A morte do líder venezuelano, Hugo Chaves, anunciada nesta terça-feira provocará a mesma comoção popular da morte de Getúlio Vargas, no Brasil, Peron, na Argentina ou do presidente Salvador Allende, no Chile. Trata-se do desparecimento da personalidade política latino-americana mais importante, depois de Fidel Castro (ainda vivo), de quem Chaves deveria se transformar em legatário e herdeiro.
A obra do chefe da revolução bolivariana pôs na ordem do dia a necessidade de uma política externa comum, independente e alinhada com o sul. Os logros dessa tentativa, independentemente das controvérsias, ensombreceu o prestígio internacional de Lula, como protagonista da unificação latino-americana. Chaves foi o político que vai se aproximou de Cuba e de Fidel. Foi o que levou mais longe a tentativa de inversão de prioridades tanto da política externa independente como na nacionalização, estatização e distribuição de rendas em seu país. De certa forma, influenciou a eleição de Evo Morales na Bolívia e de Rafael Correia no Equador. A presidenta argentina o tinha em grande prestígio. E a nossa dirigente nacional o declarou amigo do Brasil.
De toda maneira, era uma referência muito importante na mudança de orientação da política externa do subcontinente americano. A revolução bolivariana, como chamava Chaves, demarcou a linha divisória entre os países da zona de influência do dólar (e da ascendência norte-americana nesses países) e os países caracterizados por uma política externa independente, multilateral, sul-sul, como a do Brasil. Giro muito importante para o fortalecimento do MERCOSUL e da mudança dos nossos países nas relações internacionais. Deixamos de ser meros caudatários da política externa norte americana e passamos a ter voz ativa no cenário mundial.
É certo que tudo isso se deu num contexto onde a América Latina deixa de ser prioridade da política norte-americana, mais preocupada com a Ásia Central e o Oriente Médio. Mas até por isso mesmo abriu-se uma imensa janela de oportunidades para os países latino-americanos lutarem pelos seus interesses estratégicos e se unirem, apesar da diversidade existente entre eles.
O futuro da revolução bolivariana é o futuro do legado dessa política externa e vai depender muito dos esforços de cada um dos membros da aliança comercial e alfandegária sulamericana de levar adiante essa construção, até como homenagem ao líder venezuelano.
Michael Zaidan, sociólogo e professor da UFPE
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