julgadas pessoas que cometeram ilegalidades.

O governador petista também acredita, ao contrário do ex-presidente Lula, que o julgamento teve influência, sim, nas eleições deste fim de semana, mesmo que o grau dessa influência possa variar.

O senhor foi chamado a assumir a presidência do PT quando estourou o escândalo do mensalão, com a obrigação de tentar reorganizar o partido. Sete anos depois, em meio a uma eleição municipal, como o senhor está vendo esse julgamento que chega agora a alguns dos nomes mais importantes do PT?

Essa questão do mensalão tem dois processos. Um é o judicial, que devemos tomar como um processo dentro do Estado de direito, democrático, cujo desenvolvimento e resultado têm que ser respeitados, sejam eles quais forem. Esse processo judicial foi feito dentro dos parâmetros completos da legalidade. Ninguém sofreu violência para depor, ninguém teve seu direito de defesa negado, nenhum juiz foi pressionado, seja pelo Estado, seja pela autoridade policial para tomar qualquer atitude. Então, este é um processo que deve ser tomado como um exemplo para o País. Em outras oportunidades isso não foi feito. O caso mais gritante é o processo sobre a compra de votos para reeleição de Fernando Henrique. O segundo aspecto é um processo paralelo de disputa política sobre os acontecimentos. E nesse sentido eu acho que há uma profunda desigualdade, que é o fato de 90% da grande mídia fechar uma posição favorável à condenação e fazer uma campanha sistemática de culpabilização de todos, sem qualquer tipo de reserva. Isso tem consequências políticas.

O senhor acredita na culpa das pessoas que estão sendo julgadas pelo Supremo?

Que tem pessoas que cometeram ilegalidades, não tenho nenhuma dúvida. Seria debochar da Justiça do País e do processo dos inquéritos policiais achar que todo mundo é inocente. O que eu critico é o fato que houve uma inculpação em grupo feita pela mídia, repercutindo inclusive na comunidade política como um todo. O meu partido é visto hoje, graças a essa campanha, como o partido do mensalão, e o PSDB não é visto como o partido que teria engendrado - e não estou dizendo que o fez - a compra de votos para reeleição do presidente Fernando Henrique.

Nessa reta final serão julgados José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, que têm ou tiveram um peso grande no partido. O senhor acredita na culpa deles?

Acho que tem uma pessoa que assumiu responsabilidades, que se chama Delúbio Soares. O Delúbio assumiu responsabilidades e atribuiu isso à existência de um caixa 2. Quanto ao José Genoino e ao José Dirceu, eu desconheço as provas. Não estou dizendo que são culpados ou inocentes, apenas que desconheço as provas para caracterizar a responsabilidade material dos dois.

O senhor avalia que o mensalão teve peso nos resultados dessas eleições municipais?

Teve, em diferentes circunstâncias, em diferentes regiões. Quando a gente fala que teve efeito no processo eleitoral, não quer dizer que tenha o mesmo efeito em todo o território e mesmo que nesse território tenha efeito uniforme. O que ocorre é que, em determinadas circunstâncias, as bases eleitorais dos partidos são mais ou menos atingidas de acordo com a sensibilidades locais. Um exemplo bem claro: aqui em Canoas (zona metropolitana de Porto Alegre) essa questão não teve efeito nenhum. Foi usada e não teve efeito nenhum. Mas aqui, na classe média de Porto Alegre, eu diria que sim. É uma classe média liberal, democrática, não é de esquerda e nem tem simpatia preliminar pela esquerda. Então, setores da classe média decidiram votar em outros setores de esquerda e centro-esquerda que não o nosso, motivados possivelmente pela influência do mensalão.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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