terça-feira, 9 de outubro de 2012

As fatias do poder - Tereza Cruvinel



Como toda eleição, a de domingo fatiou o bolo do poder derivado do povo. É preciso examinar as fatias e suas combinações para entender o jogo que elas propiciarão, daqui para a frente. 

O bolo tem algumas camadas. Em sua base está o total de votos obtidos por partido. O PT tornou-se, agora, a legenda mais votada na eleição municipal, com 17,3 milhões de votos. Cresceu 4% em relação a 2008, superando ligeiramente seu parceiro, o PMDB. Quem mais cresceu, porém, foi o PSB, que dobrou sua votação. O PSDB manteve a terceira posição.

Na camada da distribuição das prefeituras, o PMDB conservou a primeira posição, que lhe garante a condição de partido com a maior capilaridade, chegando ao Brasil profundo. Entre 2004 e 2008 o partido aumentou em 13% esse capital, passando de 1.060 para 1.207 prefeituras. Agora, perdeu um pouco, ficou com apenas 1.016. Mas continua sendo um ativo valioso na formação de alianças. E como o PMDB tem hoje uma aliança muito mais sólida com o PT, isso os favorecerá em 2014. 

Entre 2004 e 2008, o PT aumentou em 36% suas prefeituras, que passaram de 410 para 558. Agora, cresceu 11%: terá o comando de 626 executivos municipais. Mas ficará na terceira posição, atrás do PSDB que, em 2008, havia sofrido um encolhimento de 870 para 788 (9%). Perdeu algumas no caminho e agora terá 698. O PSB, vedete da eleição de domingo, já havia experimentado um crescimento de 80% em 2008, quando passou de 174 para 314. Agora terá 434. Quem está definhando é mesmo o DEM, que já havia encolhido 36,9% em 2008, quando suas prefeituras caíram de 799 para 501. Agora, conquistou apenas 273.

A coalizão PT-PMDB, considerando apenas o primeiro turno, governará o maior número de eleitores e uma maior fatia do PIB, mas essa avaliação não tem muito sentido antes do segundo turno. A melhor visualização, por ora, é dada pela conquista das capitais e das maiores cidades. O site Congresso em Foco fez um levantamento do resultado nas 85 cidades (incluindo capitais) com mais de 200 mil habitantes. O PT conquistou oito prefeituras e disputará mais 22 no dia 28. O PSDB já levou seis e disputará 16. O PMDB levou quatro e também está na disputa em 16. O PSB ganhou em cinco e concorrerá em seis. As maiores fatias do bolo, em todos os sentidos, foram entregues pelo eleitorado a estes quatro partidos.

Chávez e a democracia
Em eleição simultânea com a nossa, o povo venezuelano reelegeu o presidente Hugo Chávez para seu quarto mandato consecutivo, cor 54,4% dos votos. E, com isso, os adversários de Chaves pelo mundo, dentro e fora da Venezuela, voltarão a dizer que não existe ali uma democracia. Formalmente, eles não têm razão: Chávez foi sempre reeleito por maiorias indiscutíveis, como agora. Pode-se não gostar do sistema de reeleições ilimitadas, mas é o que prevê a Constituição daquele país. Fernando Henrique alterou a nossa para garantir apenas uma reeleição. Lula foi tentado a propor nova mudança permitindo mais uma reeleição. Tapou os ouvidos a esse canto das sereias amigas, conhecendo a força do Minotauro, de Caríbdis e outros monstros que enfrentaria no revolto oceano político. 

Seguindo com a Venezuela, há liberdade partidária e a oposição política pode disputar a alternância no poder. Há liberdade de imprensa, tanto que vários jornais fazem oposição a Chávez, com razoável equilíbrio. A televisão privada (Globovision) é que tem com ele uma beligerância aberta.

Chávez foi reeleito por conta das mudanças sociais, da redução da pobreza e da desigualdade. Quando ele chegou ao poder, em 1998, a Venezuela tinha 11 milhões de pessoas em estado de pobreza, sendo 4,5 milhões na pobreza extrema, vivendo com menos de um dólar por dia. Agora, os pobres são apenas 9 milhões e os muito pobres caíram à metade.

Mas há problemas, que derivam de seu estilo centralizador e de seu modo de fazer política, valendo-se do aparelho de Estado. O centralismo não tem permitido que surjam sucessores naturais, como ocorreu com Fidel Castro em Cuba. Chávez venceu o câncer, mas não é eterno. Todas essas questões continuarão exigindo o aprimoramento da democracia venezuelana. A oposição não ganhou mas levará desta eleição sua melhor experiência. Capriles começou a se construir como alternativa viável para a alternância que algum dia acontecerá. 

Mulheres no comando
O número de mulheres eleitas para as prefeituras no primeiro turno de domingo aumentou 31,5% em relação ao primeiro turno das eleições de 2008 mas, nas capitais, apenas Teresa Surita (ex-Jucá), do PMDB, foi eleita — em Boa Vista. O cumprimento da lei da cota foi quase satisfatório, com a maioria dos partidos apresentando cerca de 30% dos candidatos do sexo feminino, o que representou um aumento de 21,3% em relação a 2008. Com a apuração praticamente concluída, 663 municípios serão governados por mulheres: 12% dos prefeitos eleitos no domingo. Em 2008, no primeiro turno, 504 mulheres conquistaram governos municipais (9,12%). Segundo levantamento do Instituto Patrícia Galvão, o estado que elegeu o maior numero de mulheres para o comando municipal foi Minas Gerais, com 71 eleitas, seguido por São Paulo (67), Bahia (64), Paraíba (49) e Maranhão (41). O Acre foi o único estado que não elegeu nenhuma mulher para o cargo de prefeito.


Fonte: Correio Braziliense

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