Como toda eleição, a de domingo fatiou o bolo do poder derivado do povo. É
preciso examinar as fatias e suas combinações para entender o jogo que elas
propiciarão, daqui para a frente.
O bolo tem algumas camadas. Em sua base está o total de votos obtidos por
partido. O PT tornou-se, agora, a legenda mais votada na eleição municipal, com
17,3 milhões de votos. Cresceu 4% em relação a 2008, superando ligeiramente seu
parceiro, o PMDB. Quem mais cresceu, porém, foi o PSB, que dobrou sua votação.
O PSDB manteve a terceira posição.
Na camada da distribuição das prefeituras, o PMDB conservou a primeira posição,
que lhe garante a condição de partido com a maior capilaridade, chegando ao
Brasil profundo. Entre 2004 e 2008 o partido aumentou em 13% esse capital,
passando de 1.060 para 1.207 prefeituras. Agora, perdeu um pouco, ficou com
apenas 1.016. Mas continua sendo um ativo valioso na formação de alianças. E
como o PMDB tem hoje uma aliança muito mais sólida com o PT, isso os favorecerá
em 2014.
Entre 2004 e 2008, o PT aumentou em 36% suas prefeituras, que passaram de 410
para 558. Agora, cresceu 11%: terá o comando de 626 executivos municipais. Mas
ficará na terceira posição, atrás do PSDB que, em 2008, havia sofrido um
encolhimento de 870 para 788 (9%). Perdeu algumas no caminho e agora terá 698.
O PSB, vedete da eleição de domingo, já havia experimentado um crescimento de
80% em 2008, quando passou de 174 para 314. Agora terá 434. Quem está
definhando é mesmo o DEM, que já havia encolhido 36,9% em 2008, quando suas
prefeituras caíram de 799 para 501. Agora, conquistou apenas 273.
A coalizão PT-PMDB, considerando apenas o primeiro turno, governará o maior
número de eleitores e uma maior fatia do PIB, mas essa avaliação não tem muito
sentido antes do segundo turno. A melhor visualização, por ora, é dada pela
conquista das capitais e das maiores cidades. O site Congresso em Foco fez um
levantamento do resultado nas 85 cidades (incluindo capitais) com mais de 200
mil habitantes. O PT conquistou oito prefeituras e disputará mais 22 no dia 28.
O PSDB já levou seis e disputará 16. O PMDB levou quatro e também está na disputa
em 16. O PSB ganhou em cinco e concorrerá em seis. As maiores fatias do bolo,
em todos os sentidos, foram entregues pelo eleitorado a estes quatro partidos.
Chávez e a democracia
Em eleição simultânea com a nossa, o povo venezuelano reelegeu o presidente
Hugo Chávez para seu quarto mandato consecutivo, cor 54,4% dos votos. E, com
isso, os adversários de Chaves pelo mundo, dentro e fora da Venezuela, voltarão
a dizer que não existe ali uma democracia. Formalmente, eles não têm razão:
Chávez foi sempre reeleito por maiorias indiscutíveis, como agora. Pode-se não
gostar do sistema de reeleições ilimitadas, mas é o que prevê a Constituição
daquele país. Fernando Henrique alterou a nossa para garantir apenas uma
reeleição. Lula foi tentado a propor nova mudança permitindo mais uma
reeleição. Tapou os ouvidos a esse canto das sereias amigas, conhecendo a força
do Minotauro, de Caríbdis e outros monstros que enfrentaria no revolto oceano
político.
Seguindo com a Venezuela, há liberdade partidária e a oposição política pode
disputar a alternância no poder. Há liberdade de imprensa, tanto que vários
jornais fazem oposição a Chávez, com razoável equilíbrio. A televisão privada
(Globovision) é que tem com ele uma beligerância aberta.
Chávez foi reeleito por conta das mudanças sociais, da redução da pobreza e da
desigualdade. Quando ele chegou ao poder, em 1998, a Venezuela tinha 11 milhões
de pessoas em estado de pobreza, sendo 4,5 milhões na pobreza extrema, vivendo
com menos de um dólar por dia. Agora, os pobres são apenas 9 milhões e os muito
pobres caíram à metade.
Mas há problemas, que derivam de seu estilo centralizador e de seu modo de
fazer política, valendo-se do aparelho de Estado. O centralismo não tem
permitido que surjam sucessores naturais, como ocorreu com Fidel Castro em
Cuba. Chávez venceu o câncer, mas não é eterno. Todas essas questões
continuarão exigindo o aprimoramento da democracia venezuelana. A oposição não
ganhou mas levará desta eleição sua melhor experiência. Capriles começou a se construir
como alternativa viável para a alternância que algum dia acontecerá.
Mulheres no comando
O número de mulheres eleitas para as prefeituras no primeiro turno de domingo
aumentou 31,5% em relação ao primeiro turno das eleições de 2008 mas, nas capitais,
apenas Teresa Surita (ex-Jucá), do PMDB, foi eleita — em Boa Vista. O
cumprimento da lei da cota foi quase satisfatório, com a maioria dos partidos
apresentando cerca de 30% dos candidatos do sexo feminino, o que representou um
aumento de 21,3% em relação a 2008. Com a apuração praticamente concluída, 663
municípios serão governados por mulheres: 12% dos prefeitos eleitos no domingo.
Em 2008, no primeiro turno, 504 mulheres conquistaram governos municipais
(9,12%). Segundo levantamento do Instituto Patrícia Galvão, o estado que elegeu
o maior numero de mulheres para o comando municipal foi Minas Gerais, com 71
eleitas, seguido por São Paulo (67), Bahia (64), Paraíba (49) e Maranhão (41).
O Acre foi o único estado que não elegeu nenhuma mulher para o cargo de
prefeito.
Fonte: Correio Braziliense
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